Arquivo do mês: dezembro 2009

Pequeno recesso

Como nem só de poesia vivem os seres humanos, vou buscar o mar de Santa Catarina e seus deliciosos frutos para um rápido descanso de fim de ano. Pouco mais de uma semana. Deverei estar de volta no dia 10 de janeiro e retomarei imediatamente a gerência deste Banco da Poesia. No entanto, estarei atento a eventuais colaborações de nossos leitores e, sempre que for possível, procurarei inseri-las.

Deixo aqui meus votos de Paz, já transmitidos também no post anterior. Paz que também é resultado do trabalho realizado até agora e que quero dividir com o já grande número de colaboradores.

Obrigado a todos e que no próximo ano nos seja permtido divulgar ainda mais a Poesia, que é o verdadeiro pão da alma. Cleto de Assis

Oração a 2010

2010 que estás a chegar
tão cheio de esperanças, tal como teus irmãos passados,
venha até nós com certezas e realizações.
faze-nos atingir o caminho da Justiça, em todas as suas direções
e realiza o milagre da multiplicação dos pães
sem o auxílio mesquinho de astuciosas dádivas politicóides
mas alcançado por meio do Trabalho digno e recompensador.
Faze com que a Saúde seja também imperadora em todos os lares
e afasta principalmente as crianças das caliginosas névoas da tristeza
e da fome e da doença.
Acende a chama pentecostal do conhecimento
sobre todas as cabeças, por meio da nobreza da Educação e da alegria do Saber.
Livra-nos das promessas vazias dos homens e mulheres que querem nos liderar
e encaminha-os ao cometimento de ações sérias e consequentes
com total respeito ao imposto nosso de cada dia.
Não os deixes cair nas tentações das propinas
e não perdoa-lhes as suas ofensas, nem dá-lhes  a benção espúria da impunidade.
Unge-nos com o bálsamo da paciência
para que possamos suportar as falsidades, as descaradas mentiras,
os impropérios gramaticais dos horários eleitorais
e as ladainhas sem sentido dos salvadores da Pátria.

Amigo 2010, tu que vens com data certa para o exercício da Democracia
faze com que ela permaneça entre nós,
senhora que é da liberdade e da justiça social.
Ajuda-a a não ser usada para a prosperidade do demagogos
ou para o gozo dos déspotas.
Mostra aos pretensos donos do poder que só ela salva
e pode nos garantir o direito de opinião e de expressão
sem termos que nos submeter à censura dos donos das verdades
ou ao estulto absolutismo de um único partido.
No período eleitoral, faze que, quando houver ódio,
possamos também falar de amor sem nos envergonharmos;
quando houver ofensa, que ela seja sucedida pelo pacificação;
quando houver discórdia, que possamos remar a favor da união;
quando houver dúvida, que tenhamos de pronto o esclarecimento;
quando houver erro, que possamos chegar rápido à verdade;
quando houver desespero, ajuda-nos a manter a esperança;
quando houver tristeza, que se eleve a alegria;
quando houver trevas, que se faça a luz.

Sobretudo, aguardado 2010,
faze com que finalmente compreendamos o valor da paz e do trabalho
para que não precisemos mais suplicar por felizes anos novos.

Cleto de Assis – dezembro de 2009

Natal de Saramar

Vazio


A neve já cobre as uvas
para o natal dos úteis e puros.
As luzes já cobrem máscaras.
Todos são anjos.
A árvore já grávida,
abarca o berço vazio.
Onde era luz,
laços e brilhos
de presentes luzidios.
Em azáfama de vazios,
jaz a natividade.

Saramar Mendes de Souza

A ecológica Árvore de Cristal

Desde o último dia 9 uma árvore de natal com 12 metros de altura e feita de garrafas plásticas adorna o Paço da Liberdade (antiga Prefeitura Municipal) em Curitiba e ilumina suas noites. É a Árvore de Cristal, projeto da Fundação de Ação Social (FAS), presidida pela primeira dama Fernanda Richa, em parceria com a Coca-Cola, já em seu segundo ano.

Elaborada com 4 mil garrafas plásticas, com líquidos coloridos e seis mil lâmpadas, a árvore é espetáculo de luz e espírito natalino. Os demais componentes da árvore, como laços e guirlandas, também foram confeccionados com material das garrafas por grupos da terceira idade e por participantes do ProJovem.

O design é do arquiteto Fernando Canalli e todas as garrafas que integram o projeto foram coletadas pelo município e pelas comunidades que vivem perto das  margens dos rios, como iniciativa que contribui com o meio ambiente e ajuda a manter a cidade limpa.

A foto da praça foi recolhida no portal da Prefeitura e o belíssimo detalhe é de nossa amiga fotógrafa Lina Faria. Com sua sensibilidade, ela conseguiu até captar sutis raios luminosos vindos lá de cima.

Po falar em Paço da LIberdade, hoje eu quero visitá-lo para ver a exposição de Arnaldo Antunes, que materializa em quadros as suas teorias sobre Poesia Visual. Ainda falaremos muito sobre isto, aqui no Banco da Poesia.

Foto Lina Faria

Paz natalina

Hoje, domingo, 20 de dezembro de 2009, fez um belo domingo em Curitiba. Sol e cheiro do Natal que se aproxima.

O Banco da Poesia recebeu duas contribuições apropriadas à época natalina (ver abaixo). Manoel de Andrade relembra um poema de 2002, no qual dirige seus agradecimentos pelos presentes que a vida lhe reservou. Já Vera Lúcia Kalahari imagina, lá de Portugal, todo mundo reunido junto ao presépio cristão e faz um desafio inquietante. Aproveitei a onda e postei uma croniqueta, onde reflito sobre a possibilidade — utópica, é claro — de todos os dias poderem ser dias de Natal.

Tudo para reiterar nossos votos de um ótimo Natal e um ano de 2010 (gente, já estamos vencendo a décima parcela deste Século XXI!) bastante positivo para toda a sociedade humana e, evidentemente, para a grande Gaia que nos abriga.

Para ilustrar, uma foto do Natal do HSBC, tradição iniciada por seu antecessor Bamerindus, a nota máxima do Natal curitibano. Para quem não conhece o evento: imagine uma criança em cada janela do antigo Palácio Avenida, a compor um maravilhoso coral natalino. Cleto de Assis

Manoel de Andrade nos oferece sua prece natalina

Diz a história — ou histórias que se contam em volta dela — que Albrecht Dürer, pintor alemão (Nurembergue, 1471–1528), quando jovem, era bastante pobre, mas ansiava em se tornar um grande artista, assim como seu amigo, Franz Knigstein, com o qual dividia seus sonhos em direção à arte. Mas, para se sustentarem, tinham que trabalhar em tarefas mais rudes, incompatíveis com os estudos de pintura. Teriam chegado, então, a um acordo: lançariam a sorte e o perdedor continuaria trabalhando para financiar os estudos do outro.

Dürer ganhou e continuou a estudar, enquanto Knigstein permaneceu no trabalho. Um dia (toda história tem um dia importante) o pintor voltou à casa e encontrou-o rezando pelo sucesso do amigo, mesmo que ele, já com as mãos calejadas pelo trabalho bruto, não pudesse mais manipular os instrumentos de pintura. Albrecht Dürer, então, se comoveu com a cena e decidiu rapidamente gravá-la em um esboço que ficou conhecido como Mãos em Prece.

Na verdade, Dürer era filho de um abastado ourives e aprendeu com o pai o ofício, tornando-se também um exímio pintor, gravador e ilustrador. Com quinze anos tornou-se aprendiz do pintor e impressor alemão Michael Wolgemut (1434 – 1519), ao mesmo tempo em que ensaiava as técnicas de gravura em metal e em madeira. Com 31 anos de idade foi nomeado pintor da corte de Maximiliano I, da então Germânia. Após a morte do imperador, em 1520, partiu para a Holanda, onde conviveu com artistas e intelectuais do Renascimento, como Erasmo de Roterdam.

É bastante provável, portanto, que a história de sua obra Mãos em Prece não passe de uma lenda. Em verdade, o desenho é apenas um esboço de mãos, feito por Dürer quando ele recebeu uma encomenda de Jakob Heller (1460-1522), um rico comerciante, prefeito de Frankfurt e membro do conselho da cidade, para pintar um
retábulo com o tema da Assunção e Coroação da Virgem Maria.

Dürer terminou o projeto em detalhes, copiado exatamente pelos pintores encarregados da execução do retábulo. Apenas o painel central, representando a Assunção e Coroação da Virgem, foi executado pelo próprio
Dürer. Ele trabalhou durante 13 meses sobre a pintura final, determinado a torná-la “tão boa e bela, que continuará a ser brilhante e fresca durante quinhentos anos.”

Infelizmente, o painel central do retábulo foi vendido, um século mais tarde, pelos dominicanos ao duque Maximiliano da Baviera e, em 1729, foi destruído por um incêndio. Uma cópia de 1614 da obra, feita por Jobst Harrich de Nuremberg (1580-1617), sobreviveu. Também se salvaram dezoito esboços preliminares preparados por Dürer para a pintura final, entre os quais Mãos em Prece.

Mas, como dizem os italianos, se non é vero, é ben trovato. Afinal, uma oração, feita com boa intenção, só pode ter resultados positivos. Prece é meditação, é introspecção, é reflexão, é momento de concentração interior, é tentativa de contato com outras energias positivas. Assim, as mãos postas de Dürer, desenhadas apenas como um esboço, sem acurácia pictórica, tornaram-se mais conhecidas do que muitas de suas obras primas.

Lembrei-me delas quando li o poema de Manoel de Andrade, Prece da Criatura, um ato de reconhecimento e humildade ante a grandeza da vida, bastante apropriado para esta  época natalina. Ele nos envia seu trabalho como cumprimento a seus amigos e leitores do Banco da Poesia.

A Prece da Criatura

Manoel de Andrade

Eu te agradeço, Senhor,
ser filho do teu amor
e herdeiro do universo.
Ser cantor dessa beleza,
ter um lugar nessa mesa,
pelo sabor do meu verso

Ó Senhor, muito obrigado,
pelos  pais bons e honrados,
e a lição da pobreza.
Pelo café com farinha,
por tudo que eu não tinha,
e que fez minha riqueza

Pelo meu corpo perfeito,
a poesia em meu peito
e os anos da minha idade.
Por todo dever cumprido,
pelo amparo recebido
e pela imortalidade.

Eu te agradeço também
pela semente do bem
plantada no meu pomar.
Pela doçura desse fruto,
não ter me tornado um bruto
e ter aprendido a amar.

Pela água da minha fonte,
pela linha do horizonte
e um sonho de marinheiro.
Pelo meu mar de criança,
e o meu barco de esperança
percorrendo o mundo inteiro.

Pelo pão, pelo abrigo,
pela dádiva de um amigo,
e o abraço imperecível.
Te agradeço com veemência
esta paz na consciência
e a minha fé invencível.

Pela luz que me ilumina
desde a antiga Palestina
na alegria e na dor.
Por quem sou, pelo que sei,
por Moisés trazendo a lei,
por Jesus trazendo o amor.

Eu te agradeço, Senhor,
sobretudo pela dor
quando ensina uma lição.
Ninguém paga sem dever
e a lei obriga a colher
o efeito da nossa ação.

Pela sapiência contida
no pergaminho da vida
e pela civilização.
Te agradeço a minha parte,
pela ciência, pela  arte,
e pela Grécia de Platão.

Por Cabral no rumo certo,
pelo Brasil descoberto,
meu orgulho de cidadão.
Pelo herói da Inconfidência,
o grito da Independência
e a benção da Abolição.

Pelas lições da História,
pelo povo e a sua glória
na busca da liberdade.
E pela humanidade inteira,
quando erguer sua bandeira
pela paz e a verdade.

Grato sou por ter um sonho,
sonhar com um mundo risonho
numa paz contagiante.
Ver este Brasil fecundo
como o coração do mundo
em um porvir deslumbrante.

Te agradeço o bom combate,
e ter encarado esse embate
com o coração despojado.
Com tua luz nos meus passos,
a fraternidade em meus braços
e um sonho partilhado.

Contigo, Senhor, sou forte,
tenho um fanal, tenho um norte,
razão, sensibilidade.
Eu moro na melodia,
na música e na poesia
e no farol da verdade.

Muito obrigado Senhor
pelo trabalho e o suor,
pelo que dei e recebi.
Quando chegar meu momento,
se eu tiver merecimento.
me leva pra junto de ti.

Curitiba, dezembro de 2002

Vera Lúcia lança um desafio natalino

Hoje resolvi apresentar-vos um trabalho diferente. Nesta época natalícia, que todos vivem o nascimento de Cristo, gostaria de vos conhecer um pouco melhor. Por isso, aqui vai o meu desafio.

Pieter Brueghel, o Velho (1525-69) – 1564, painel de madeira, 111 x 83.5 cm, National Gallery, Londres

Eles vieram de longe, do Oriente… Seguindo a estrela mensageira, encontraram no deserto os caminhos que conduziam a Jesus.

Menino-Deus, pedacinho de gente, dormindo sobre palhas…

A História conta que levaram presentes dignos do rei mais poderoso da terra. Não conta, isso não, que foi feito do ouro, do incenso e da mirra… E da estrela que guiou os passos dos três Reis Magos, Baltazar, Gaspar e Melchior…

Perguntas que deixaram de ser, porque cada vez que surge um presépio, uma manjedoira e uma estrela, a história do Menino repete-se, como se cada um de nós tivesse estado presente nessa noite distante de Belém.

E se assim tivesse acontecido? Se a sua presença fosse ali, bem perto da manjedoira? Qual teria sido o seu presente para Jesus, SE VOCÊ FOSSE REI MAGO?

Vera Lúcia Kalahari, Portugal, dezembro de 2009

Croniqueta de Natal

E se todos os dias fossem Natais?
Se dos pensamentos e das bocas de todas as pessoas
saíssem desejos de Feliz Dia e Bom Próximo Amanhã?
E se nos esforçássemos
para que o pão nunca faltasse à mesa de alguém?
E se os realmente desamparados
sempre encontrassem mãos solidárias
dispostas a reerguê-los e a lhes ensinar a conduzir o barco da vida?
E se aprendêssemos a guiar a nau
sem dependência de timoneiros
e de remos mais poderosos que nossa própria vontade de navegar?
Ah, se a tal fraternidade reservada apenas para festas
Se regozijasse todos os dias
e enchesse os corações de alegria permanente…
Como seria bom se nenhuma criança sofresse fome,
frio, tristeza e enfermidades em qualquer dia do ano.
Maravilhoso, mesmo, seria
amar o próximo como a nós mesmos
sem paixões dolorosas,
sem batalhas cruentas,
sem batalha alguma,
sem lágrimas ou lamentações.
E se o erro
— sim, aquele desvio que as sacrossantas pessoas jamais perdoam —
fosse considerado apenas como um tropeço de aprendizado,
uma falha nossa, a que sempre se permitisse remediação e reedição melhorada?
E se aceitássemos que a idéia diferente da nossa
não fosse um antagonismo
mas possibilidade de agregação
e gênese de melhores sonhos e realizações?
E se todos os presentes
os mais baratos das feirinhas e os mais caros dos shopping centers
fossem substituídos por mãos estendidas
e flores nunca arrancadas dos jardins?

Mas enquanto o céu modorrento, insosso e inodoro não vem até nós,
enquanto não transite em julgado a condenação a eternas aulas de lira
e a demorados passeios sem rumo por macias nuvens,
deixemos pelo menos que haja um único dia
em que os abraços sejam realmente amplos, sinceros e energizantes
e que o simbolismo do nascimento
de um menino ainda sem certidão de nascimento
faça parte de nossas vidas
e que sejamos todos irmãos,
mesmo que durante um só feriado.

Cleto de Assis, dezembro 2009

Araxá nos descobriu: Cássio Amaral também envia depósitos

Quem, em Araxá,
procurar da Poesia o Banco,
Axará?

O oeste mineiro nos descobriu. E nós estamos descobrindo a poesia do oeste de Minas.  Junto aos comentários sobre os poemas de Rafael Nolli, com L. antes, chegou mais uma proposta de abertura de conta no Banco da Poesia de Cássio Amaral. Também poeta jovem, professor e, como se vê nos seus trabalhos, em busca de novas linguagens, mesmo quando utiliza a antiga estrutura haicaiana. Saudamos o novo correntista, professor  de História, Filosofia e Sociologia no ensino médio. Ele nasceu e vive em Araxá, Minas Gerais. Autor dos livros Lua Insana Sol Demente (2001), Estrelas Cadentes (2003), Sem Nome (2006) e Sonnen (2008). Participou das coletâneas de autores blogueiros Corpo e Alma em Verso e Prosa (2006) e Trilhas (2008), organizadas por Euza Procópio Noronha. Tem poemas publicados nos endereços eletrônicos Diversos Afins, Germina Literatura, Revista Lasanha e site de Antonio Miranda.

Seu blog se chama enten katsudatsu . Nossas boas vindas a mais este araxaense e sua poesia.

Metafísica dos coiotes I

Rasgo o trago do imprevisto
que distrai o tempo que passa rápido.
Canto o cântico dos malditos que me cai.
Tudo vaza, tudo explode.
A noite é lenta quando lírios conspiram
contra a sorte perdida.
Lâminas que a incerteza jura fatiar para a salada
de nepotismo barato e regular da gargalhada da noite.
Bebo as estrelas virgens,
Como os meteoros platônicos,
latindo, uivando pra lua prostituta
que cavalga numa nuvem
o sexo santo dos devassos.

A Morte do Poeta


O poeta morreu
Balbuciando formigas em seus versos
Ficou obcecado por metáforas
Cuspiu pleonasmos pretéritos

O poeta morreu
Tentando achar seu caminho
Disse imperfeições nas metonímias
Atirou-se do nono  andar

O poeta morreu tentando desmontar a bomba atômica
Depois de ter punhetado Descartes buscando a verdade ao contrário
Verter-se em Paganini tocando seu violino diabólico
Esvoaçando flores carcomidas por aliterações fingidas

O poeta morreu
Nos precipícios lunáticos de toda a imperfeição
Uivando diante do absurdo da sua própria voz
Silenciada no êxtase da loucura.

Três Kai-kais

Hai-cães uivantes

um trovão instiga o uivo
a noite cai em mosaico
no verso latido de um pária

tirar leite das pedras
pisar na velocidade da luz
extrair a raiz sisuda do futuro.

Catador

catando palavras
desvirginando a métrica
endoidando a sintaxe.

________

Ilustrações: C. de A.

Sabe onde fica Quissico? Mia Couto sabe.

Quissico


1. Deixei o sol
na praia de Quissico
De bruços
sobre o Verão
eu deixei o Sol
na extensão do tempo
Molhando, quase líquido,
o dia afundava
nas fundas águas do Índico
A terra
se via estar nua
lembrando, distante,
seu parto de carne e lua

2. Não o pássaro: era o céu
que voava
O ombro da terra
amparava o dia
A luz
tombava ferida
pingando
como um pulso suicida
em minhas ocultas asas

Mia Couto – Moçambique (ver mais aqui)