Konstantin Simonov, poeta, escritor e dramaturgo russo, nasceu em novembro de 1915 na cidade de São Petersbugo (Petrogrado, de 1914 a 1924, e Leningrado, de 1924 a 1991). Em 1931 a sua família mudou-se para Moscou e Konstantin começou a trabalhar como mecânico numa fábrica. Os primeiros poemas surgem nessa época, publicados em alguns jornais moscovitas. Entra para o Instituto Gorki de Literatura, interrompendo os estudos para cumprir serviço militar como correspondente de guerra. Escreve peças de teatro, romances, reportagens e livros de poemas inspirados na temática da guerra. Depois da guerra, ocupou alguns cargos importantes que abandonou para se dedicar por inteiro à sua obra. Morreu em Moscou no dia 28 de Agosto de 1979.
Espera por mim, de sua autoria, é um dos mais conhecidos poemas russos. Foi escrito em 1941, logo após a invasão de Hitler na Rússia. No verão daquele ano, Simonov tinha 25 anos e, apesar das suas origens aristocráticas, já era um bem sucedido poeta e dramaturgo soviético. Ele era apaixonado pela jovem atriz Valentina Serova. Quando Hitler atacou, Simonov recebeu ordens imediatas para avançar para a frente como correspondente de guerra. Valentina esteve com ele na estação.
O comboio da tropa levou-o para oeste, em direção à fronteira, como ele imaginava. Mas as tropas alemãs já haviam penetrado na Rússia e o trem nunca chegou a seu destino. Durante horas, Simonov foi exposto à brutal e caótica realidade da guerra. Simonv pensou que não iria sobreviver.
Simonov casou-se com Valentina em 1943. Mas não foram felizes, como poemas posteriores registraram. A personalidade volúvel de Valentina decepcionou Simonov e eles se separaram em 1957. Seus poemas subsequentes continuaram a história de um jovem homem exposto simultaneamente a todos os perigos da guerra, a uma paixão e, finalmente, a um infeliz caso de amor – e à súbita e dramática elevação como celebridade nacional.
O poema de Konstantin Simonov (em outras versões também intitulado Espera por mim) é aqui publicado por sugestão de nosso amigo e colaborador Manoel de Andrade.
Espera-me
xxxxxxxxxxxxxA Valentina Serova
Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.
Espera-me pelas manhãs vazias,
nas tardes longas e nas noites frias,
e, outra vez, quando o calor voltar.
Ai, nunca deixes de me esperar!
Espera-me, ainda que, aos portais,
as minhas cartas já não cheguem mais.
Ainda que o Ontem seja esquecido
e o Amanhã já não tiver sentido.
Espera-me depois que, no meu lar,
todos se cansem de me esperar.
Até que o meu cachorro e o meu jardim
não mais estejam a esperar por mim!
Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.
Não dês ouvidos nunca, por favor,
àqueles que te dizem que o amor
não poderá os mortos reviver
e que é chegado o tempo de esquecer.
Espera-me, ainda que os meus pais
acreditem que eu não existo mais.
Deixa que o meu irmão e o meu amigo
lembrem que, um dia, brincaram comigo
e, sentados em frente da lareira,
suponham que acabou a brincadeira…
Deixa-os beberem seus vinhos amargos
e, magoados, sombrios, em gestos largos,
falarem de Heroísmo ou de Glória,
erguendo vivas à minha memória.
Espera-me tranquila, sem sofrer.
Não te sentes, também, para beber!
Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.
Esperando-me, tu serás mais forte;
sendo esperado, eu vencerei a morte.
Sei que aqueles que não me esperaram
– que gastaram o amor e não amaram –
suspirando, talvez digam de mim:
“Pobre soldado! Foi melhor assim!”
esses, que nada sabem esperar,
não poderão jamais imaginar
que das chamas eternas me salvaste
simplesmente porque me esperaste!
Só nós dois sabemos o sentido
de alguém poder morrer sem ter morrido!
Foi porque tu, puríssima criança,
tu me esperaste além da esperança,
para aquilo que eu fui e ainda sou,
como nunca, ninguém, me esperou!
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Hélio do Soveral Rodrigues de Oliveira Trigo, mais conhecido como Hélio do Soveral , nasceu em Setúbal, Portugal, em 1918, e faleceu a 21 de março de 2001, em Brasília.Foi radialista e escritor infanto-juvenil brasileiro. Hoje não é lembrado nem reconhecido, mas publicou dezenas de livros que se tornaram muito populares nas décadas de 1970 e 1980. É dele a tradução do poema Espera-me para o Português. Sua versão é provavelmente a melhor publicada em nossa língua.
Obrigado Cleto.
Diante da excelênciada tua pesquisa, da visualidade gráfica e do teu texto, a minha sugestão é um detalhe irrelevante.
Hélio do Soveral: é preciso fazer justiça à sua arte de escrever.
parabéns ao Manoel de Andrade, que sugeriu, e ao Cleto, que publicou. admiro muito a literatura russa, mas leio mais contos e teatro, não conhecia nenhum poeta. essa atmosfera triste me encanta muito. obrigada por me apresentarem 🙂
agora posso fazer um comentário pop? vai dizer que esse poema não combina com uma trilha sonora como a “Unchained Melody” do Elvis Presley? hehe
abraço e bom final de semana!!
Deborah
Isso não é um simples poema é uma obra de arte.
Tenho comigo guardado uma folha e nela datilografado essa coisa maravilhosa, que copiei de um caderno de uma amiga a mais de 30 anos.
Por vezes busquei na net e não tive exito.
Hoje, feliz, pude encontrá-lo, bem como dados de seu autor e da companheira que o inspirou.
Parabéns.
Osvaldo
Tenho Guardado este poema há anos, de tanto ler já o decorei.
Verdadeira obra de arte. Me encantou desde a primeira vez que lí.
Desde minha primeira leitura me levou a questionar minha espera.
Já o tinha esquecido e hoje inexplicávelmente encontrei, num dia em que minha alma encontra-se muito triste.
Belissimo poema.. assim como a história por trás dele.
É esplendido, do começo ao fim.
Parabéns pela postagem.. não o conheçia ainda.
Raridades como esta mereçem ser lembradas e divulgadas.
😉
Ouvi este poema uma uníca vez, nos anos 60, quando adolescente, morava em Machado MG. declamado (lido) por um locutor da Radio Difusora de Machado. Nunca mais ouvi e várias vezes procurei sem sucesso.
Nunca me esqueci destes dois versos.
“Espera-me. Até quando, não sei.
Um dia, voltarei.”
e
” Deixa que o meu irmão e o meu amigo
lembrem que, um dia, brincaram comigo
e, sentados em frente da lareira,
suponham que acabou a brincadeira…”
Parabens por te-lo publicado.
Grato, Wisley, pelo comentário. Este poema é bastante admirado, apesar de pouco divulgado, na atualidade. Que bom que o Banco da Poesia está podendo levá-lo a tanta gente sensível que continua a receber o recado da sentida recordação dos terríveis tempos de guerra.
Há muinto procurava por este poema, gostei muito de encontrá-lo. obrigado
Poema lindissimo, sinto-me voltando a minha adole`scencia quando o li pela primeira vez.
Sou a única filha de Helio do Soveral. Quero agradecer pelos elogios dados a meu pai. Realmente tenho varios poemas dele e traduções realizadas por ele. Quem sabe, com o interesse de voces, nós conseguimos torná-lo mais conhecido? Em tempo; ele gostava tanto de poesia que meu nome foi inspirado no poema ANNABEL LEE de Edgar Allan Poe, de quem era um grande admirador. Saudações a todos. ANABELI TRIGO.
Enorme a minha satisfação em receber seu comentário, Anabeli. O nome de Hélio do Soveral povoou o meu tempo de criança, que teve no rádio parte de sua educação social. Recebo a sua idéia de tornar, com nosso auxílio, ainda mais conhecido o nome de seu pai como uma tarefa honrosa, além de gratificante. Podemos começar com uma página especial no Banco da Poesia e publicar seus poemas e mais informações sobre ele. Aliás, li na Internet que seus livros estão esgotados, não foram reeditados e só são encontrados, atualmente, em sebos. É preciso mostar sua obra para as novas gerações.
Tenho este poema em uma folha datilografado que ganhei de uma amiga de Tanabi,interior de São Paulo, no final dos anos 60 . É lógico que de tanto ler decorei. No pedaço de papel que tenho está escrito autor desconhecido. Hoje procurando encontrei o nome do verdadeiro autor e matei a saudade . Me ví novamente adolescente , me senti feliz, muito feliz.
Osasco,20 de agosto de 2.011
Quiteria de Lourdes
Como tantos outros relatos acima , também esse poema fez parte de minha vida ! Conheci-o na adolescência , sempre soube-o de cor e o recitava aos meus alunos em sala de aula . Não conhecia sua real origem ( o amor do correspondente de guerra pela atriz ) .Fiquei muito feliz em poder encontrá-lo e participar desses comentários que ” lavam ” nossa alma deixando-a mais terna e mais feliz ! Um grande abraço a todos.
Araçatuba , 10 de junho de 2012
Celina
j.c.naires@terra.com.br
Maravilhaaa… !!! Nem acredito ainda.. !! Há mais de 50 anos, um namorado, militar, viajou deixando comigo esse belíssimo poema. Ele, o namorado, se perdeu no tempo; mas o poema, de tão lindo guardo comigo até hoje, amarelado, fragmentado com uma parte estragada pela ação do tempo; porém, ainda conserva os nomes do autor, e tradutor. Hoje, tive a felicidade de buscar e encontrar, além de, “voltar no tempo” e me emocionar… Obrigada !! 🙂
Soledad Chagas
Paulo Afonso – BA – 22 de Setembro de 2013
Querida Soledad Chagas , que bom que você ficou feliz , só hoje encontrei sua postagem ! A parte que mais me tocou : ” … esperando-me , tu serás mais forte .. sendo esperado vencerei a morte .. pois sei que aqueles que não me esperaram , que gastaram o amor , mas não me amaram …. foi porque tu puríssima criança , tu me esperaste além da esperança .. por aquilo que fui e ainda sou como nunca ninguém me esperou !!!! ” … lindo ! poema inesquecível !