No último sábado fomos surpreendidos pela morte de Antonio Olinto, escritor, poeta, ensaísta de Ubá, Minas Gerais. O Banco da Poesia faz sua homenagem a mais um poeta que se retira e parte para merecido descanso junto a Apolo e Atena. Com certeza, foi recebido no Monte Parnaso, em festa organizada por Dionísio e animada pelas Musas.
Por aqui, Antonio Olinto nos deixou extensa obra (ver abaixo) e um enorme exemplo de dedicação às letras. Fazemos nossa homenagem ao poeta com quatro poemas de sua autoria.
Morre aos 90 anos o escritor e acadêmico Antônio Olinto

O escritor em recente evento em sua cidade natal, Ubá, MG
O escritor, acadêmico e ensaísta Antônio Olinto, que ocupava a cadeira número oito da Academia Brasileira de Letras (ABL) morreu na madrugada de sábado, 12 de setembro, no Rio de Janeiro, de falência múltipla dos órgãos.
Ele morreu em casa, por volta das 4h30, em Copacabana, Zona Sul da cidade. O corpo do acadêmico foi velado no prédio da ABL, no centro, e
sepultado no Mausoléu da Academia, no Cemitério São João Batista, às 16h deste sábado.
O presidente da ABL, Cícero Sandroni, determinou luto oficial de três dias na Academia, que, na próxima quinta-feira realizará a sessão solene de saudade, quando será declarada aberta a vaga da cadeira número oito.
O escritor e ensaísta foi casado com a também escritora Zora Seljan, falecida no Rio em 2006, e não teve filhos. Sua obra abrange romance, poesia, ensaios, análise política e crítica literária. Após decretada vaga a cadeira número oito, haverá prazo de 30 dias para o registro de candidaturas à vaga de Olinto e, ao final deste tempo, será marcada a data para a eleição do novo acadêmico.
Entre as muitas obras do escritor, estão o romance A casa da Água, de 1969, e livros de poesia como Presença, O Homem do Madrigal, Nagasaki e O Dia da Ira.
(Correio do Brasil, RJ)
Biografia
Antonio Olinto (nome completo: Antonio Olyntho Marques da Rocha, nasceu em 1919, em Ubá, e foi batizado no Piauí, Minas Gerais) estudou Filosofia e Teologia nos seminários católicos de Campos, Belo Horizonte e São Paulo. Tendo desistido de ser padre, foi durante 10 anos professor de Latim, Português, História da Literatura, Francês, Inglês e História da Civilização, em colégios do Rio de Janeiro. Publicou então seu primeiro livro de poesia, Presença. Foi secretário do “Grupo Malraux” tendo organizado a 1a. exposição de poesias, montada na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Juntamente com sua atividade de professor, ingressou no setor publicitário e no jornalismo. Seu livro Jornalismo e Literatura foi adotado em cursos de jornalismo em todo o Brasil. Da mesma época é seu livro de ensaios o Diário de André Gide. Crítico literário de O Globo ao longo de 25 anos, colaborou em jornais de todo o Brasil e de Portugal. Convidado para as comemorações do Cinqüentenário do Prêmio Nobel em 1950, fez então conferências nas universidades de Estocolmo e Uppsala e entrevistou Willian Faulkner, Bertrand Russell e Per Lagerkvist. Em 1952, a convite do Departamento de Estado dos Estados Unidos, percorreu 36 estados norte-americanos fazendo conferências sobre cultura brasileira. Teve publicados na década de 50 quatro volumes de poesia e dois de crítica literária.
Nomeado Diretor do Serviço de Documentação do Ministério de Viação e Obras Públicas, ali lançou a Coleção Mauá, de livros técnicos, promoveu Salões de pintura dedicados a obras que privilegiassem ferrovias, estradas e os caminhos do mar e dirigiu a revista Brasil Constrói, redigida em 4 idiomas. Data dessa época o lançamento de mais de trinta concursos literários ligados a livros (exemplos: as melhores vitrines com livros, cartilhas, contos esportivos), culminando com o lançamento do Prêmio Nacional Walmap, considerado o pioneiro dos grandes prêmios literários do país.
Nomeado Adido Cultural em Lagos, Nigéria, pelo governo parlamentarista de 1962, em quase três anos de atividade, fez cerca de 120 conferências na África Ocidental, promoveu uma grande exposição de pintura brasileira sobre motivos afro-brasileiros, colaborou em revistas nigerianas, enfronhou-se nos assuntos da nova África independente e, como resultado, escreveu uma trilogia de romances – A Casa da Água, O Rei de Keto e Trono de Vidro – hoje traduzidos para dezenove idiomas (inglês, italiano, francês, polonês, romeno, macedônio, croata, búlgaro, sueco, espanhol, alemão, holandês, ucraniano, japonês, coreano, galego, catalão, húngaro e árabe) e com mais de trinta edições fora do Brasil. Seu livro Brasileiros na África, de pesquisa e análise sobre o regresso dos ex-escravos brasileiros ao continente africano, tem sido, desde sua publicação em 1964, motivo de teses, seminários e debates. De 1965 a 1967 foi Professor Visitante na Universidade de Columbia em Nova York, onde ministrou um curso sobre Ensaística Brasileira. Na mesma ocasião, fez conferências nas Universidades de Yale, Harvard, Howard, Indiana, Palo Alto, UCLA, Louisiana e Miami. Escreveu uma série de artigos sobre a Escandinávia, o Reino Unido e a França.
Em 1968 foi nomeado Adido Cultural em Londres, onde desenvolveu uma atividade incessante, através de conferências e um mínimo de 100 exposições ao longo de cinco anos.
Membro do PEN Clube do Brasil, ajudou a organizar três congressos do PEN Internacional no Brasil: em 1959, 1979 e 1992. Passou a participar também das atividades do PEN Internacional, com sede em Londres, tendo sido eleito, no começo dos anos 90, para o cargo de Vice-Presidente Internacional. Na qualidade de “Visiting-Lecturer” deu vários cursos de Cultura Brasileira na universidade inglesa de Essex.
Dirigiu e apresentou os primeiros programas literários de televisão no Brasil na TV Tupi, e em seguida nas Tvs Continental e Rio. Fez conferências sobre cultura brasileira em universidades e entidades culturais em Tóquio, Seul, Sidney, Luanda, Maputo, Dacar, Lomé, Porto Novo, Lagos, Ifé, Warri, Abidjan, Tanger, Arzila, Buenos Aires, Lisboa, Coimbra, Porto, Madri, Santiago, Barcelona, Lion, Paris, Marselha, Milão, Pádua, Veneza, Bérgamo, Florença, Roma, Belgrado, Zagreb, Bucareste, Sófia, Varsóvia, Cracóvia, Moscou, Estocolmo, Copenhague, Aarhus, Londres, Manchester, Liverpool, Colchester, Newcastle, Edimburgo, Glasgov, St. Andrews, Oxford, Cambridge, Bristol, Dublin.
Conheceu, em 1955, a escritora e jornalista Zora Seljan, com quem se casou. A partir de então, os dois trabalharam juntos em atividades culturais e literárias. Quando Antonio Olinto foi crítico literário de O Globo, Zora Seljan assinava a crítica de teatro no mesmo jornal, sendo que às vezes as duas colunas saiam lado a lado na página. Antes de os dois seguirem para a Nigéria, já Zora havia escrito a maioria de suas peças de teatro afro-brasileiras, das quais, mais tarde, em Londres, uma delas, Exu, Cavalheiro da Encruzilhada, seria levada em inglês por um grupo de atores ingleses e americanos, sob a direção de Ray Shell, que participara da produção de Jesus Christ Superstar. Na Nigéria, Zora Seljan foi leitora na Universidade de Lagos. De volta da África, Antonio Olinto publicaria um relato de sua missão ali, Brasileiros na África; Zora Seljan lançaria dois livros: A Educação da Nigéria e No Brasil ainda tem gente da minha cor?. Em 1973, os dois fundaram um jornal em Londres e em inglês, The Brazilian Gazette, que vem existindo continuamente desde então.
Recebeu em 1994 o “Prêmio Machado de Assis”, por conjunto de obras, da Academia Brasileira de Letras, a mais alta laúrea literária do Brasil.
Antonio Olinto e Zora Seljan foram eleitos para o conselho fiscal do Sindicato dos Escritores, em 7 de maio de 1997.
Em 31 de Julho de 1997, foi eleito para Academia Brasileira de Letras na Cadeira nº 8, sucedendo o escritor Antonio Callado. Foi eleito para o cargo de Tesoureiro nas gestões de 1998, 1999 e 2000 e também Diretor das Publicações dos mesmos anos. Tem uma Biblioteca em Bucareste com seu nome: Biblioteca Antonio Olinto.
Foi nomeado por ato do Prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, para o cargo de Diretor Geral do Departamento de Documentação e Informação Cultural, da Secretaria das Culturas, dirigida por Paulo Alberto Moretzsohn Monteiro de Barros (o Artur da Távola). Em sua gestão, inaugurou duas bibliotecas em comunidades carentes, como manteve as 23 bibliotecas municipais em prédios fixos.
Em 2003 foi convidado para ser Presidente da Comissão Nacional das Comemorações do Centenário de Ary Barroso, que foi celebrado com várias comemorações pelo país e pelo exterior. Para homenagear Ary Barroso, Antonio Olinto lançou com grande estrondo na ABL o livro Ary Barroso, a história de uma paixão, que foi apresentado em várias capitais e em sua cidade natal, Ubá.
No dia 17 do mês de julho de 2003 apresentou seus quadros naif no Shopping Cassino Atlântico, juntamente com o lançamento de seu livro Ary Barroso.
Sua obra abrange poesia, romance, ensaio, crítica literária e análise política e três dos seus livros foram traduzidos para o romeno – Copacabana, tradução romena de , Editura Univers, 1993.; Scurt? Istorie a Literaturii Braziliene (1500-1994), Editora ALLFA, 1997; Timpul Paiatelor, Editora Univers, Bucaresti, 1994. As três obras foram trauzidas por Micaela Ghitescu. (Academia Brasileira de Letras)
Bibliografia
Poesia
- Presença – Editora Pongetti, 1949
- Resumo – Livraria José Olympio Editora, 1954
- O Homem do Madrigal – Livraria José Olympio Editora, 1957.
- Nagasaki – Livraria José Olympio Editora, 1957
- O Dia da Ira –Livraria José Olympio Editora, 1959
- The Day of Wrath – tradução inglesa de O Dia da Ira, por Richard Chappell, edição Rex Collings, Londres, 1986.
- As Teorias – Edição Sinal, 1967
- Theories and Other Poems – tradução inglesa de As Teorias por Jean McQuillen, edição Rex Collings, 1972
- Antologia poética –Editora Leitura, 1967.
- A Paixão segundo Antonio – Editora Porta de Livraria, 1967
- Teorias, novas e antigas – Editora Porta de Livraria, 1974
- Tempo de verso – Editora Porta de Livraria, 1992
- 50 Poemas escolhidos pelo autor – Editora Galo Branco, 2004
Ensaio
- Jornalismo e literatura – MEC, 1955
- O “Journal” de André Gide – MEC, 1955
- Dois ensaios – Livraria São José, 1960
- Brasileiros na África – ensaio sócio-político, Edições GRD, 1964
- O problema do Índio Brasileiro – Embaixada do Brasil em Londres, 1973
- Para onde vai o Brasil? – ensaio político, Editora Arca, 1977
- Do objeto como sinal de Deus – ensaio sobre arte africana, RIEX, 1983
- On the Objects as a Sign from God – tradução inglesa de Ira Lee, RIEX, 1983
- O Brasil exporta – história da exportação brasileira, Banco do Brasil, 1984
- Brazil Exports – tradução inglesa, Banco do Brasil, 1984
- Literatura Brasileira – Editora Lisa, 1994
- Letteratura Brasiliana – história da literatura brasileira, tradução italiana de Adelina Aletti, Jaca Book, 1993
- Scurt? Istorie a Literaturii Braziliene (1500-1994) – tradução romena de Micaela Ghitescu, Editora ALLFA, 1997
- Antonio Olinto apresenta Confúcio e o Caminho do Meio – Rio de Janeiro, Editora Bhum – Ao Livro Técnico- 2001
Artes Plásticas
- African Art Collection, tradução inglesa de Ira Lee, Printing and Binding, Londres, 1982
Crítica Literária
- A invenção da Verdade – crítica de poesia, Editorial Nórdica, 1983
- A verdade da Ficção – crítica literária, COBRAG, 1966
- Cadernos de Crítica – crítica literária, Livraria José Olympio Editora, 1958
Literatura Infantil
- Ainá no Reino do Baobá – Literatura Infantil, LISA, 1979
Romance
- A Casa da Água – romance, Edições Bloch, 1969 ; Círculo do Livro, 1975 e 1988; Difel. 1983; Nórdica, 1988; Nova Froteira, 1999
- The Water House – tradução inglesa de Dorothy Heapy, Edição Rex Collings, 1970; Thomas Nelson and Sons Ltd, Walton-on-Thames, 1982; Carrol & Graff, 1985
- La Maison d’Eau – tradução francesa de Alice Raillard, Edição Stock, 1973
- La Casa del Água – tradução argentina de Santiago Kovadlof, Editorial Losada, 1972 e 1973
- Bophata Kyka – tradução em macedônio, Macedônia Makepohcka Khnra (km), Skopje, 1992
- Dom Nad Woda – tradução polonesa de Elizabeth Reis, edição Wydawnictwo Literackie, 1983. ( Dom Nad Woda, edição Braille polonês, Polska Braille, 1985)
- Casa dell’Acqua – tradução italiana de Sonia Rodrigues, Edição Jaca Book, 1987
- O Cinema de Ubá – Livraria José Olympio Editora, 1972
- Copacabana – LISA, 1975; Editora Nórdica, 1981
- Copacabana – tradução romena de Micaela Ghitescu, Univers, 1993
- O Rei de Keto – Editorial Nórdica, 1980
- Le Roi de Ketu – tradução francesa de Geneviève Leibrich, Edição Stock, 1983
- Il Re di Keto – tradução italiana de Sonia Rodrigues, Edição Jaca Book, 198
- The King of Ketu – tradução inglesa Richard Chappell, edição Rex Collings, Londres, 1987
- Kungen av Ketu – tradução sueca de Marianne Eyre, Edição Norstedts, Estocolmo, 1988
- Os móveis da bailarina – novela, Edição Nórdica, 1985
- The Dancer’s Furniture – tradução inglesa de C. Benson, Editorial Nórdica, 1994
- I Mobili della Ballerina – tradução italiana de Bruno Pistocchi, L`Umana Avventura, 1986
- Les Meubles de la Danseuse – tradução francesa, L`Aventure Humaine, 1986
- Die Möbel der Tänzerin – tradução alemã, “Humanis”, 1987
- Mobilele Dansatoarei – tradução romena de Micaela Ghitescu, Edição Nórdica, 1994
- Trono de vidro – romance, Editorial Nórdica, 1987
- Trono di Vetro – tradução italiana de Adelina Aletti, Jaca Book, 1993
- The Glass Throne – tradução inglesa de Richard Chappell, Sel Press, 1995
- Tempo de palhaço – Editorial Nórdica, 1989
- Timpul Paiatelor – tradução romena de Micaela Ghitescu, Editura Univers, Bucaresti, 1994
- Sangue na floresta – Editorial Nórdica, 1993
- Alcacer-Kibir – romance histórico, Editora CEJUP, 1997
- A dor de cada um – 1º romance da “Coleção Anjos de Branco”, Mondrian, 2001
- Ary Barroso, história de uma paixão – Mondrian, 2003.
Conto
- O menino e o trem – Editora Ao Livro Técnico, 2000.
Gramática
- Regras práticas para bem escrever / Laudelino Freire (1873-1937) – ampliada e atualizada por Antonio Olinto, Lótus do Saber Editora, 2000.
Dicionário
- Minidicionário poliglota – Editora Lerlisa
- Minidicionário Antonio Olinto: inglês-português, português-inglês – Editora Saraiva, 1999
- Minidicionário Antonio Olinto: espanhol-português, português- espanhol – Editora Saraiva, 2000
- Minidicionário Antonio Olinto da lingua portuguesa – Editora Moderna, 2000
Nossa Homenagem

Noite é chuva, plano é longo.
Hora de abraçar a máquina
medianeira do olho e do objeto
disposta para o módulo dos ritos
através.
Ó câmara de sutis delicadezas,
brandura carda, mansa entrega,
me ensina a reta prontidão
no pegar cada coisa e seu contorno,
me concede a cordura decisiva
da lente caminhando para a imagem
diretamente.
Ferramenta e musa,
vem comigo às estacas do homem
chamado Sousa,
entra na macia resistência da pele
águas adentro
(sabes: somos em aquário,
nele andamos, consistimos,
amamos
refreados de presenças
além do líquido limite:
em aquário somos).
Mulher e fábula,
tira a transparência
das roupas silenciadas,
restaura os rituais
dos mitos cotidianos
passados de fêmea a fêmea,
mãe, irmã, amante,
câmera votiva.
Que importa sejas metal agora,
vidro, foco, olho de máquina,
para a justa visão da coisa vista?
Eia, câmera, comigo
ao plano largo, noite chuva.

Num retrospecto
de que vale?
O menino soltava papagaio
no morro transformado em nova imagem
tão nítida que vai além retângulo,
termina no prelúdio de uma nuvem
e o grito batia longe
na tarde dos bambuais
de que vale?
Sousa já era mas sorria,
tinha o fascinio dos começos,
a fixidez dos olhos sendo
nada e flor.
A voz que subia aflita
(só podia ser da mãe)
talava da noite próxima
e de bichos escondidos
pelo pasto,
no regato,
no caminho,
pela sombra deslizada de repente
de que vale?
Na descida tudo vinha
em gesto nem sempre visto
de papagaio vermelho,
papel de seda rasgado
na maciez do paiol.
Súbito
era noite e um cão latia
alto.

O desígnio das coisas
ferido de espera.
Nem poderia ser, como pensais,
de lastro diferente.
Sabeis e guardais remanso.
Vinde à frente do palco
no risco da luz firmada
que os olhos querem vossa fala.
caso inventado mas pende
da mais sólida nuvem.
As tábuas estão aí,
a mesa, o pão, a roupa
e as gentes.
Nas cadeiras que vos olham
a certeza de vossa força.
Traçai o desenho
do que está vindo,
erguei a mão em rito,
fazei objetos.
Agora vejo.
Esse traço é o caminho da moça?
Completai-o que desce um cântico,
não deve ser interrompido.
O desígnio da moça
repousa em nervos de flor.
Riscai outros.
Esse não conheço.
Da que foi mãe?
Parece mais linha sem ponta.
Aonde irá?
xxxxxxxxDe O Dia da Ira
xxxxxxxxRio de Janeiro: Nórdica; Londres: Rex Colling, 1986
xxxxxxxx“Mudaria o Natal ou mudei eu?”
xxxxxxxxMachado de Assis
Mudaria o Natal ou mudo iria
mudar sempre o menino o mundo em tudo?
Ou fui só quem mudei, e meu escudo
novidadeiro, múltiplo, daria
ao mudadiço mito da alegria
em noite tão mutável jeito mudo?
O homem é mudador, muda de estudo,
de mucama, de verso, pouso, dia,
porque a muda modula esse desnudo
renascimento em palha, e molda e afia
o instrumento da troca, o fim miúdo,
a noite amena erguendo-se em poesia.
Mudei eu sempre sem saber que mudo
ou somente o Natal me mudaria?
xxxxxxxxNova York, Natal de 1965