Arquivo do dia: 17 de setembro de 2009

Lina Faria: ver a cidade, com veracidade

LinaFotoConheço Lina Faria – paranaense de Nova Esperança, com passagem por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo – desde quase o início de sua carreira de fotógrafa. Confiei em seu trabalho e acertei. Hoje ela é uma das mais brilhantes profissionais da área e especializou-se na arquitetura da cidade e sua gente, notadamente na arqueologia urbana, com suas paredes despencadas e corroídas. Lina sabe ver Curitiba como ninguém. Ela mesma diz, em seu blog Não Lugar :

Sou fotógrafa e curiosa. Vivo na cidade de Curitiba e gosto de olhar e documentar a relação das pessoas com os espaços em geral. Levo isso ao pé da letra, quando fotografo as ruas e sua ocupação desordenada.
Também nos interiores das submoradias, longe de qualquer padrão de ordem mas com um sentido de segurança, mesmo que penduradas e vulneráveis à primeira chuva. Mas tudo isso tendo como compromisso a beleza, a harmonia. Mesmo na realidade de uma favela, resgatar a dignidade através do belo é o que me interessa. Gosto também, e muito, de design e arquitetura. Da social à contemporânea, o gosto pelo ocupar me interessa
“.

Fiz um convite a Lina para publicar suas fotos no Banco, pois seu olhar capta poesia até mesmo em coisas semidestruídas. Mas enquanto ela não as manda, recolhi duas fotos recentes em seu blog e a homenageio com um poemeto intercalado entre as imagens.

Ipês no chão

Canto o chão

xxxxxxxxxxxxxxxPara Lina Faria

Chão que ninguém olha, chão que ninguém vê,
chão que todos usam,
chão que todos reclamam
e só os olhos de Lina nele recolhem beleza.
Chão de petit pavé que distribui tropeções pela cidade,
recompensados, no final do inverno,
com a neve amarela das flores.
Chão de qualquer lugar:
ponto de ônibus, estádios, praças e calçadas
a misturar moda de pobres e ricos calçados.

Ipês no chão e pés no chão.

Pés no chão

Erly Welton Ricci catacrédico

catacredos

Catacredos

não tenho
ser
nem honra

nem fé
nem lei
a faca
do crime
não sei

nenhuma
idéia
ou meia
na mala

e enquanto tarda
azia das horas
a dor
que sinto não
estala

a morte
que vivo
em boa
hora

escrava
cardíaca
réu
do desejo

para o decurso
das coisas tolas
não há nada além
do que vejo

feixe de nervos
nau sem
mar
sem proa

sou  muitas
mentiras
uma só
pessoa