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O centenário de Nelson Cavaquinho

Nelson Cavaquinho, vivo fosse, teria festejado seu centésimo aniversário no último dia 29 de outubro. Pediria flores, necessárias durante a vida e não quando a gente se chamar saudade. Perderia mil cavalos por um samba em boa companhia, ao contrário de Ricardo III, que, segundo Shakespeare, prometeu seu reino em troca de um solípede. Considerava-se um poeta, antes de sambista, e premeditou a dor de Mangueira quando ele partisse. E seus versos assim o comprovam, pois ele, com simplicidade e enorme sensibilidade, sabia moldar com palavras o seu cotidiano. A música popular brasileira está repleta de exemplos de bons poetas sem  academia. Difícil encontrar quem não se impressionou com os famosos versos de Cartola, outro admirável poeta da MPB, ao aconselhar uma antiga namorada, em A vida é um moinho: “Ouça-me bem, amor / preste atenção, o mundo é um moinho / vai  triturar teus sonhos, tão mesquinho / vai reduzir as ilusões a pó”. Ou, em As rosas não falam: “Queixo-me às rosas / mas que bobagem / as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti”.

A mesma beleza singela foi colocada em música por Nelson Cavaquinho, nome artístico de de Nelson Antônio da Silva, (Rio de Janeiro, 29 de outubro de 1911—18 de fevereiro de 1986) um dos mais importantes sambistas cariosas, compositor, cavaquinista e violonista. E poeta, sim, senhores e senhoras.  Vejamos alguns exemplos.

 Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira

(de Folhas secas)

Capa do disco As flores em vida, Eldorado

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca flor
Eu só errei quando juntei minh´alma à sua
O sol não pode viver perto lua

(de A flor e o espinho)

Me dê as flores em vida
O carinho, a mão amiga,
Para aliviar meus ais.
Depois que eu me chamar saudade
Não preciso de vaidade
Quero preces e nada mais

(de Quando eu me chamar saudade)

Desenho de Marcus Wagner

 O sol….há de brilhar mais uma vez
A luz….há de chegar aos corações
Do mal….será queimada a semente
O amor…será eterno novamente

(de Juízo Final)

Ilustração de Milton Luiz

A luz negra de um destino cruel
Ilumina um teatro sem cor
Onde estou desempenhando o papel
De palhaço do amor

(de Luz Negra)

A flor e o espinho

Quando eu me chamar saudade

Amor platônico

Um pouco de música e poesia não faz mal a ninguém. Encontrei por aí, ou melhor, no Youtube, uma música que fala em metáforas e amores platônicos, o que lembra posts anteriores. A música é da cantora Julieta Venegas, que cresceu em Tijuana, Baixa Califórnia, EUA. Iniciou sua preparação musical estudando piano clássico, a partir dos oito anos de idade.

Filha de pais mexicanos, Julieta foi a única de cinco irmãos que se dedicou à música, razão pela qual, além das aulas de piano, também tomou aulas de teoria, canto e violoncelo, tanto na Escola de Música do Noroeste, como no South Western College de San Diego. (Saiba mais em biografia) Abaixo a letra original, com uma versão em português que fiz, com o video do Youtube.

Amores platónicos

Julieta Venegas, Estados Unidos da América do Norte

No me acercaré a tu jardín,
Nunca tocaré tu flor,
Es mejor la fantasía que me dio,
Tu leve cercanía y su color.

Nunca sospechaste la metáfora,
Y lo que puede lograr,
Nunca entenderás da suavidad,
De lo que no sabe adonde va.

Prefiero amores platónicos,
Consuelo de tontos solitarios,
Prefiero amores imposibles,
Consuelo de haber perdido demasiado.

Y así,
Con tu imagen me iré,
De la mano de haberte deseado tanto,
Mejor,
Desenvaino una melodía,
Para hacerle los honores a tu fantasía.

Prefiero amores platónicos,
Consuelo de tontos solitarios,
Prefiero amores imposibles,
Consuelo de haber perdido demasiado.

Que revolución hay en mi corazón,
Y eso sin haberme acercado a tu balcón,
Si que maravilla es el desencanto,
Si hace que todo se vea mejor imaginado.

Prefiero amores platónicos,
Consuelo de tontos solitarios,
Prefiero amores imposibles,
Consuelo de haber perdido demasiado.

Amores platônicos

Não me acercarei de teu jardim,
Nunca tocarei tua flor,
É melhor a fantasia para mim,
Tua leve presença e sua cor.

Nunca suspeitaste a metáfora,
E o que pode alcançar,
Nunca entenderás da suavidade,
Do que não sabe onde chegar.

Prefiro amores platônicos,
Consolo de tontos solitários,
Prefiro amores impossíveis,
Consolo de haver perdido demasiado.

E assim,
Com tua imagem me irei,
Da ilusão de haver-te desejado tanto,
Melhor,
Desvelo uma melodía,
Para fazer-lhe as honras a tua fantasia.

Prefiro amores platônicos,
Consolo de tontos solitários,
Prefiro amores impossíveis,
Consolo de haver perdido demasiado.

Que revolução há em meu coração,
E isso sem haver me acercado a teu balcão,
Sim, que maravilha é o desencanto,
Se faz com que tudo se veja melhor imaginado.

Prefiro amores platônicos,
Consolo de tontos solitários,
Prefiro amores impossíveis,
Consolo de haver perdido demasiado.

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