Arquivo do mês: dezembro 2013

Rumo ao berço de Neruda

Estou tomando o rumo do Sul, em direção à pátria de Pablo Neruda. Pretendo descansar, divertir-me, degustar os sabores do Chile e conhecer a nova poesia chilena. Vou percorrer o triângulo de Neruda, formado pelos vértices de Santiago, Valparaiso e El Quisco, onde se encontram as três casas do poeta – La Chascona, La Sebastiana e Isla Negra, respectivamente.

Sobre esta, considerada a principal casa-museu de Neruda, o poeta deixou escrito: “En mi casa he reunido juguetes pequeños y grandes, sin los cuales no podría vivir. Son mis propios juguetes. Los he juntado a través de toda mi vida con el científico propósito de entretenerme solo. El niño que no juega no es niño, pero el hombre que no juega perdió, para siempre al niño que vivía en él y que le hará mucha falta. He edificado mi casa también como un juguete y juego en ella de la mañana a la noche”. (Em minha casa reuni brinquedos pequenos e grandes, sem os quais não poderia viver. São meus próprios brinquedos. Juntei-os através de toda minha vida com o científico propósito de entreter-me sozinho. O menino que não brinca não é menino, porém o homem que não brinca perdeu, para sempre, o menino que vivia nele e que lhe fará muita falta. Construí minha casa também como um brinquedo e brinco nela da manhã à noite.)

Do Chile enviarei notícias poéticas. Com a Ode ao Vinho, de Neruda, ergo um brinde pela paz maior que odos desejamos para o ano novo que se iniciará dentro de algumas horas.

Oda_al_vino

ODA AL VINO

Pablo Neruda

Vino color de día
vino color de noche
vino con pies púrpura
o sangre de topacio
vino,
estrelloado hijo
de la tierra
vino, liso
como una espada de oro,
suave
como un desordenado terciopelo
vino encaracolado
y suspendido,
amoroso, marino
nunca has cabido en una copa,
en un canto, en un hombre,
coral, gregario eres,
y cuando menos mutuo.

El vino
mueve la primavera
crece como una planta de alegría
caen muros,
peñascos,
se cierran los abismos,
nace el canto.
Oh tú, jarra de vino, en el desierto
con la saborosa que amo,
dijo el viejo poeta.
Que el cántaro del vino
al peso del amor sume su beso.

Amo sobre una mesa,
cuando se habla,
la luz de una botella
de inteligente vino.
Que lo beban,
que recuerden en cada
gota de oro
o copa de topacio
o cuchara de púrpura
que trabajó el otoño
hasta llenar de vino las vasijas
y aprenda el hombre obscuro,
en el ceremonial de su negocio,
a recordar la tierra y sus deberes,
a propagar el cántico del fruto.

ODE AO VINHO

Pablo Neruda

Vinho cor do dia
vinho cor da noite
vinho com pés púrpura
o sangue de topázio
vinho,
estrelado filho
da terra
vinho, liso
como uma espada de ouro,
suave
como um desordenado veludo
vinho encaracolado
e suspenso,
amoroso, marinho
nunca coubeste em um copo,
em um canto, em um homem,
coral, gregário és,
e quando menos mútuo.

O vinho
move a primavera
cresce como uma planta de alegria
caem muros,
penhascos,
fecham-se os abismos,
nasce o canto.
Ó tu, jarra de vinho, no deserto
com a saborosa que amo,
disse o velho poeta.
Que o cântaro do vinho
ao peso do amor some seu beijo.

Amo sobre uma mesa,
quando se fala,
à luz de uma garrafa
de inteligente vinho.
Que o bebam,
que recordem em cada
gota de ouro
ou copo de topázio
ou colher de púrpura
que trabalhou o outono
até encher de vinho as vasilhas
e aprenda o homem obscuro,
no cerimonial de seu negócio,
a recordar a terra e seus deveres,
a propagar o cântico do fruto.

versão ao Português de Cleto de Assis