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Hoje é dia de Walmor!

Não esqueçam: hoje, quinta-feira, dia 4 de fevereiro de 2010, é dia de cantarmos parabéns pra Walmor Marcelino na Biblioteca Pública do Paraná, às 19 horas. E vamos conhecer seu último livro, Ulciscor, que será lançado como homenagem aos 80 anos de nascimento do escritor, jornalista e poeta.

Homenagem a Walmor Marcelino

No próximo dia 4 de fevereiro, quinta-feira, o jornalista, escritor e poeta Walmor Marcelino, que nos deixou no último mês de setembro, completaria 80 anos de vida. Familiares e amigos farão uma homenagem a ele, com o lançamento de seu último livro, Ulciscor, e leitura dramática de poemas e outros textos. O evento ocorrerá no auditório da Biblioteca Pública do Paraná, às 19 horas. Vamos lá levar a nossa saudade a Walmor!

Para Wilson Martins, que iluminou meu solitário canto*

O poeta Manoel de Andrade

O poeta Manoel de Andrade

Pois é…, eu havia citado o Wilson Martins no comentário que fiz domingo, no blog de J.B. Vidal, Palavras, Todas Palavras, sobre o Walmor Marcelino, mas ainda não sabia que o nosso grande crítico literário já viajara, sábado, para um Mundo Maior. Tal como ao Walmor, devo também a ele o grande estímulo que deu nas duas vezes que se referiu à minha poesia.

Em 02 de agosto 1980, em sua coluna no Caderno B, do Jornal do Brasil, comentando minha Canção de amor à América publicado aquele ano pela revista Encontros com a Civilização Brasileira, refere-se ao poema dizendo que “é, com certeza, um dos belos poemas do nosso tempo, integrado nos seus conflitos e perplexidades, e no qual lirismo e epopéia se combinam (no sentido químico da palavra) para formar uma terceira entelequia (a entelequia poética, alimentada pelo mundo exterior)…” .

Já em 30 de outubro de 2002, na sua coluna semanal no Caderno G, da Gazeta do Povo, comentando antologias poéticas lançadas no Paraná e o livro Próximas Palavras, editado pelo Walmor, exagera em sua generosidade ao afirmar que a “grande poesia, nesta coletânea e na literatura brasileira dos nossos dias, foi escrita por Manoel de Andrade…” . Cita, em seguida, trechos de meu poema Um homem no Cais e comenta que é “um longo poema de fulgurações whitmanianas e profunda consciência da condição humana, poesia de um homem no mundo dos homens, e também o testemunho de suas ansiedades. Basta ler esses versos simultaneamente com a maior parte dos que compõem estas antologias para perceber a diferença de natureza entre o poeta, de um lado, e, de outro, as pesadas legiões dos menores”.

Nunca tive contato com esse Mestre admirável da nossa crítica literária e, assim, não pude agradecer-lhe pessoalmente. Sempre esperei que essa oportunidade acontecesse naturalmente, mas há anos que ele, por problemas de saúde, já não aparecia em eventos culturais. Agora me sinto um pouco frustrado por não tê-lo visitado em sua casa. É que o sentimento de gratidão é uma das maiores dimensões que trago na alma e, assim, mesmo postumamente, quero registrar aqui meu agradecimento pelo aval que deu a minha poesia e rogar a Senhor da Vida que o assista e ampare seu espírito nessa misteriosa transição para a imortalidade.

Manoel de Andrade – 01/02/2010

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* Dedicatória que fiz a ele em meu livro Cantares (Escrituras, 2007)

Até mais, Walmor

Conheci Walmor Marcelino, que nos deixou na manhã de hoje, há mais de trinta, quarenta anos. Quando ele era um entusiasta teatrólogo, em uma época que Curitiba ainda era conhecida como uma espécie de Cemitério das Artes. Também conheci o jornalista ativo e ativista, o escritor e poeta, o utopista, sempre a defender, com veemência e extrema coerência, os seus pontos de vista. Podíamos até discordar dele, mas o respeitávamos inteiramente por sua honestidade intelectual.

Quando, há poucos anos, retornei a Curitiba, Walmor foi uma das primeiras pessoas que encontrei, em um domingo pela manhã, quando fazíamos compras no Mercado Municipal. Um papo descontraído e rápido — Onde você andava?E você, o que está fazendo? — mas era mais uma amizade recuperada, apesar dos anos de separação.

Mais recentemente, estivemos juntos em um encontro de poetas no Bar Stuart, junto com Manoel de Andrade, J.B. Vidal, Marilda Confortin, Vinicius Alves e o artista plástico Attila Wensersky. Em meio aos ruídos de palavras e música, ainda tivemos um momento de conversa paralela e trocamos informações para atualizar nossas vidas. Ele, então, me deu um CD com o texto do primeiro caderno de sua novela Ulciscor (“Não chega a ser ensaio, porque lhe falta o convencimento das origens: definir objeto, clareza expositiva, argumentação dialógica, pertencimento científico, ainda que insinue referências e pretenda indicar fatos. Não chega a ser ‘ficção’, porque a sua escritura, conquanto sobreleve pessoas e momentos, é de verificação basilar e a exponência narrativa não se dispõe inteiramente ao ficcional. Não é obra de história, porque os fatos organizados estão dispostos muitas vezes em algaravia e carentes de informações, com cortes e flashbacks ao sabor de um cruzeiro de memória e sentido. E como poderia este excerto de biografia analítica ainda assim despertar atenção e interesse dos leitores – amigos, confrades e consócios na reconstrução ideológico-política da realidade – constrangidas na ação e mais estendidos na comunicação de cada um, eu me socorro deste artifício, ademais me apresentando humilde conviva nesta sociedade do espetáculo”.

A última reunião com Walmor – Da esquerda para a direita: Walmor Marcelino, Cleto de Assis, Marilda Confortin, Attila Wensersky e Vinicius Alves. Manoel de Andrade é aquele que não aparece, atrás de Attila. Fonto de J.B. Vidal.

A última reunião com WalmorDa esquerda para a direita: Walmor Marcelino, Cleto de Assis, Marilda Confortin, Attila Wensersky e Vinicius Alves. Manoel de Andrade é aquele que não aparece, atrás de Attila. Foto de J.B. Vidal.

Walmor pretendia iniciar um diálogo com seus leitores/amigos sobre seu texto e, ao mesmo tempo, associar-se a eles na futura publicação da novela. Não sei a quantas andava seu projeto, até o momento em que nos deixa. Daquele texto retiro a epígrafe, uma frase de Seth Báratro: “Não tenho todo o tempo do mundo, mas quanto é esse tempo?”. Hoje Walmor Marcelino conseguiu medir, como todos nós faremos um dia, a dimensão do tempo que nos é dado para viver.

Faço a homenagem do Banco da Poesia com um texto de um amigo comum, Aramis Milarch (que deve estar na comissão de recepção a Walmor, lá do outro lado), publicado no dia 1º de maio de 1986. E, abaixo, um poema de sua lavra, que consta no texto de Ulciscor. C. de A.

Quem diria, Walmor Marcelino, um romântico?

walmor marcelinoJornalista dos mais atuantes na imprensa paranaense há 30 anos, merecedor da admiração e respeito pela coerência e honestidade de seus pontos de vista, de seu comportamento como homem e profissional, Walmor nunca foi de fazer concessões. Em 1964, poucas semanas após o golpe militar de 1º de abril, publicava um corajoso livro de poesias, cujo título já traduzia o nojo que sentia pela ditadura que começava no Brasil: Tempo de Fezes e Traições. Quase que simultaneamente, em outro livro crítico sobre o golpe dos militares (Sete de Amor e Violência), incluía um texto amargo, cruel e profundamente político sobre aqueles dias cinzentos.

Intelectual do maior gabarito, apaixonado pelo teatro e literatura, primeiro encenador a dar uma montagem realmente dialética e política a textos de Camus (Os Justos) e Jean Paul-Sartre (A Prostituta Respeitosa) nos palcos do Guaíra, ao mesmo tempo que se integrava ao então nascente Centro Popular de Cultura, defendendo uma política cultural destinada a levar a arte as camadas mais pobres, Walmor nunca deixou de fazer sua poesia. Uma poesia honesta, verdadeira – mas sempre voltada ao lado político, a razão, a reflexão – escondendo, assim, muitas vezes, o seu lado lírico, amoroso, suave –que também raros viram atrás de sua fisionomia séria, hostil aos chatos e inoportunos –inimigo claro dos coniventes com o poder.

Hoje, sem arredar um pé de suas convicções, mas por certo com a sabedoria que o virar da casa dos cinqüenta traz, nas 28 páginas de seu mais recente livro (Confabulário, Dom Quixote, Edição do Autor), deparamos, já na primeira página, com um Walmor otimista – a partir do próprio título do poema – Esperança .

xxxxEu não sei por que não somos
xxxxdesbravantes, caminheiros.
xxxxPassageiros da utopia
xxxxmãos dadas, companheiros

Em cada novo poema de Walmor Marcelino, há um encontro com uma sensibilidade extrema, que, anos atrás, não seria comum em ler em sua obra. Como neste Um Verso:

xxxxO verso ai
xxxxEu e tu, ai
xxxxNos cruzamos
xxxxBailando ao vento
xxxxO verso escreve
xxxxnão fala, ai
xxxxque nos amamos
xxxxUm verso vive só
xxxxo que pensamos
xxxxO verso vem depois
xxxxque nós vivemos

Walmor nunca buscou aplausos ou elogios em sua obra extremamente pessoal. Nunca se filiou a escolas ou gerações. Faz e trabalha a poesia como trabalha e age em sua vida: uma coerência extremamente pessoal. Possivelmente, não quer interpretações críticas a este seu Confabulário (aliás, nem há críticos em Curitiba para tanto). O que importa é que, a sua maneira, ele dá um recado de força, vigor e integridade poética – numa realização plena, trabalhando com as palavras como o melhor entalhador o faz com a madeira. Aramis Milarch

Walmor, segundo Marcelino

Político insciente, poeta menor, teatrólogo sem nomeada, promotor sem significância expressiva e “maestro” convicto de comunicações sociais e debates políticos, ainda que em difusos opúsculos, cadernos e livros de edição própria. Itinerário jornalístico: Diário da Manhã (SC), Correio do Povo (RS), Diário do Paraná (PR), Última Hora (PR), Tribuna da Luta Operária (BR). Presença em livros e peçasPoesia Quixote (Porto Alegre); no Paraná, Os Fuzis de 1894, Os Idos e os Ódios de Março (teatros); Fráguas, Mágoas e Maçanilhas (Travessa dos Editores), Toda a Poesia, Próximas Palvras (poesias); A Guerra Camponesa do Contestado, Contribuição ao Estudo da AP no Paraná (esboços críticos); etc.

Nós acrescentamos: extrema humildade, valor de um homem bom e grande.

Memorial

xxxxxxxxWalmor Marcelino

Memorial

Assim um estilete no ouvido
furando o pensamento
e seu fio de memória exposto
ao tempo. Fosse dor atravessada,
nunca no curso interrompida
e consecutiva; roída morte
movendo-se em corpo,
entropia perdida no espaço.
Perfurante itinerário
até a luz nascente das coisas
com a escuridão
de seus propósitos.