Para quem viveu a secura cultural do Paraná de antes dos anos 60, os eventos que se sucedem na terra dos pinheirais (nem tantos assim…) são alegria para os olhos e para a alma. A I Bienal do Livro de Curitiba, que está ocorrendo no pavilhão de eventos da Unimed, no campus da Universidade Positivo, é um desses eventos que devem ser visitados, apoiados e incentivados para que permaneçam definitivamente no calendário cultural.
Fui visitar a exposição ontem à noite, em companhia de Manoel de Andrade, e ambos sentimos falta da mesma coisa: onde está a Poesia? É claro que, ali e acolá, catando com cuidado, encontramos alguns livros, principalmente clássicos já em fase de domínio público e que ganham edições mais populares. Mas nada objetivamente dedicado a ela, um ser talvez em esquecimento, em perigosa linha de extinção.
Trabalho para os poetas paranaenses, daqui a dois anos: propor aos organizadores um estande especial para a Poesia, no qual as poucas editoras brasileiras que mantém livros do gênero em seus catálogos mostariam seus títulos e os mutos poetas independentes, que financiam suas próprias edições, teriam um lugarzinho ao sol. E podemos realizar, no local, uma série de minieventos, com apresentações de poetas, jograis e outras coisas da área. Precisamos armar nosso circo para levar a Poesia à grande massa de leitores que dela está afastada.
Por enquanto, nem tudo está perdido. Acabo de receber lembrete de Domingos Pellegrini Jr., que estará amanhá, quarta-feira, 2 de setembro, às 18 horas, no recinto da Bienal, para apresentar um audiolivro gravado por ele e sua Dalva. Para comemorar o evento, já que Dinho também é poeta, vai aí um poema recolhido em seu blog. C. de A.
GALEAR

Um galo canta
lá vem o dia
Outro responde:
eu já sabia
Mas um novato
pergunta onde
Vem daquele lado
donde sempre vem
diz o velho galo
porém o novato
pergunta por que
Então silenciam
os galos do vale
pois quem é que sabe
por que nasce o dia
Té que o velho galo
canta: só sei que
não nascia sem
eu para cantá-lo
Eu também, e eu
cantam outros galos
e o galo novato
vê que amanheceu
Não pergunta mais
se haveria dia
sem galo a cantar
Acredita pia-
mente que o sol nasce
para iluminar-se
Como tanta gente
que ora simplesmente
apenas porque
orar faz tão bem