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Conta nova: Carlos Couto

Mais um novo correntista do Banco da Poesia para saudarmos: Carlos Couto (nome completo: Carlos Alberto do Couto Coelho), escritor, poeta e ensaísta. Nasceu na cidade de Rio Grande, RS, é engenheiro civil de profissão. Publicou quatro livros, Denúncia Vadia (pensamentos e reflexões de cultura rasa); Sangue Novo na Anemia (coletânea de poesias
da Confraria Terra dos Poetas, da qual participou o nosso correntista Solivan Brgnara); Quem Mexeu no Meu Poema? (poesias) e A Paisagem de Dentro (poesias e haicais). Foi colaborador da coluna O Impopular, no jornal Correio do Paraná e fundou a Confraria Terra dos Poetas, entidade
cultural com objetivos de promover, apoiar e desenvolver atividades de cunho literário.

Atualmente vive em Curitiba. Vamos degustar seus poemas, que também podem ser encontrados no blog do autor, [no poem].


Descartes, o pensamento e a pedra de existir


1.
Penso:
– sou pedra,
logo,
– triste e demente,
existo.

2.
Vejo a pedra,
oca de abstrações,
ela não pensa,
mas eu sei que ela existe.

3.
Quem pensa que é pedra,
existe,
e pedra, que não pensa,
também.

Poema de um mar inventado


Desenhos de um mar inventado,
são náufragos, esboços que flutuam
então rasuras, ora são marinheiros reflexivos
e um vazio com gosto de maresia:
– a sede de minha mão são palavras de papel.

Onde o mar e o tempo

Onde o mar, eu flutuo.
Estou acelerado,
então o tempo… recuo.

Onde o mar, eu navego.
Estou consumado,
então o tempo… me nego.

Onde o mar, eu sonho.
Estou fragmentado,
então o tempo… me recomponho

Onde o mar, eu reflito.
Estou amordaçado,
então o tempo… grito.

Onde o mar, eu enjoo.
Estou ancorado,
então o tempo… lanço-me no voo.

Onde o mar, eu naufrago.
Estou desequilibrado,
então o tempo… me embriago

Onde o mar, eu me jogo.
Estou angustiado,
então o tempo… me afogo

Onde o mar, eu afundo.
Estou cansado,
então o tempo… abandono o mundo.

A ordem das coisas


xxx(primeiro o medo)
somente minha sombra ao mar rugia
como se fosse um arpão
atado às minhas tíbias
então ruminei o silêncio
junto ao grave rosto do medo
fuga foi o que desejei
mas estar acordado
apontava-me setas e dedos
e então vi que o medo é um animal assustado
engolindo seu próprio corpo
e o medo digere a pedra de seu peso
e tece suas próprias algemas

o medo é um grito na escuridão
com medo de ser ouvido

xxx(depois o anseio)
quando eu morri
inclusive o medo era escasso
os dias foram noites lentas
e cada minério do sono
cumpria o peso das horas perdidas
inaugurei então o esquecimento
extinguindo o fogo de estar vivo
depois verti o anseio de estar afundando
no redemoinho do tempo breve

morrer não é partir
é desistir
deixar-se levar

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Ilustrações: Cleto de Assis

Araxá nos descobriu: Cássio Amaral também envia depósitos

Quem, em Araxá,
procurar da Poesia o Banco,
Axará?

O oeste mineiro nos descobriu. E nós estamos descobrindo a poesia do oeste de Minas.  Junto aos comentários sobre os poemas de Rafael Nolli, com L. antes, chegou mais uma proposta de abertura de conta no Banco da Poesia de Cássio Amaral. Também poeta jovem, professor e, como se vê nos seus trabalhos, em busca de novas linguagens, mesmo quando utiliza a antiga estrutura haicaiana. Saudamos o novo correntista, professor  de História, Filosofia e Sociologia no ensino médio. Ele nasceu e vive em Araxá, Minas Gerais. Autor dos livros Lua Insana Sol Demente (2001), Estrelas Cadentes (2003), Sem Nome (2006) e Sonnen (2008). Participou das coletâneas de autores blogueiros Corpo e Alma em Verso e Prosa (2006) e Trilhas (2008), organizadas por Euza Procópio Noronha. Tem poemas publicados nos endereços eletrônicos Diversos Afins, Germina Literatura, Revista Lasanha e site de Antonio Miranda.

Seu blog se chama enten katsudatsu . Nossas boas vindas a mais este araxaense e sua poesia.

Metafísica dos coiotes I

Rasgo o trago do imprevisto
que distrai o tempo que passa rápido.
Canto o cântico dos malditos que me cai.
Tudo vaza, tudo explode.
A noite é lenta quando lírios conspiram
contra a sorte perdida.
Lâminas que a incerteza jura fatiar para a salada
de nepotismo barato e regular da gargalhada da noite.
Bebo as estrelas virgens,
Como os meteoros platônicos,
latindo, uivando pra lua prostituta
que cavalga numa nuvem
o sexo santo dos devassos.

A Morte do Poeta


O poeta morreu
Balbuciando formigas em seus versos
Ficou obcecado por metáforas
Cuspiu pleonasmos pretéritos

O poeta morreu
Tentando achar seu caminho
Disse imperfeições nas metonímias
Atirou-se do nono  andar

O poeta morreu tentando desmontar a bomba atômica
Depois de ter punhetado Descartes buscando a verdade ao contrário
Verter-se em Paganini tocando seu violino diabólico
Esvoaçando flores carcomidas por aliterações fingidas

O poeta morreu
Nos precipícios lunáticos de toda a imperfeição
Uivando diante do absurdo da sua própria voz
Silenciada no êxtase da loucura.

Três Kai-kais

Hai-cães uivantes

um trovão instiga o uivo
a noite cai em mosaico
no verso latido de um pária

tirar leite das pedras
pisar na velocidade da luz
extrair a raiz sisuda do futuro.

Catador

catando palavras
desvirginando a métrica
endoidando a sintaxe.

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Ilustrações: C. de A.