Arquivo do dia: 16 de dezembro de 2009

Que tal ler poesia em leitor eletrônico?

Há alguns anos li uma matéria com Humberto Eco e Paulo Coelho, na qual os dois escritores declararam suas negações à leitura eletrônica, em favor do velho e bom livro de papel. Estávamos no início da história dos e-books ou livros eletrônicos e eles visualizavam apenas a leitura feita em computadores tradicionais, nem sempre confortável. Lembro que Eco dizia que gostava de ler na banheira e não conseguia imaginar ter que carregar um computador na hora do banho.

Sony Reader, Japão

Na realidade, a trajetória dos e-books ainda está no seu começo. Podemos dizer que a viagem ainda nem começou, está apenas no aquecimento e na arrumação da bagagem. O que muitos divulgam como e-book, por enquanto, são apenas livros tradicionais digitalizados. Não se percebeu ainda a totalidade da revolução, que está modificando a própria leitura e o modo de construir o pensamento “escrito”. Os verdadeiros livros eletrônicos poderão ter até textos (com essas figurinhas conhecidas como letras), mas as novas mídias estã0 a compor novos meios de expressão, dentro de diversos suportes do conhecimento, dentro daquilo que é chamada de hipermídia.

Bebook Reader, Holanda

É possível que nossa dificuldade em aceitar a nova realidade (sim, acredito que a mídia impressa vai desaparecer, para felicidade geral das florestas) ainda é produto do condicionamento ao pensamento linear, elaborado em séculos com os olhos postos nas linhas dos textos escritos. Lembram-se como era trabalhoso escrever um determinando trabalho e, a todo momento, levantar-se para buscar referências em muitos livros, fazer fichas, anotações, cópias? Quando escrevíamos com a saudosa máquina datilográfica (tem gente das atuais gerações que nunva viu uma), pensávamos que o trabalho era reduzido, rápido e mais bem feito. Mas quando descobríamos que era necessário incluir um parágrafo importante no texto já pronto, babaus: era preciso redigir tudo de novo, a partir da modificação.

Hoje o computador já nos salvou desses trabalhos paleolíticos. E a Internet traça o caminho hipermidiático, no qual já conseguimos conduzir o pensamento à maneira de mosaicos, sem a rigidez da construção linear. Difícil? Nem tanto, se imaginarmos que os chineses e japoneses e todos os que usam linguagem ideográfica já pensam assim.

Cybook, Grã-Bretanha

Agora chegou avez da popularização dos aparatos eletrônicos que permitem a Humberto Eco e Paulo Coelho ler seus livros confortavelmente instalados em suas mornas banheiras. São os readers ou leitores digitais, cada vez mais leves e baratos e que podem arquivar centenas de documentos (tranquilizem-se os mais assustados: podem até ser centenas de livros, destes com uma linha de texto em baixo da outra, até o final…) A Sony já tem seu reader, a Microsoft também. Mas o mais famosos é Kindle, lançado pela Amazon, que não era uma empresa de produtos eletrônicos, mas especializou-se em vender livros. Aliás, é a maior livraria virtual do mundo.

E um dia eles acharam que o livro de papel, que pesa muito e custa caro, além de ter ainda um complexo e demorado sistema logístico para sua entrega, talvez estivesse com seus dias contados. E decidiram investir no desenvolvimento de um aparelho que servisse para a leitura de todos os livros. Ainda mais: também o vendem, nos Estados Unidos, com assinaturas de jornais, como o New York Times, em sua edição eletrônica. Quer saber mais? Clique aqui.

Irez-Iliad, Holanda

Durante mais de dois anos as vendas se limitaram aos Estados Unidos. Mas há dois meses já estão vendendo o aparelhinho para os brasileiros, com ampla área de cobertura, já que ele funciona com ligação à Internet no modo wireless, sem fio. Mas o problema era o preço. Lá ele é vendido por US$ 259 e chegava até aqui pelo dobro, pois se cobrava o imposto de importação. Sem falar no frete, que não é barato.

Um advogado brasileiro, no entanto, recorreu à justiça e ganhou o direito de importá-lo sem impostos, uma vez que livros são isentos. E o aparelho é apenas um suporte para a leitura, isto é, cada aparelho pode ser comparado a uma biblioteca eletrônica.

Embora este nosso blog não seja veículo para outra coisa que não a Poesia, de alguma forma a novidade está ligada intrinsecamente à leitura e, portanto, interessa ao futuro da arte, que poderá ganhar novos suportes e dimensões. Por isso, apresso-me em divulgar a notícia. Com o convite para que os caros amigos do Banco da Poesia depositem seus comentários. Pode ser uma bela discussão. Abaixo, a notícia divulgada pelo G1, da Globo.

Elonex Borders, Grã-Bretanha

E como no mundo eletrônico e globalizado as notícias são mais rápidas que raios, acabei de saber que a partir de amanhã, 17/12, já estará à venda uma biblioteca eletrônica com um aparelhinho europeu chamado COOL-ER, com caracteristicas semelhantes ao Kindle, e comercializado no Brasil pela Editora Gato Sabido. Clique no nome da editora para saber mais. Vai começar a concorrência e, com ela, a queda nos preços. Aguardemos.

Kindle, da Amazon

Concedida autorização judicial para importar leitor digital sem impostos

Advogado entrou com mandado de segurança e obteve a autorização. Nos EUA por US$ 259, Kindle tem US$ 266,62 de taxa de importação.

O advogado Marcel Leonardi obteve na Justiça uma autorização para a compra do leitor digital Kindle, da Amazon, sem pagar os impostos referentes à importação do produto. Vendido somente pela loja virtual nos EUA, o produto custa US$ 259, mas para os brasileiros chega a US$ 545,30 (cerca de R$ 956) – dessas taxas, US$ 21 referem-se à entrega, enquanto US$ 266,62 são de importação. Ainda cabe recurso da Receita Federal.

Leonardi entrou com um mandado de segurança no qual alegou que o Kindle possui a função exclusiva de leitor de textos. Por isso, o produto seria abrangido pela imunidade tributária da importação de livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua impressão, da Constituição Federal (art. 150, inciso VI, alínea d).

“Essa lei existe para garantir o acesso à cultura, por isso não se pagam impostos na importação de livros. Ela também fala na isenção de papel para a impressão de textos, que já foi estendido para CD-ROMs e mídias eletrônicas em geral. O Kindle se encaixa nessa categoria, pois tem como única finalidade a leitura”, explicou o advogado ao G1 .

Em sua decisão, a juíza federal substituta Marcelle Ragazoni Carvalho, da 22ª Vara Federal de São Paulo, afirmou: “ainda que se trate o aparelho a ser importado de meio para leitura dos livros digitais vendidos na Internet, aquele que goza efetivamente da imunidade, assim como o papel para impressão também é imune”.

Segundo Leonardi, notebooks e aparelhos como o iPhone não poderiam ter os mesmos benefícios, porque além de permitir a leitura de documentos digitais têm outras funções. Dessa forma, eles são considerados eletrônicos e continuam pagando os impostos de importação.

Como a Amazon já cobra dos brasileiros os impostos no ato da compra, o advogado vai adquirir o produto e pedir que ele seja entregue a um contato dos Estados Unidos. O Kindle será então enviado legalmente por correio ao Brasil, com a descrição do produto, e a liminar impedirá a cobrança de impostos aduaneiros do advogado.

“Pelo valor do produto, não vale a pena contratar um advogado para fazer algo parecido. Mas a decisão mostra que a Justiça está a par das novidades tecnológicas. Fiquei surpreso com a qualidade da fundamentação da liminar e, muito provavelmente, a decisão final será igual”, diz o advogado, que pretende comprar seu Kindle logo depois do Natal, quando as lojas fazem promoções.

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Fonte: G1 – Globo.com / Autor: Juliana Carpanez, do G1, em São Paulo

Vem de Minas um novo depósito: L. Rafael Nolli

Ganhamos mais um correntista que descobriu o Banco da Poesia na Internet. Trata-se de L. Rafael Nolli, de Araxá, Minas Gerais, a terra de Ana Jacinta de São José — a  lendária Dona Beja ou Beija —, que desafiou os costumes da sociedade mineira na primeira metade dfo Séc. XIX. Araxá (a vista para o mundo, plnalto de vastos horizontes, segundo o Vocabulário Tupi/Guarani-Português) é hoje uma famosa estância hidromineral, situada no famoso triângulo mineiro, no oeste do estado. E parece que daquelas fontes não jorram apenas águas miraculosas (como a que, conforme a lenda, mantinha Dona Beja formosa e sempre jovem), mas também poesia.

Rafael Nolli (ainda não descobri o que significa o prenome L.) mantém um blog, Stalingrado III, dedicado a temas culturais, com ênfase na poesia. Ele visitou recentemente o Banco, deixou seu recado na página de Vicente Gerbasi e contou que já havia lido o livro do poeta venezuelano Espaços Cálidos, por mim traduzido, na biblioteca pública local.

Aí teve início esta nova conta, pois visitei seu blog e descobri o excelente poeta que é, jovem e inovador na linguagem. Ele nos conta que nasceu em Araxá no ano de 1980. Publicou, de forma independente, o livro de poemas Memórias à Beira de um Estopim. Tem poemas publicados em diversas coletâneas e publicações especializadas. Está na gráfica Comerciais de Metralhadora, a ser lançado no primeiro semestre de 2010.  Atualmente, leciona História e Geografia no ensino médio. Pode ser lido , como já informamos, no seu blog.

Seguem seus dois primeiros depósitos, com a promessa de que outros virão. Nossa boas vindas e  agradecimentos ao novo correntista.

Poema # 1


A um toque das mãos ter as pessoas,
ver nossa vida em suas vidas continuada.
Pioneiras que antes de todos foram ao fundo
e dele regressaram com avisos, precauções.

A um toque das mãos ter as pessoas,
ser feliz com elas enquanto transitam –
estendendo a fronteira de nossa alegria
às ruas onde não eram aceitos os nossos passos.

A um toque, para o bem ou para o mal –
ter algo quebrado quando se embrutecem,
ser ferido quando se atracam,
quando se estilhaçam, ter algo partido.

A um toque das mãos ter as pessoas,
poder viver nelas o que não nos foi possível –
em seus pulmões o ar que nos foi recusado.
Seus sonhos e os nossos em uma mesma sala.

A um toque das mãos ter as pessoas,
ver nossa vida em suas vidas continuada.

Poema # 2

Gustave Courbet - 1819-1877 – Mulher nua com cachorro – óleo sobre tela (65 x 81 cm) 1861-1862 – Museu de Orsay, Paris

: impossível sem quebrar uns ossos,

talvez alguns golpes de navalha na face

(como um imprudente zagueiro

ou um barbeiro louco).

: improvável sem queimar algumas casas,

talvez algumas pessoas em praça pública

(como se fazia em nome de Deus

ou de homens alçados a).

: fora de cogitação sem pessoas,

talvez algumas que não existam

(como aquelas dos romances antigos

ou dos sonhos razoáveis).

: impensável sem amor pela vida,

talvez por uma mulher ou por um cão

(como se vê nos bares à noite

ou na rua aos sábados).