Há alguns anos li uma matéria com Humberto Eco e Paulo Coelho, na qual os dois escritores declararam suas negações à leitura eletrônica, em favor do velho e bom livro de papel. Estávamos no início da história dos e-books ou livros eletrônicos e eles visualizavam apenas a leitura feita em computadores tradicionais, nem sempre confortável. Lembro que Eco dizia que gostava de ler na banheira e não conseguia imaginar ter que carregar um computador na hora do banho.
Na realidade, a trajetória dos e-books ainda está no seu começo. Podemos dizer que a viagem ainda nem começou, está apenas no aquecimento e na arrumação da bagagem. O que muitos divulgam como e-book, por enquanto, são apenas livros tradicionais digitalizados. Não se percebeu ainda a totalidade da revolução, que está modificando a própria leitura e o modo de construir o pensamento “escrito”. Os verdadeiros livros eletrônicos poderão ter até textos (com essas figurinhas conhecidas como letras), mas as novas mídias estã0 a compor novos meios de expressão, dentro de diversos suportes do conhecimento, dentro daquilo que é chamada de hipermídia.
É possível que nossa dificuldade em aceitar a nova realidade (sim, acredito que a mídia impressa vai desaparecer, para felicidade geral das florestas) ainda é produto do condicionamento ao pensamento linear, elaborado em séculos com os olhos postos nas linhas dos textos escritos. Lembram-se como era trabalhoso escrever um determinando trabalho e, a todo momento, levantar-se para buscar referências em muitos livros, fazer fichas, anotações, cópias? Quando escrevíamos com a saudosa máquina datilográfica (tem gente das atuais gerações que nunva viu uma), pensávamos que o trabalho era reduzido, rápido e mais bem feito. Mas quando descobríamos que era necessário incluir um parágrafo importante no texto já pronto, babaus: era preciso redigir tudo de novo, a partir da modificação.
Hoje o computador já nos salvou desses trabalhos paleolíticos. E a Internet traça o caminho hipermidiático, no qual já conseguimos conduzir o pensamento à maneira de mosaicos, sem a rigidez da construção linear. Difícil? Nem tanto, se imaginarmos que os chineses e japoneses e todos os que usam linguagem ideográfica já pensam assim.
Agora chegou avez da popularização dos aparatos eletrônicos que permitem a Humberto Eco e Paulo Coelho ler seus livros confortavelmente instalados em suas mornas banheiras. São os readers ou leitores digitais, cada vez mais leves e baratos e que podem arquivar centenas de documentos (tranquilizem-se os mais assustados: podem até ser centenas de livros, destes com uma linha de texto em baixo da outra, até o final…) A Sony já tem seu reader, a Microsoft também. Mas o mais famosos é Kindle, lançado pela Amazon, que não era uma empresa de produtos eletrônicos, mas especializou-se em vender livros. Aliás, é a maior livraria virtual do mundo.
E um dia eles acharam que o livro de papel, que pesa muito e custa caro, além de ter ainda um complexo e demorado sistema logístico para sua entrega, talvez estivesse com seus dias contados. E decidiram investir no desenvolvimento de um aparelho que servisse para a leitura de todos os livros. Ainda mais: também o vendem, nos Estados Unidos, com assinaturas de jornais, como o New York Times, em sua edição eletrônica. Quer saber mais? Clique aqui.
Durante mais de dois anos as vendas se limitaram aos Estados Unidos. Mas há dois meses já estão vendendo o aparelhinho para os brasileiros, com ampla área de cobertura, já que ele funciona com ligação à Internet no modo wireless, sem fio. Mas o problema era o preço. Lá ele é vendido por US$ 259 e chegava até aqui pelo dobro, pois se cobrava o imposto de importação. Sem falar no frete, que não é barato.
Um advogado brasileiro, no entanto, recorreu à justiça e ganhou o direito de importá-lo sem impostos, uma vez que livros são isentos. E o aparelho é apenas um suporte para a leitura, isto é, cada aparelho pode ser comparado a uma biblioteca eletrônica.
Embora este nosso blog não seja veículo para outra coisa que não a Poesia, de alguma forma a novidade está ligada intrinsecamente à leitura e, portanto, interessa ao futuro da arte, que poderá ganhar novos suportes e dimensões. Por isso, apresso-me em divulgar a notícia. Com o convite para que os caros amigos do Banco da Poesia depositem seus comentários. Pode ser uma bela discussão. Abaixo, a notícia divulgada pelo G1, da Globo.
E como no mundo eletrônico e globalizado as notícias são mais rápidas que raios, acabei de saber que a partir de amanhã, 17/12, já estará à venda uma biblioteca eletrônica com um aparelhinho europeu chamado COOL-ER, com caracteristicas semelhantes ao Kindle, e comercializado no Brasil pela Editora Gato Sabido. Clique no nome da editora para saber mais. Vai começar a concorrência e, com ela, a queda nos preços. Aguardemos.
Concedida autorização judicial para importar leitor digital sem impostos
Advogado entrou com mandado de segurança e obteve a autorização. Nos EUA por US$ 259, Kindle tem US$ 266,62 de taxa de importação.
O advogado Marcel Leonardi obteve na Justiça uma autorização para a compra do leitor digital Kindle, da Amazon, sem pagar os impostos referentes à importação do produto. Vendido somente pela loja virtual nos EUA, o produto custa US$ 259, mas para os brasileiros chega a US$ 545,30 (cerca de R$ 956) – dessas taxas, US$ 21 referem-se à entrega, enquanto US$ 266,62 são de importação. Ainda cabe recurso da Receita Federal.
Leonardi entrou com um mandado de segurança no qual alegou que o Kindle possui a função exclusiva de leitor de textos. Por isso, o produto seria abrangido pela imunidade tributária da importação de livros, jornais, periódicos e papel destinado a sua impressão, da Constituição Federal (art. 150, inciso VI, alínea d).
“Essa lei existe para garantir o acesso à cultura, por isso não se pagam impostos na importação de livros. Ela também fala na isenção de papel para a impressão de textos, que já foi estendido para CD-ROMs e mídias eletrônicas em geral. O Kindle se encaixa nessa categoria, pois tem como única finalidade a leitura”, explicou o advogado ao G1 .
Em sua decisão, a juíza federal substituta Marcelle Ragazoni Carvalho, da 22ª Vara Federal de São Paulo, afirmou: “ainda que se trate o aparelho a ser importado de meio para leitura dos livros digitais vendidos na Internet, aquele que goza efetivamente da imunidade, assim como o papel para impressão também é imune”.
Segundo Leonardi, notebooks e aparelhos como o iPhone não poderiam ter os mesmos benefícios, porque além de permitir a leitura de documentos digitais têm outras funções. Dessa forma, eles são considerados eletrônicos e continuam pagando os impostos de importação.
Como a Amazon já cobra dos brasileiros os impostos no ato da compra, o advogado vai adquirir o produto e pedir que ele seja entregue a um contato dos Estados Unidos. O Kindle será então enviado legalmente por correio ao Brasil, com a descrição do produto, e a liminar impedirá a cobrança de impostos aduaneiros do advogado.
“Pelo valor do produto, não vale a pena contratar um advogado para fazer algo parecido. Mas a decisão mostra que a Justiça está a par das novidades tecnológicas. Fiquei surpreso com a qualidade da fundamentação da liminar e, muito provavelmente, a decisão final será igual”, diz o advogado, que pretende comprar seu Kindle logo depois do Natal, quando as lojas fazem promoções.
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