E se todos os dias fossem Natais?
Se dos pensamentos e das bocas de todas as pessoas
saíssem desejos de Feliz Dia e Bom Próximo Amanhã?
E se nos esforçássemos
para que o pão nunca faltasse à mesa de alguém?
E se os realmente desamparados
sempre encontrassem mãos solidárias
dispostas a reerguê-los e a lhes ensinar a conduzir o barco da vida?
E se aprendêssemos a guiar a nau
sem dependência de timoneiros
e de remos mais poderosos que nossa própria vontade de navegar?
Ah, se a tal fraternidade reservada apenas para festas
Se regozijasse todos os dias
e enchesse os corações de alegria permanente…
Como seria bom se nenhuma criança sofresse fome,
frio, tristeza e enfermidades em qualquer dia do ano.
Maravilhoso, mesmo, seria
amar o próximo como a nós mesmos
sem paixões dolorosas,
sem batalhas cruentas,
sem batalha alguma,
sem lágrimas ou lamentações.
E se o erro
— sim, aquele desvio que as sacrossantas pessoas jamais perdoam —
fosse considerado apenas como um tropeço de aprendizado,
uma falha nossa, a que sempre se permitisse remediação e reedição melhorada?
E se aceitássemos que a idéia diferente da nossa
não fosse um antagonismo
mas possibilidade de agregação
e gênese de melhores sonhos e realizações?
E se todos os presentes
os mais baratos das feirinhas e os mais caros dos shopping centers
fossem substituídos por mãos estendidas
e flores nunca arrancadas dos jardins?
Mas enquanto o céu modorrento, insosso e inodoro não vem até nós,
enquanto não transite em julgado a condenação a eternas aulas de lira
e a demorados passeios sem rumo por macias nuvens,
deixemos pelo menos que haja um único dia
em que os abraços sejam realmente amplos, sinceros e energizantes
e que o simbolismo do nascimento
de um menino ainda sem certidão de nascimento
faça parte de nossas vidas
e que sejamos todos irmãos,
mesmo que durante um só feriado.