Intuito
Ilustração: C. de A., com uma ajudazinha de Francisco José de Goya y Lucientes
No prazer dos dias e das noites
procurei teu corpo
no perdido recanto da memória
achava tua sombra vigorosa
Ficava admirado a cada instante
que eles teu nome nunca adivinhassem
em cada fragrância,
em cada aroma estendido
como palma duma mão
que em milhares de rosas progredisse
estavas
sentada no mais amplo silencio,
contemplando os murmúrios do planeta
insinuando teus perfumes
a luz de todos os aconteceres,
clara e consciente
como quem conserva por dentro
aromas a feno, a cravo, loureiro,
num imenso campo, sempre a céu aberto
estavas
qual essas almas grandes que humildes se reconhecem
entre a paciência de quem aguarda
uma vida do inverno renascer
e a vertigem das palavras na boca do adulador,
falseadas por tanta soberba
Habitavam também
teus lábios frescos querendo apoderar-se
na lua clara de março
quando há quarto minguante,
do primeiro movimento, livre de rotação
ou do ocaso duma borboleta,
que três continentes atravessara,
antes mesmo de no vento ser parte
do candor mais suave, dos campos primaveris
aqueles que na tua pele escrevem segredos,
ou navegam florestas
nas que outros inventam mistérios
como veias que orvalham as fragas
para obter alguma lagrima aderida a sua folhagem
onde também limpa te encontras,
bem sei,
no local onde eu sempre aguardo
a chegada das noites
prazeres que em mim atrasas
com a esperança de que abra o espírito
aprenda ouvir, escute
e dentro de teus olhos meninos
possa ao final saborear,
por primeira e única vez, a essência do amanhecer…