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Apelo de Marilda Confortin: PROCURA-SE

Mandado de busca e apreensão contra a Poesia

Procura_se

Senhores, minha poesia escafedeu-se.
Procurem nos seguintes locais:

xxxxxNo calo dos dedos dos músicos,
xxxxxNo quadro negro das escolas,
xxxxxNo fascínio quântico dos físicos,
xxxxxNa placa do cego que esmola.

xxxxxProcurem nos diários e discos rígidos,
xxxxxNos papiros, nas lápides dos túmulos,
xxxxxNas paredes dos banheiros públicos,
xxxxxNas gavetas e nos grafites dos muros.

xxxxxProcurem nas pedras das cavernas,
xxxxxNos evangelhos apócrifos e escrituras,
xxxxxNos templos, conventos e tabernas,
xxxxxNas democracias e nas ditaduras

xxxxxProcurem nas celas e nos parreirais,
xxxxxNos campos de girassóis maduros,
xxxxxNos tercetos modernos e haicais,
xxxxxNo passado, presente e no futuro.

xxxxxProcurem nos álbuns de fotografias,
xxxxxNos bares, museus, sebos e alcorões,
xxxxxSe não encontrarem, revirem as livrarias,
xxxxxCostumam escondê-la nos porões.

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Ver Maisrilda, no cofre do Banco da Poesia:

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e em http://iscapoetica.blogspot.com/

A noite dividida

Na última sexta-feira (15.05.09), Manoel de Andrade e eu fizemos uma balada cultural (não sei se existe, mas deveria) já nos primeiros tremores de Curitiba. O frio está vindo de mansinho, pedindo pousada na terra dos pinheiros que, por sua vez, começam a debulhar os gostosos pinhões.

Bendito AssaltoTínhamos que atender a dois convites, em horários semelhantes. O primeiro começou cedo, mas calculamos que, mais boêmio, poderia se prolongar ad infinitum. O segundo, marcado para as 19 horas, além de estar no roteiro geográfico, pressupunha longas filas: era o lançamento do livro de Domingos PellegriniBendito Assalto. Optamos, portanto, em comparecer inicialmente no simpático Quintana’s Bar, ali na avenida do Batel. Já encontramos uma pequena multidão de amigos e admiradores do escritor londrinense, que lá estava, sentado em ampla mesa, a distribuir autógrafos com auroras cordiais.

Para mim, foram várias festas. Reencontrei Domingos (não me me sinto à vontade ao chamá-lo pelo nome de cartório), reencontrei Dinho, após alguns anos. Sem a barba com que foi anunciado dias atrás, neste blog, parecia ter rejuvenescido. Entrei na fila para abraçá-lo e o reencontro foi mais que o ato social. Entramos em breves recordações de Londrina, com relatórios relâmpagos sobre o tema – o que você está fazendo? E conheci Dalva, a simpática esposa, sempre atenta aos convidados da noite.

Levei também, autografado para minha neta, a publicação infantil de Dinho, O Livro das Perguntinhas, que Mariah, com seus sete aninhos, leu, de uma sentada, no dia seguinte.
LançaLivDinho2
Como não poderíamos deixar os demais convidados à espera, alternamos vários momentos, até o final, no qual recordamos a grata aventura do Novo Jornal, um semanário que fez história na imprensa de Londrina e do qual Dinho foi o primeiro redator-chefe. Lembramos que fomos ele e eu os principais responsáveis pelo nascimento do jornal, após uma visita que ele fez à gráfica onde eu era sócio. Em pouco tempo o projeto gráfico estava pronto e Dinho, moço com ânimo aventureiro, se despedia da mesa que ocupava na Folha de Londrina para dirigir a pequena troupe de jornalistas iniciantes, alguns ainda alunos do curso de Comunicação Social da UEL. Mas essa história será contada brevemente, em uma edição rememorativa que planejamos editar, com o imediato apoio de Nilson Monteiro, um daqueles focas (hoje um excelente jornalista) que puseram fermento saudável na idéia do Novo Jornal, também reencontrado na noite de autógrafos.

Entre os muitos amigos, vi novamente Tereza e Claret de Rezende, com quem compartilhamos uma mesa e um papo dos bons. Ambos já  estão há muitos anos em Curitiba, mas Londrina foi tema recorrente, pois foi lá que nossa amizade nasceu, Claret na Folha e Tereza na universidade.
ManecoDinho1
Manoel de Andrade (outro amigo com diminutivo fraterno) e Domingos Pellegrini também renovaram a amizade recente, mas já solidificada pela literatura. Com oportunidade de trocar figurinhas, como mostra a foto: Maneco levou seu Poemas para a Liberdade para Dinho e recebeu o Bendito Assalto – seria uma espécie de divisão da partilha?…

Demoramos mais que o imaginado, mas foi muito bom compartilhar do sucesso da sessão de autógrafos e de lá sair munido de novos projetos, sobre os quais mais tarde falarei.

E fomos, Maneco e eu, para o Alto da Glória. Para quem não conhece Curitiba, esclareço que não se trata de nenhuma ambição  artística. Trata-se de um bairro da capital do Paraná, bastante tradicional e que já foi morada das famílias que dominaram a economia da erva mate, do final do Século XIX a meados do século XX. Lá se localiza, na reverente Travessa Luthero, o pouco reverente Bar do Mato, um ambiente simples e acolhedor. Encontramos os integrantes da reunião lítero-musical já em adiantada animação, com Marilda Confortin, Daniel Farias e seus inseparáveis violão e boa música, e novos amigos, como Narciso Pires e sua esposa Valquíria. Peço perdão por não guardar o nome de todos, mas destaco os que me premiaram com publicações suas: Raul Pough e Wilson Miran Lopes de Carvalho. Ambos também partícipes da tertúlia, o primeiro dizendo o poema Dote, já depositado no Banco, logo abaixo. O segundo, com sua alma de troubadour nordestino, também pegou na viola e mostrou suas habilidades poético-musicais. Daqui a pouco mostrarei seus trabalhos. E cada um de nós teve oportunidade de cantar poemas, seus ou emprestados.

Enfim, uma noite para guardar no lado agradável da memória. (C. de A.)

Marilda envia seu cadastro

Bem vinda ao nosso estabelecimento, Marilda. Obrigado pelos dados da biografia poética e pelo depósito em moeda estrangeira.

marildatri

Eu sou só uma mulher que sofre de poesia crônica

eu sou só uma mulher que sofre de poesia

eu sou só uma mulher que sofre

eu sou só uma mulher

eu sou só uma

eu sou só

eu sou

eu

.

Cosas de mujer

Ilustração: montagem sobre desenho de Modigliani

midigliani

Tu dijiste que venías.

Fui a la tienda
a comprar flores, vino.
No, no trabajé.
Hice dulces,
buñuelos de lluvia,
pan, el pelo, uñas…

Tu dijiste que venías.

Encendi incienso, di brillo al suelo
Cambié las sábanas de la cama
Toallas, jabones,
Abri las ventanas…

Tu dijiste que venías.

Vestí  ropa dominguera
Sandalias nuevas,
medias finas,
espiritu navideño,
día de cumpleaños,
de final Brasil y Argentina…

Tu dijiste que venías.

Y yo dormí en la sala,
descubierta,
esperándote.

Yo dormí mi vida toda,
encubierta,
esperándote.

Marilda Confortin

http://iscapoetica.blogspot.com/

Nova conta: Marilda Confortin

Recolhi no site www.palavreiros.org uma definição do poeta baiano Goulart Gomes sobre a sua proposta literária Poetrix, hoje um movimento ao qual aderiram muitos poetas. O poetrix deriva do hai-kai, (também grafado haiku ou haiko), composição poética japonesa, popularizada no Brasil,de certa forma, por Millôr Fernandes, que a utiliza de quando em quando, sempre com seu humor inteligente. No Paraná, pelo três poetas expressivos marcaram suas obras com hai-kais: Helena Kolody, Paulo Leminski e Alice Ruiz .

Explica Goulart Gomes: “Foi Aníbal Beça, um dos maiores pesquisadores brasileiros de Hai-Kai, quem gentilmente me falou: ‘Goulart, pode chamar seus inventivos tercetos do que quiser, menos de Hai-Kais’. E ele estava absolutamente certo. Não podemos dizer que suco de uva
é vinho sem álcool. O Hai-Kai (ou Haiko) é uma milenar arte oriental, que vem aprimorando-se com o passar dos séculos. Mexer na essência das coisas significa criar uma coisa nova, diferente da anterior”.

“Assim, necessariamente, o Hai-Kai deve possuir 17 sílabas, divididas em 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas; conter alguma referência à Natureza; referir-se a um evento particular e ater-se ao Presente.”

“O que apresento … – e que também é feito por muitos outros poetas – é o que agora proponho se chame POETRIX (poe, de poesia, poema; trix, de três, terceto), ou seja, a poesia em três versos, o terzetto, originalmente chamado na Itália.”

Com,o exemplo, um poetrix de Goulart:

poetrixtregua1

Em Curitiba, também temos uma poetrixta. Marilda Confortin adeiru com toda força (e muita sensibilidade) ao movimento e foi signatária do segundo manifesto Poetrix, abaixo reproduzido. Segundo a própria poeta, “esse tipo de terceto me caiu do céu. Despencou de uma nuvem de informação chamada internet, empurrado por um diabinho baiano chamado Goulart Gomes, no momento em que eu não escrevia nem lia mais poesia, exatamente por acreditar que era algo inútil”.

marilda11Estivemos juntos na última sexta-feira, na véspera do lançamentro do livro de Dante Mendonça (ver abaixo), com alguns amigos, numa plantação de abobrinhas  com lambaris fritos e  filé mignon no palito. Brincamos de poetas, falamos do humor rápido de Manuel Maria Barbosa du Bocage e Emilio de Menezes. Ela, sempre preocupada com seu trabalho na Prefeitura Municpal, com o qual colabora signficativamente na divulgação da cultura, princpalmente junto à população escolar, prometeu abrir sua conta no Banco da Poesia. Hoje, no final de domingo, quando cheguei em minha casa, após rever Rio Negro e Mafra (minha terra natal) e comer deliciosos pirogues elaborados por D. Leonarda França (que, além de excelente gourmetrice, é professora de literatura), encontrei um comentário de Marilda Confortin no relato de Manoel de Andrade sobre a revista FORMA. Em razão do carinho com o qual foi composto, reproduzo aqui o recado de Marilda e o seu primeiro depósito em forma de poetrix, com minha intromissão gráfica.

Queridos Manoel e Cleto,
sinto uma baita inveja por não ter participado dessa história. Mas, sinto-me privilegiada por ter a oportunidade de conhecê-los, lê-los, ouvi-los e dividir uma mesa de um bar, um lançamento de livro, um cofre nesse banco de poesias ou uma página virtual.
Permitam-me traduzir essa convivência pacífica entre passado, presente e futuro com um Poetrix de minha autoria (o poetrix é o mais recente estilo/jeito/fenômeno/movimento poético internacional, com milhares de adeptos, com coordenação e oficinas virtuais e encontros presenciais)
.

poetrixaldente1

Grande abraço

Marilda

SEGUNDO MANIFESTO POETRIX

Dos males, o menor!

Toda vanguarda será retaguarda: se não podemos ser eternos, sejamos pós-modernos; se não somos pós-doutores, sejamos pós-autores. Todas as ideologias estão mortas, todos os sujeitos fora de lugar.

Viva o Minimalismo e vamos flanar! O poetrixta desfolha a bandeira: descerrar é melhor que dissertar.

Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix! Viva a ciberpoesia!

Fazer poetrix não é fatiar uma frase em três partes. Viva a insubordinação gramatical, a desobediência civil! Abaixo as orações coordenadas e subordinadas!

Fora do título não há salvação.

Não mais que trinta sílabas para dizer o máximo.

E viva o canibal! Viva o caeté que comeu sardinha e viva o Cabral!

Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire! Abaixo os derramamentos da poesia fast-food! Dizer muito, falando pouco. Concisão e coerência. Exploremos os significados polissêmicos das frases, a riqueza semântica
das palavras, valorizemos as metáforas.

Queremos o salto
o susto
a semântica

a leveza
a rapidez
a exatidão
a visibilidade
a multiplicidade
a consistência

Queremos o Século XXI! Vamos acordar o Novo Milênio!

O poetrix é um projétil que se aloja na alma. O poetrix é um vírus em nossa memória discursiva. É a suprasíntese.

Viva Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald e Drummond!

E viva a Poesia! E viva o Poetrix!

Viva a alegria e viva um planeta chamado Bahia!

Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu!

Maior é Deus.

Bahia, Brasil, 28/07/2002.

Goulart Gomes
Sonia Godoy
Edison Veiga Júnior
Oswaldo Francisco Martins
Marcos Gimenes Salun
Isar Maria Silveira
Angela Bretas
Antonio Carlos Menezes
Marilda Confortin
José Nêumanne Pinto
Aila Magalhães
Jussara Midlej