Mandado de busca e apreensão contra a Poesia
Senhores, minha poesia escafedeu-se.
Procurem nos seguintes locais:
xxxxxNo calo dos dedos dos músicos,
xxxxxNo quadro negro das escolas,
xxxxxNo fascínio quântico dos físicos,
xxxxxNa placa do cego que esmola.
xxxxxProcurem nos diários e discos rígidos,
xxxxxNos papiros, nas lápides dos túmulos,
xxxxxNas paredes dos banheiros públicos,
xxxxxNas gavetas e nos grafites dos muros.
xxxxxProcurem nas pedras das cavernas,
xxxxxNos evangelhos apócrifos e escrituras,
xxxxxNos templos, conventos e tabernas,
xxxxxNas democracias e nas ditaduras
xxxxxProcurem nas celas e nos parreirais,
xxxxxNos campos de girassóis maduros,
xxxxxNos tercetos modernos e haicais,
xxxxxNo passado, presente e no futuro.
xxxxxProcurem nos álbuns de fotografias,
xxxxxNos bares, museus, sebos e alcorões,
xxxxxSe não encontrarem, revirem as livrarias,
xxxxxCostumam escondê-la nos porões.
_____________
Ver Maisrilda, no cofre do Banco da Poesia:
Eu saberei encontrá-la, Marilda…, no rastro perfumado da tua busca pelos campos dos girassóis maduros, nos salmos e nos cânticos das escrituras e até no insondável mistério das partículas. Continuarei buscá-la pelo sabor da minha sêde e porque és fonte num lirismo que se esconde e que eu aguardo porque de onde em onde a tua poesia é o meu aperitivo e o meu banquete nos bares onde te encontro.