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Nova conta: Marilda Confortin

Recolhi no site www.palavreiros.org uma definição do poeta baiano Goulart Gomes sobre a sua proposta literária Poetrix, hoje um movimento ao qual aderiram muitos poetas. O poetrix deriva do hai-kai, (também grafado haiku ou haiko), composição poética japonesa, popularizada no Brasil,de certa forma, por Millôr Fernandes, que a utiliza de quando em quando, sempre com seu humor inteligente. No Paraná, pelo três poetas expressivos marcaram suas obras com hai-kais: Helena Kolody, Paulo Leminski e Alice Ruiz .

Explica Goulart Gomes: “Foi Aníbal Beça, um dos maiores pesquisadores brasileiros de Hai-Kai, quem gentilmente me falou: ‘Goulart, pode chamar seus inventivos tercetos do que quiser, menos de Hai-Kais’. E ele estava absolutamente certo. Não podemos dizer que suco de uva
é vinho sem álcool. O Hai-Kai (ou Haiko) é uma milenar arte oriental, que vem aprimorando-se com o passar dos séculos. Mexer na essência das coisas significa criar uma coisa nova, diferente da anterior”.

“Assim, necessariamente, o Hai-Kai deve possuir 17 sílabas, divididas em 3 versos de 5, 7 e 5 sílabas; conter alguma referência à Natureza; referir-se a um evento particular e ater-se ao Presente.”

“O que apresento … – e que também é feito por muitos outros poetas – é o que agora proponho se chame POETRIX (poe, de poesia, poema; trix, de três, terceto), ou seja, a poesia em três versos, o terzetto, originalmente chamado na Itália.”

Com,o exemplo, um poetrix de Goulart:

poetrixtregua1

Em Curitiba, também temos uma poetrixta. Marilda Confortin adeiru com toda força (e muita sensibilidade) ao movimento e foi signatária do segundo manifesto Poetrix, abaixo reproduzido. Segundo a própria poeta, “esse tipo de terceto me caiu do céu. Despencou de uma nuvem de informação chamada internet, empurrado por um diabinho baiano chamado Goulart Gomes, no momento em que eu não escrevia nem lia mais poesia, exatamente por acreditar que era algo inútil”.

marilda11Estivemos juntos na última sexta-feira, na véspera do lançamentro do livro de Dante Mendonça (ver abaixo), com alguns amigos, numa plantação de abobrinhas  com lambaris fritos e  filé mignon no palito. Brincamos de poetas, falamos do humor rápido de Manuel Maria Barbosa du Bocage e Emilio de Menezes. Ela, sempre preocupada com seu trabalho na Prefeitura Municpal, com o qual colabora signficativamente na divulgação da cultura, princpalmente junto à população escolar, prometeu abrir sua conta no Banco da Poesia. Hoje, no final de domingo, quando cheguei em minha casa, após rever Rio Negro e Mafra (minha terra natal) e comer deliciosos pirogues elaborados por D. Leonarda França (que, além de excelente gourmetrice, é professora de literatura), encontrei um comentário de Marilda Confortin no relato de Manoel de Andrade sobre a revista FORMA. Em razão do carinho com o qual foi composto, reproduzo aqui o recado de Marilda e o seu primeiro depósito em forma de poetrix, com minha intromissão gráfica.

Queridos Manoel e Cleto,
sinto uma baita inveja por não ter participado dessa história. Mas, sinto-me privilegiada por ter a oportunidade de conhecê-los, lê-los, ouvi-los e dividir uma mesa de um bar, um lançamento de livro, um cofre nesse banco de poesias ou uma página virtual.
Permitam-me traduzir essa convivência pacífica entre passado, presente e futuro com um Poetrix de minha autoria (o poetrix é o mais recente estilo/jeito/fenômeno/movimento poético internacional, com milhares de adeptos, com coordenação e oficinas virtuais e encontros presenciais)
.

poetrixaldente1

Grande abraço

Marilda

SEGUNDO MANIFESTO POETRIX

Dos males, o menor!

Toda vanguarda será retaguarda: se não podemos ser eternos, sejamos pós-modernos; se não somos pós-doutores, sejamos pós-autores. Todas as ideologias estão mortas, todos os sujeitos fora de lugar.

Viva o Minimalismo e vamos flanar! O poetrixta desfolha a bandeira: descerrar é melhor que dissertar.

Nada se cria, tudo se copia, concluíram Bakhtin e Chacrinha. Então, vamos hiper, intra e intertextualizar, sejamos dialéticos, digitais e dialógicos. Queremos a inter/ação, queremos o simulacro, a paródia, o pastiche, o duplix, o triplix, o multiplix, o grafitrix, o clonix, o concretrix! Viva a ciberpoesia!

Fazer poetrix não é fatiar uma frase em três partes. Viva a insubordinação gramatical, a desobediência civil! Abaixo as orações coordenadas e subordinadas!

Fora do título não há salvação.

Não mais que trinta sílabas para dizer o máximo.

E viva o canibal! Viva o caeté que comeu sardinha e viva o Cabral!

Vamos privilegiar a inteligência do leitor! Que ele morda, mastigue, engula e faça a digestão. Que se vire! Abaixo os derramamentos da poesia fast-food! Dizer muito, falando pouco. Concisão e coerência. Exploremos os significados polissêmicos das frases, a riqueza semântica
das palavras, valorizemos as metáforas.

Queremos o salto
o susto
a semântica

a leveza
a rapidez
a exatidão
a visibilidade
a multiplicidade
a consistência

Queremos o Século XXI! Vamos acordar o Novo Milênio!

O poetrix é um projétil que se aloja na alma. O poetrix é um vírus em nossa memória discursiva. É a suprasíntese.

Viva Bakhtin, Kristeva, Calvino, Oswald e Drummond!

E viva a Poesia! E viva o Poetrix!

Viva a alegria e viva um planeta chamado Bahia!

Viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu!

Maior é Deus.

Bahia, Brasil, 28/07/2002.

Goulart Gomes
Sonia Godoy
Edison Veiga Júnior
Oswaldo Francisco Martins
Marcos Gimenes Salun
Isar Maria Silveira
Angela Bretas
Antonio Carlos Menezes
Marilda Confortin
José Nêumanne Pinto
Aila Magalhães
Jussara Midlej