Arquivo da tag: mulher

A salvadorenha Yanira Soundy

A dona dos belos poemas publicados abaixo vem de El Salvador, na América Central.  A nova poeta que o Banco da Poesia recebe agora é Yanira Soundy,  nascida em novembro de 1964, filha do arquiteto e pintor Edgar Soundy e Amália Trigueros de León de Soundy. Tem três filhos, Camila Marisol, Rebeca Lourdes e Edgard. É sobrinha do escritor e editor Ricardo Trigueros de León.

Advogada , escritora e colunista, publicou as primeiras linhas de seus contos e prosas poéticas nas páginas de La Prensa Gráfica, com a idade de 19 anos.Em 1987, colaborou com sua poesia em Filosofía, Arte y Letras e em El Diario de Hoy e  com artigos e reportagens sobre direitos humanos em ambos os veículos. Neste fazer jornalístico obteve o Prêmio Nacional UNICEF – Imprensa Escrita, no ano de 1992.

Yanira Soundy ganhou o  Prêmio Santillana IPEC, outorgado pela Fundação Santillana para Ibero-América no ano de 1998, graças a seu trabalho Comunicação Total para Crianças Surdas. Recebeu também o Prêmio Versal Editores em 1999, pelo qual sua obra foi selecionada para participar da antologia poética Las Caras del Amor (Andover, Massachussets, Estados Unidos e Québec, Canadá), com distribuição em trezentos países do mundo.

No ano 2001 o Centro Nacional de Registro de El Salvador lhe conferiu a honra de reconhecer sua trajetória e seu trabalho como escritora e poeta salvadorenha em nível nacional e, no ano de 2002,sua obra é publicada no livro Poésie Salvadorienne du XXe Siécle, editado na Suíça pela especialista em História da Literatura Latino-americana Maria Poumier. Em 2003 recebeu da Assembléia Legislativa de El Salvador o reconhecimento por haver apresentado à Comissão de Legislação e Pontos Constitucionais propostas de reformas à Constituição da República de seu país  e diferentes leis complementares em favor de pessoas surdas e pessoas cegas, com o propósito de que estas tenham a capacidade plena para celebrar atos jurídicos, públicos e privados, em forma legal. Em 2004 recebeu o reconhecimento honorífico  da Fundação Avon da América Central por seu trabalho e favor da comunidade surda salvadorenha.

Tito Mosquera Irurita, advogado, escritor, professor e  ex-Embaixador da Colômbia em El Salvador,  se referiu a ela, dizendo que “a elegância literária de Yanira reside, em minha  opinião, no pretender ser elegante,rebuscada ou erudita. Seu léxico é o de cada dia, como água cristalina da fonte. Nos versos de Yanira há uma palpitação tão forte de vida, um ritmo iminente tão espontâneo e tão cálido que seus poemas nos põem em comunicação direta com a emoção que lhes deu origem, no que esta emoção tem de incoercível e de vital.”

Fonte: http://www.artepoetica.net/yanirasoundy.htm

_____________________________________________________________________________

A ese hombre

Yanira Soundy, El Salvador


Pienso en ese hombre que besa
como si el mar fuera a desbordarse,
que siembra su sonrisa en mi piel con la altivez de la espiga,
que dibuja mi soledad sobre la niebla.

Pienso en ese hombre, dócil a mis ojos, fiel, pleno, íntegro.
En su vuelo humedecido sin tiempo y sin espacio.
Como primavera sobre el trigo del otoño.

Pienso en ese hombre que inventa soles, aguas de seda al tacto
y una verdad sencilla para amarme.
Ese hombre cierto, inconstante, mío.
En el callado temblor de sus latidos,
en sus ojos de oscuros desafíos.

Pienso en ese hombre que me espera con dulce arrobamiento.
En su cabello de trigo que me inunda
en un pleamar de pétalos y trinos.

Ese hombre:
Sol salvaje, río de música y silencio, pájaro en el alba.
Pienso en ese hombre
y hay aroma en la música y color en el aroma,
claveles recién abiertos y flores niveas en mis sueños.

A esse homem

Penso nesse homem que beija
como se o mar fora desbordar-se,
que semeia seu sorriso en minha pele com a altivez da espiga,
que desenha minha solidão sobre a névoa.

Penso nesse homem, dócil a meus olhos, fiel, pleno, íntegro.
Em seu voo umedecido sem tempo e sem espaço.
Como primavera sobre o trigo do outono.

Penso nesse homem que inventa sóis, águas de seda ao tato
e uma verdade singela para amar-me.
Esse homem certo, inconstante, meu.
No calado tremor de suas pulsações,
em seus olhos de escuros desafios.

Penso nesse homem que me espera com doce arrebatamento.
Em seu cabelo de trigo que me inunda
em um preamar de pétalas e trinos.

Esse homem:
Sol selvagem, rio de música e silêncio, pássaro na alba.
Penso nesse homem
e há aroma na música e cor no aroma,
cravos recém abertos e flores níveas em meus sonhos.

Esa mujer

Yanira Soundy, El Salvador


Soy esa mujer, la que no amas. El seno desnudo de tu
agónica luz, el enjambre prendido de tus ramas, el cristal
que sueña tu mirada.

Soy esa mujer, la que no amas. Breña, mata, punzante
jarra, calle muda por donde no se escuchan tus pasos y
cuerpo desnudo para el eclipse de tus ojos.

Soy esa mujer, la que te toca demente.
Mil veces presa de ti en la delgadez del agua.
Pecho en fiebre que ambiciona tus besos, solo, adusto,
hecho pámpano ardiente.

Soy el anhelo inseguro que te acecha, la palabra que se
deslíe de tus labios húmedos chispeante entre la niebla.

Soy esa mujer, la que espera por ti, y sigue la ruta de tus
manos, tu cuello, tu voz y tus caminos. La que guarda tu
pasión, desafiando al escollo y la calma, olvidando tu
incansable deseo de volar, y ser en mí tan sólo agua al
trasluz y cielo de mi costa.

Soy esa mujer, un espacio inmenso, torrente en tu valle,
murmullo de tu ráfaga, amor que late en lo infinito, firme
y deslumbrante. Esa que siembra los surcos y su orgullo
entre las flores.

Y tú, hombre: pena y alegría, no aprendes que después
será muy tarde.

Essa mulher

Sou essa mulher, a que não amas. O seio desnudo de tua
agônica luz, o enxame pendido de teus ramos, o cristal
que sonha teu olhar.

Sou essa mulher, a que não amas. Brenha, mata, pungente
jarra, rua muda por onde não se escutam teus passos e
corpo desnudo para o eclipse de teus olhos.

Sou essa mulher, a que te toca demente.
Mil vezes presa de ti na delgadez da água.
Peito em febre que ambiciona teus beijos, solo, adusto,
feito sarmento ardente.

Sou o anseio inseguro que te espreita, a palavra que se
dilui de teus lábios úmidos faiscante entre a névoa.

Sou essa mulher, a que espera por ti, e segue a rota de tuas
mãos, teu pescoço, tua voz e teus caminhos. A que guarda tua
paixão, desafiando o escolho e a calmaria, esquecendo teu
incansável desejo de voar, e ser em mim tão somente água à
contraluz e céu de minha costa.

Sou essa mulher, um espaço imenso, torrente em teu vale,
murmúrio de tua lufa, amor que pulsa no infinito, firme
e deslumbrante. Essa que semeia os sulcos e seu orgulho
entre as flores.

E tu, homem: pena e alegria, não aprendes que depois
será muito tarde.

________________

Versão ao Espanhol e Ilustrações: C. de A.

Uma conta para Saramar

Quero abrir conta corrente, neste Banco da Poesia, em nome de Saramar Mendes de Souza, poeta goiana. Ou, simplesmente, Saramar, nome que já é um poema de apenas sete letras, como as notas da escala musical. Há algum tempo, ela se autodefinia como uma “aprendiz de poeta, em constante luta com as palavras”. Pura enganação. Fingimento de poeta, como diria Pessoa, já que ela domina as palavras com maestria. Hoje, a descrição de si mesma é mais singela: “Sou apenas uma mulher tentando escrever sobre sentimentos, emoções e algumas dores”.

Conheci Saramar por outros caminhos, não os abertos pela poesia. Frequentamos, durante algum tempo, uma comunidade da Internet preocupada com os destinos deste país e nos identificamos em alguns comentários. Ela gostou de um texto meu e pediu licença para publicá-lo no blog Outras Letras, mantido por um amigo seu. Foi depois disso que descobri a imensidão poética que nela habita. Visitei seus blogs, indicados em seu perfil. Aliás, um perfil que não esconde, por exemplo, sua idade, mas não revela outras qualidades que por certo lhe acompanham.

Lembro que, entusiasmado, fiz um comentário elogioso em um de seus poemas publicado no Flanarfalares (veja, abaixo, os endereços dos principais que ela criou e administra) e enviei uma mensagem para alongar meus elogios: Hoje matei o tempo a vaguear (ou flanar?) pela Internet e decidi conhecer um pouco mais de minha prolífica amiga, mãe de encantadas escrevinhações e doces falares. Busquei por seu nome no Google e voilà! você é mais que domínio público, de tão conhecida por este mundão. Foi melhor que uma taça de vinho tomada no Santo Graal! Escarafunchei quase tudo e só parei para poder economizar mais sabores para outras ocasiões. Estou verdadeiramente deslumbrado com sua poesia, embora tão impregnada de solitudes. Temos muitas coincidências a enfeitar nossas vidas: nascemos em um dia 9 (eu, 9 de maio), gostamos de boleros e MPB e amamos as palavras mágicas da poesia: ambos pessoanos declarados. Muito obrigado pela tarde maravilhosa que lhe roubei, sem pedir licença. Como não concordo com seu perfil de “aprendiz de poeta, em constante luta com as palavras”, resolvi pagar o tempo furtado com outra escrevinhada, louvando as palavras como nossas ternas e eternas amigas, mesmo quando as usamos para nos defender da áspera insensibilidade de tantas pessoas. Declaro, perante a Humanidade, que me senti orgulhoso por você ter-me incluído entre seus amigos, que já se contam aos milhares.

Espero que Saramar me perdoe pela abertura desta conta corrente, feita sem prévio consentimento da correntista. Juro que minha intenção não é a mesma dos demais bancos e administradoras de cartões de crédito que nos mandavam (agora já é proibido) cartões não solicitados. A sua inclusão em nosso rol de “clientes”, além de homenagem mais que merecida por seu trabalho poético, intenciona motivar outros possíveis depositantes, neste começo de vida do Banco da Poesia. E a inauguração ficaria incompleta sem o registro de sua presença.

Escolhi quatro poemas de Saramar entre os últimos publicados. Não usei qualquer critério para a escolha, pois não é preciso ser criterioso em relação à sua obra para se obter poesia da melhor qualidade.

Para quem quiser conhecer mais sobre o oceano de sensações de Saramar, aqui vão os endereços de quatro de seus principais blogs. A partir deles, os leitores poderão descobrir outras veredas da poesia saramariana, inclusive em publicações internacionais.

Escrevinhações  http://lidosevividos.blogspot.com/
Falares http://flanarfalares.blogspot.com/
Abrindo janelas http://abrindojanelas.blogspot.com/
Eufeminismos http://eufeminismos.blogspot.com/

Como sempre, visito seu mundo de sensibilidade sem pedir licença, como fiz em uma tarde antiga e em muitas ocasiões posteriores. Terei seu perdão?

A alguém

Alguém diz com lentidão:
” Lisboa, sabes…”
Eu sei. É uma rapariga descalça e leve,
um vento súbito e claro nos cabelos…”
Eugénio de Andrade

caminhobl

A alguém, um único alguém, importam todos os versos.
Se, por acaso, desarvorado, outro alguém degusta a ânsia
das minhas palavras espalhadas em arremedo de poemas
e nelas bebe o que me sacia e me abre os céus do amor,
percebe logo, em uma ou outra linha dispersa e morna,
que todas as luas acesas e os beijos estão encantados
do feitiço mais improvável.

Não me culpe, nem queira desvendar meu sentir,
se, porventura, alguma palavra tange a corda do querer
e desperta o desejo de amor semelhante a este meu amor
que não se cala, antes abre-se como portas arrebatadas pelo vento.

Não, não me culpe e nem me peça o que já não me pertence.
O meu amor, insubmisso e alheio ao que lhe nega o existir,
anda perdido pelos caminhos, buscando os rumos
de quem o tomou sem pressentir.

Saramar

Silêncio

silenciobl

Da saudade já disse
e da boca nua e fria
de desolação.
Adormeço as palavras na pele
na mudez de todo dia.
O silêncio espanta o sono
guardado no verbo insensato
de quem ama o desvario,
de quem planta o pranto.
Já mais não falo
meu silêncio agoniado
dói nos olhos da noite.
Insone sigo
olhando a dor por dentro.

Saramar

Amantes de outonos ou dos pedidos ao tempo

outono3

É de outonos que me disfarço,
vento na manhã,
o tempo violando cortinas,
passos tangidos na premência de ser já primavera
colorindo estes muros mortos de sono.

Nas calçadas inelutáveis dos dias,
ao som dos saltos e do gemido das folhas,
o vento se despedindo do que fora árvore
sonho o destino dos pássaros, alto,
de caminhar entre o vento.
(e chegar, enfim, aos teus braços).

Nos outonos de que me visto,
nunca te esqueço e, como pedes,
peço ao tempo as horas maiores
de voltear em teus braços
frágil fêmea em flerte,
nas mais tontas danças,
o vento voluteando-nos.

Eu peço ao tempo, o maior do dia
a hora mansa e quente
os chãos de amar
em cores de amantes,
semelhantes, todos semelhantes
no querer.
peço ao tempo, o tempo de te encontrar.

Saramar

Rendas de sal

“Invento o amor e sei a dor de me lançar
Eu queria ser feliz
Invento o mar…”
Milton Nascimento e Ronaldo Bastos

rendabl

Rendo-me ao improvável navegante
de minhas águas
marés ignoradas.
Rendo-me
ao que nunca me abraça
ao barco que passa além
e seus olhos de não ver ressacas e remansos
areia de palavras, decorada
que espalho, de tempos em tempos.
Rendo-me ao vento inocente dos dias
que apaga o sonho, ao passar
e leva o aroma dos beijos
e leva quem amava para outro e longe mar.
Rendo-me à ardente constância das águas
presas nestes meus olhos
e à abstinência dos sentidos
nestes frios lençóis, perdidos.
Rendo-me
e me sufocam os bordados
e as flores tristes
à espera do navegante para sempre longe
destas rendas que, de amor,
teci.

Saramar