Em linha reta, menos de mil quilômetros os separavam. Um em Montevidéu, outro em Porto Alegre. Em linhas poéticas, nenhuma separação, a não ser de idéias individualizadas. Ambos buscavam a palavra simples, mas de enorme carga emocional. Ambos Mário. Um Benedetti, o outro Quintana. Ambos poetas que já se foram. Ambos menestréis do amor e da paz que ficarão entre nós eternamente.
Este post é dedicado a Manoel de Andrade, em regozijo à sua pronta recuperação.
Utopía
Mário Benedetti
Cómo voy a creer / dijo el fulano
que el mundo se quedó sin utopías
cómo voy a creer / dijo el fulano
que el universo es una ruina
aunque lo sea
o que la muerte es el silencio
aunque lo sea
cómo voy a creer
que el horizonte es la frontera
que el mar es nadie
que la noche es nada
cómo voy a creer / dijo el fulano
que tu cuerpo / mengana
no es algo más de lo que palpo
o que tu amor
ese remoto amor que me destinas
no es el desnudo de tus ojos
la parsimonia de tus manos
cómo voy a creer / mengana austral
que sos tan sólo lo que miro
acaricio o penetro
cómo voy a creer / dijo el fulano
que la utopía ya no existe
si vos / mengana dulce
osada / eterna
si vos / sos mi utopía.
Utopia
Como vou crer / disse o fulano
que o mundo ficou sem utopias
como vou crer / disse o fulano
que o universo é uma ruína
ainda que o seja
ou que a morte é o silencio
ainda que o seja
como vou crer
que o horizonte é a fronteira
que o mar é ninguém
que a noite é nada
como vou crer / disse o fulano
que teu corpo / sicrana
não é algo mais do que apalpo
ou que teu amor
esse remoto amor que me destinas
não é o despir-se de teus olhos
a moderação de tuas mãos
como vou crer / sicrana austral
que és tão somente o que vejo
acaricio ou penetro
como vou crer / disse o fulano
que a utopia já não existe
se tu / sicrana doce
ousada/ eterna
se tu / és minha utopia
Versão: C. de A.
Das Utopias
Mário Quintana
Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
de: Espelho Mágico