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Confissões de L. Rafael Nolli

O leão nosso de cada dia

L. Rafael Nolli, Araxá

Para Cássio Marcos Amaral

Hoje, sou exatamente aquilo que tenho:
centavos que não compravam felicidade alguma
uma úlcera metafísica,
que não me acompanhará ao infinito
dezenas de poemas sobre a exaltação do homem
………..e a felicidade tola dos desvairados.

Hoje, sou tudo que tenho:
um sonho de primavera
amadurecendo o coração dos brutos
um gosto de beijo nunca dado
uma iluminação repentina e irremediável,
………..que me levaria ao céu, se o quisesse.

Hoje, nada além dos meus pertences é o que sou:
uma dor de cabeça debutante
migalhas de pão presas à barba
um projeto de poesia
que me remediará de todo o mal do mundo —
depois de escrito me trairá covardemente,
por não saber nada além
………..do que suas palavras dizem.

Hoje, sou exatamente o que tenho:
………..mas é nu que espero o amanhã.