
Timor Leste ocupa apenas metade da área total da ilha, a parte oriental, além de um enclave na metade oeste, que é ainda dominada pela Indonésia
Já publiquei um poema sobre o Timor Leste, escrito pela poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andressen (leia aqui). Agora chegou a vez dos timorenses da gema, nossos mais recentes irmãos lusófonos. Eles vivem em uma pequena ilha do Oriente, em território menor que Sergipe, que é o nosso menor estado. Seu nome oficial é República Democrática de Timor-Leste. É um dos países mais jovens do mundo e ocupa a parte oriental da ilha de Timor, na Ásia, além do enclave de Oecussi, na costa norte da banda ocidental de Timor. Pertencem ainda à nova república a ilha de Ataúro, a norte, e o ilhéu de Jaco, ao largo da ponta leste da ilha. As únicas fronteiras terrestres que o país tem ligam-no à Indonésia, a oeste da porção principal do território, e a leste, sul e oeste de Oecussi-Ambeno, mas tem também fronteira marítima com a Austrália, no Mar de Timor, a sul. Sua capital é Díli, situada na costa norte.Possui cerca de 1 milhão e 200 mil habitantes
Timor já era habitada há cerca de 12 mil anos a.C. Os portuguesses aportaram na ilha em 1512 e passaram a explorá-la em razão de seus produtos naturais, principalmente o sândalo, madeira utlizada inclusive para a perfumaria. Depois de passar quatro séculos como possessão portuguesa, Timor foi invadida pela Indonésia, em uma temporada histórica conturbada e destruidora, que durou praticamente de 1975 a 1999. Mas o território é agora propriedade de uma gente brava e sensivel, onde a poesia sempre foi tradição.
Vamos saudá-la com cinco de seus poetas.
Poema Ancestral
xxxxxxCrisódio T. Araújo
Lembra os dias antigos
Em que cantavas a pureza
Na nudez dos teus passos e gestos
Ou dançavas na inocente vaidade
Ao som dos «babadok».
Relembra as trevas da tua inquietação
E o silêncio das tuas expectativas,
As chuvas, as memórias heróicas,
Os milagres telúricos,
Os fantasmas e os temores.
Tenta lembrar a herança milenar dos teus avós
Traduzida em sabedoria
E verdade de todos.
Recorda a festa das colheitas,
A harmonia dos teus Ritos,
A lição antiga da liberdade,
Filha da natureza.
Recorda a tua fé guerreira,
A lealdade,
E a ternura do teu lar sem limites,
Nos caminhos do inesperado
Ou no improviso da partilha definitiva.
Lembra pela última vez
Que a história da tua ancestralidade
É a história da tua Terra Mãe…
Meninos e Meninas
xxxxxxFernando Sylvan
Todos já vimos nos livros,
nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de meninas e meninos
a defender a liberdade de armas na mão.
Todos já vimos
nos livros, nos jornais, no cinema e na televisão
retratos de cadáveres de meninos e meninas
que morreram a defender a liberdade de armas na mão.
Todos já vimos!
E então?
Menino de Timor
xxxxxxJorge Barros Duarte
Menino de Timor, estás triste?!…
Porquê?!… — Não tenho com quem brincar!
Nem com quem!… Já nem posso falar!…
A minha terra correste e viste
Como só há silêncio e tristeza!…
Assim é na palhota que habito!…
Já nem oiço na várzea um só grito!…
Só vejo gente que chora e reza!…
Que saudade que eu tenho dos jogos
Da minha aldeia agora deserta!…
O “La’o-rai”, que a memória esperta,
Co’as pocinhas na terra, ora a fogos
Mil sujeita!… O “caleic” também era
jogo apreciado da pequenada:
“Hana-caleic”!… de tudo já nada
Resta agora!… Só vejo essa fera
De garra adunca e dente aguçado
A rugir tão feroz que ninguém
A doma já, pois tem medo não tem
De um povo à fome, sem horta ou gado!…
Menino, sou, mas sofro já tanto
Como se fora de muita idade
E co’a alma cheia só de maldade!…
Jesus, tem pena deste meu pranto!…
Jesus Menino, dá-me alegria!…
Se na minha terra é tudo tão triste!…
Gente tão má neste mundo existe?!…
Coisas assim tão ruins?!… Não sabia!…
Não mais sob a árovore de Bô
xxxxxxJorge Lauten
Não mais a pureza de Ramahyana
o incenso e o sândalo
os pés nus nas pedras do templo
enquanto eles comerem na minha mesa
na velha casa de Dili
não mais me sentarei sob a árvore de Bô
Linha de Rumo
xxxxxxRuy Cinatti
Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado…
Olho em meu redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.
Tanto tempo perdido…
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campo de flores
E silvas…
Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.
Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
Adrede.