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Parabéns, J.B. Vidal, o Palavreiro de dois anos!

Há um ano, eu tive a oportunidade de cumprimentar meu amigo João Bosco Vidal, poeta e editor de  Palavras, Todas Palavras, pelo primeiro aniversário de seu blog. Estávamos sem comunicação, pois Vidal, recém migrado para a Ilha de Nossa Senhora do Desterro, popularmente conhecida como Floripa, enfrentava as chuvas torrenciais que alagaram Santa Catarina, naqueles meses de novembro e dezembro de 2008. Nosso receio era que a iniciativa do poeta gaúcho se perdesse também nas lágrimas da intempérie. Um bando de amigos passou a procurá-lo na nuvem intenetiana, mas nem o Vidal físico, nem o virtual apareciam.

Felizmente tudo foi esclarecido, sem que tivéssemos necessidade de pedir os préstimos da Scotland Yard, do FBI ou da Interpol, uma vez que Palavras, Todas Palavras já não era assunto nacional, pois em apenas um ano de vida já havia extrapolado as fonteiras brasileiras.

E mais um ano se passou. Com o seu blog revigorado, Vidal somente é lamentado pelos amigos curitibanos por não estar mais por aqui. Mas isso também se transforma em incentivo para que, de vez em quando, o procuremos em sua nova residência na Praia dos Ingleses, onde ele e Rosângela recebem os amigos com fidalguia e iguarias dignas de ceias de cardeais.

Como homenagem aos dois anos de trabalho cultural do poeta, publico um dos poemas de seu próximo livro, Ofertório, ainda sem data marcada para lançamento, em que o paganismo místico de Vidal se revela com toda a força. Tive o privilégio de ser convidado para verter seus poemas ao Espanhol, pois a edição será bilíngue.

Eis, portanto, uma amostra do livro, com uma ilustração minha (a contragosto do poeta: segundo ele, as imagens gráficas distraem os leitores do conteúdo das palavras; como aqui ele não manda…). E repito o abraço que já mandei hoje pela manhã, em um comentário no seu blog. (C. de A.)

Ofertório – Dor

a dor que ofereço não foi provocada
nem   apascentada por mim e a solidão
veio com a chuva, c’os raios
com os anéis de saturno, na cauda do meteoro
fez poeira de lágrimas
e instalou-se nesta podridão

soube então da dor de parir
e parido fui,
da dor da fome e fome senti
da dor do sangue e o sangue correu
em minha’lma gnóstica
a dor assumiu e sobreviveu

quero então oferecer
esta dor maior  que o corpo
mais que desprezo e humilhação
mais que guerras e exploração
mais que almas aleijadas
mais que humanos em farrapas degradação

ofereço a dor do amor que amei
da partida sem adeus
da saudade sem sentir
da espera inquietante
do futuro irrelevante
ofereço a dor da ânsia divina de morrer

Ofertorio – Dolor

el dolor que ofrezco no fue provocado
ni apacentada por mi y la soledad
vino con la lluvia, con los radios
con los anillos de saturno, en la cola del meteoro
hizo polvo de lágrimas
y se instaló en esta podredumbre

supe entonces del dolor de parir
y parido fui,
del dolor del hambre y hambre sentí
del dolor de la sangre y la sangre corrió
en mi alma gnóstica
el dolor asumió y sobrevivió

quiero pues ofrecer
este dolor mayor que el cuerpo
más que desprecio y humillación
más que guerras y exploración
más que almas tullidas
más que humanos en guiñaposa degradación

ofrezco el dolor del amor que he amado
de la partida sin adiós
de la nostalgia sin sentir
de la espera inquietante
del futuro irrelevante
ofrezco el dolor de la ansiedad divina de morir

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Versão e ilustração: Cleto de Assis