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A água inerte de Gabriela

Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nascida em Vicuña, Chile, a 7 de abril de 1889, escolheu um nome mais curto para assinar seu belo trabalho poético. Gabriela Mistral foi o nome que se notabilizou e alcançou o prêmio Nobel de Literatura de 1945, antes mesmo de seu patrício e colega Pablo Neruda, que o ganhou em 1971. E Mistral por quê? É o nome de um vento típico do sul da França, também chamado de vento de Outono, que transporta ar de alta densidade pelas colinas abaixo. Um vento catabático (do grego katabatikos, descendo colinas). Gabriela soube domá-lo e com ele cavalgar pelo reino da Poesia, ora a fazer emergir o amor, outras vezes a extrair emoções da memória, cheias de dor e mágoa. Mas Gabirela Mistral também cantou os elementos vitais e a própria água. Neste Dia Internacional da Água, lembramos um de seus belos poemas, em que observa a chuva, “este fino pranto amargo” que verte sobre a terra.

LA LLUVIA LENTA

Esta agua medrosa y triste,
como un niño que padece,
antes de tocar la tierra
……….desfallece.

Quieto el árbol, quiero el viento,
¡y en el silencio estupendo,
este fino llanto amargo
……….cayendo!

El cielo es como un inmenso
corazón que se abre, amargo.
No llueve: es un sangrar lento
……….y largo.

Dentro del hogar, los hombres
ni sienten esta amargura,
este envío de agua triste
……….de la altura.

Este largo y fatigante
descender de agua vencida.
hacia la Terra yacente
……….y transida.

Bajando el agua inerte,
callada como un ensueño,
como las criaturas leves
……….de los sueños.

Llueve… y como chacal lento
La noche acecha en la tierra.
¿Qué va a surgir, en la sombra,
……….de la Tierra?

¿Dormiréis, mientras afuera
cae, sufriendo, esta agua inerte,
esta agua letal, hermana
……….de la Muerte?

A CHUVA LENTA

Trad. de Ruth Sylvia de Miranda Salles

Esta água medrosa e triste,
como criança que padece,
antes de tocar a tierra,
……….desfalece.

Quietos a árvore e o vento,
e no silêncio estupendo,
este fino pranto amargo,
……….vertendo!

Todo o céu é um coração
aberto em agro tormento.
Não chove: é um sangrar longo
……….e lento.

Dentro das casas, os homens
não sentem esta amargura,
este envio de água triste
……….da altura;

este longo e fatigante
descer de água vencida,
por sobre a terra que jaz
……….transida.

Em baixando a água inerte,
calada como eu suponho
que sejam os vultos leves
……….de um sonho.

Chove… e como chacal lento
a noite espreita na serra.
Que irá surgir na sombra
……….da Terra?

Dormireis, quando lá foram
sofrendo, esta água inerte
e letal, irmã da Morte
……….se verte?

Vicente Gerbasi viaja a Petra

Petra

Petra, cinceladas fueron tus montañas de piedra multicolor,
y de tus montañas surgieron columnas,
escalinatas, viviendas, bancos, templos, panaderías.
En ti los siglos reverberan en el sol ardiente.
En ti la noche suena con aullidos de chacales.
En ti los aerolitos caen como serpentinas en un cementerio.
Tu Palacio de Justicia es una tumba.
Cada una de tus casas
perforaradas en los colores es una tumba.
Petra, eres un cráneo de piedra abierto al azul caliente.
Petra, eres semejante a la tumba de la muerte.
Tus aposentos, tus cocinas, tus columnas, tus estatuas
siguen muriendose en tu imantada intemperie.
(Viajero, si vas a Petra,
cuidate de la muerte.)

En Petra está muerto el tiempo.

Petra, cinzeladas foram tuas montanhas de pedra multicor,
e de tuas montanhas surgiram colunas,
escadarias, vivendas, bancos, templos, padarias.
Em ti os séculos reverberam no sol ardente.
Em ti a noite soa com uivos de chacais.
Em ti os aerólitos caem como serpentinas em um cemitério.
Teu Palácio da Justiça é uma tumba.
Cada uma de tuas casas
perfuraradas nas cores é uma tumba.
Petra, és um crânio de pedra aberto ao azul escaldante.
Petra, és semelhante à tumba da morte.
Teus aposentos, tuas cozinhas, tuas colunas, tuas estátuas
continuam a morrer em tua imantada intempérie.
(Viajante, se vais a Petra,
cuida-te da morte.)

Em Petra está morto o tempo.

Do livro De Otras Geografías, em Los Colores Ocultos. Caracas: Monte Avila Editores, 1985

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Tradução e ilustração: C. de A.