Posso dizer que o Banco da Poesia tem o dedo de J. B. Vidal, o poeta e editor de Palavras, Todas Palavras (http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/). Foi a ele que, durante a Semana da Poesia do ano passado, organizada por Manoel de Andrade, revelei a primeira idéia: organizar uma cooperativa de poetas. Depois, mais uma influência do poeta auto-desterrado (que inveja!) na Ilha do Destêrro – a sua prolongada ausência na Internet, durante as chuvas de verão que quase arrasaram Santa Catarina e não permitiram que Vidal instalasse o seu QG eletrônico para prosseguir seu prolífico trabalho de blogueiro protetor da Poesia.
De idéia em idéia, surgiu o Banco da Poesia, mas como simples ponto de encontro de poetas e de amantes da poesia. E, para alegria nossa, Vidal manda seu primeiro depósito, um poema com arcabouço mitológico, no qual expressa reflexões existenciais, pedindo intervenção aos deuses do Olimpo. Bem vindo seja, não só como poeta e amigo, mas como padrinho do Banco. Para saudá-lo, reuni, na montagem ilustrativa, os deuses invocados.
MAIÊUTICO
avejão helênico devasso a Hélade anosa,
perscruto Héstia, atenso para copular cioso,
tempestades de parêmias assolam a fleuma,
desértico, acuo na abóbada célica
incidências de ardis no Templo,
inerme ausência de Eros,
zeugmas pairam sobre pélagos,
imanes ofídios balétam virtuosos,
deuteragonista no drama litúrgico,
postergado por Zeus, exsolvido no Olimpo,
Zeus! Ares! Eros! onde estais? por que a indiferença?
novos Titãs fazem guerras de outra essência,
átomos divisos, gases letais descem dos céus!
Hélade existe, também morrem os seus!
amada Héstia, socorra-me com tuas virgens,
permita, por um instante, ser um deus!
retorno exaurido desta viagem reminiscente,
deixei-me levar como se de fato fosse,
ilusão de não estar onde estou e não me sinto,
morre em mim tudo que sonho, nada fica pra depois,
sentidos, pensamentos, escorrem pelas carnes,
resta o tédio, a vontade de não-ser e abandonar-me
J. B. Vidal
inverno de 2000