Arquivo da tag: José Richa

Nilson Monteiro, novo e ilustre correntista

A estréia bancária de Nilson Monteiro

O Banco da Poesia recebe mais um correntista ilustre, que demorou a chegar mas, com certeza, estará sempre por aqui a enriquecer sua conta poética. Orgulho-me por tê-lo como amigo e ter participado de sua formação profissional, como jornalista, no tempo em que ele, um jovem entusiasmado pela área, mostrava o seu talento numa experiência inovadora, o Novo Jornal, por mim editado em Londrina.

Nilson Monteiro nasceu em Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, Aportou  em Curitiba ainda aos 10 anos de idade, por força da profissão do pai, que era representante comercial. Um ano e meio depois, por volta de 1964, mudou-se com a família para Londrina, onde se estabeleceu e pôde desenvolver seus estudos, dividindo-se entre os cursos de Letras e Literatura Francesa e Comunicações, na Universidade Estadual de Londrina .

O grande estímulo para ingressar na profissão veio através do jornalista e escritor Domingos Pellegrini, que o levou para o Diário de Londrina, de Edson Maschio, onde, ainda adolescente, foi responsável pela coluna “No Mundo Estudantil”.

Sempre pelas mãos de Pellegrini deu o passo seguinte, que o conduziu à redação do semanário Novo Jornal, ao lado de Marcelo Oikawa, Roldão Arruda e Carlos Eduardo Lourenço Jorge, no início da década de 1970.

O convite para ingressar na Folha de Londrina surgiu na sequência, por intermédio de Walmor Macarini, em 1973. Lá permaneceu por cerca de cinco anos, passando por diversas editorias, com ênfase para a de Cultura. Simultaneamente, desenvolvia trabalhos em rádio e televisão e fazia incursões no terreno da literatura, escrevendo contos e poemas. Passou também por agências de publicidade e ajudou a fundar a Cooperativa de Jornalistas do Paraná, que produzia o jornal Paraná Repórter.

Ainda em meados de 1970 fez parte da redação do lendário Panorama, uma experiência ousada capitaneada pelo empresário e ex-governador Paulo Pimentel, que teve vida breve, porém marcou  história no jornalismo paranaense. Após seu fechamento, Nilson foi para São Paulo, trabalhar no jornal Movimento, o principal porta-voz da esquerda no país à época da ditadura militar. Voltou depois para a Folha de Londrina, onde atuou como repórter especial e editor do Caderno de Cultura, angariando vários prêmios por reportagens que publicou.

Em 1986 transferiu-se para o jornal O Estado de São Paulo, depois para a Gazeta Mercantil, onde editou o Caderno Regional do Paraná e, finalmente, para a revista Isto É.

Nesse meio tempo continuou produzindo poemas e contos. O livro de poemas “Simples” foi editado em 1984. Depois vieram “Curitiba Vista por um Pé Vermelho”, editado pela Fundação Cultural de Curitiba, “Ferroeste, um novo Rumo para o Paraná”, “Itaipu, a Luz”, e, finalmente, “Madeira de Lei”, que narra a trajetória do empresário Miguel Zattar, um pioneiro na área da silvicultura, na condução das Indústrias João José Zattar S/A.

Atualmente lotado no gabinete do governador Beto Richa, Nilson fez assessoria de imprensa no Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BDRE), na Companhia de Habitação do Paraná – Cohapar – e na Associação Comercial do Paraná – ACP. Também assessorou o ex-governador José Richa em sua última campanha para o Senado, na década de 1990.

Seu trabalho recebe, neste momento de sua vida, reconhecimento público, ao ser diplomado como Cidadão Honorário do Paraná, título que receberá no próximo dia 20 de março.

Bem vindo, Nilson poeta, ao nosso Banco. (Cleto de Assis, con informações da Assessoria de Impnresa da Assembléia Legislativa do Paraná)

Impressões de viagem

(crônica a Neruda)

 
Onde andas, poeta, como fantasma
grunhindo as tábuas do convés?

Onde passeias, leve, pipa entre as cores
dos varais e das casas penduradas nas escarpas?

Onde choras, líquido, em meio
às ondas largas e geladas do Pacífico?

Onde, plantas, mágico, teu coração
nas pedras, gelatinas de ostras endurecidas?

Onde, esfarinhas, versejador, tua alma
em estrelas, uvas bêbadas, cafés franceses?

Onde, fincas, amante, as âncoras
na vida, feira livre, de teu povo?

Onde, espalhas, boiadeiro, as crinas
de teus cavalos, relinchos selvagens?

Onde, anjo, sem alas, sem religião,
feito de renda branca da cordilheira,
tateias a pele desses muros?

Aqui, poeta,
aqui entre livros, mapas, bússolas, bananeiras
cerâmicas
e escadas,
as pessoas te chamam neste inferno de paixões
de anjo

Nesta cidade feita de ruelas,
peles, ondas, vinho, fumaça,
bodegas, teias, dores,
empanadas, penhascos que arranham o céu,
choclo e palta nos beiços dos pratos,
pisco e pinga nos copos,
funiculares ensandecidos

Descubro, num átimo, que amo
o atômico explodir da vida,
pedaços de gente esparramados
ao pé do cerro
sortidos em meio ao sebo do porto,
sentimentos espalhados sem cercas

Descubro que amo
cada arrulho de seus colegiais,
meias de lã, gravatas inglesas
achadas no passado,
maritacas de azul
gritando alegrias e mirando futuros
nas rachaduras da arquitetura

Descubro que amo
cada lágrima que desce
nas fendas molhadas da montanha,
vidro, cristal safira que fura os olhos
para embrulhar-se nos lençóis do Pacífico

Descubro que amo
cada suspiro de teu ar,
o cheiro pastoso de teu mercado,
cada célula de teus mariscos,
cada ensaio de voo
de teus copos suados

Descubro que amo
cada farelo de tuas pedras
cada dor de seu paraíso
cada ritmo de teus versos
cada sentimento de entranhas,
das putas e das guitarras,
de ventanas, de pinturas
em paredes sem casca

Onde, poeta, é permitido sonhar
com este prelúdio salgado
desta sinfonia doce que
deram o nome de Neruda?

Aqui,
neste chão agarrado em Valparaíso,
madeira de porão do mar
tua casa de degraus
de mastros eriçados,
La Sebastiana.
____________

Ilustrações: C. de A.

Reencontros inesquecíveis

Depois de viver muito tempo fora de Curitiba – Londrina, Brasília, São Paulo, Londrina novamente, voltei à Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais para reorganizar a “melhor idade” (que tolice! melhor idade é aquela em que a gente vive bem, do zero aos cento e tantos), agregar a família, curtir os netos e rever uma boa quantidade de amigos que aqui havia deixado. Dizem que amigos-amigos podem ser contados nos dedos das mãos. Mas descobri que tenho mais amigos que dedos. Bastou uma voltinha pelo delicioso cenário do mercado municipal para encontrar, de cara, dois ou três deles. Alguns telefonemas e velhas amizades já estavam rejuntadas com cola mágica, melhor do que aquelas à base de éster de cianoacrilato. Reuniões promovidas por amigos mais chegados e eis diante de mim chusmas de e(ternos) companheiros e companheiras (no bom sentido da palavra), a relembrar os anos 60 e 70, quando aqui vivi intensamente. Amizades já velhas de 40 anos, mas nunca desgastadas, se renovaram como se o lapso tivesse sido apenas de poucos meses.

Evidentemente, alguns amigos já tinham tomado outros rumos desconhecidos, aqueles que muitos afirmam existir, mas nuca realmente comprovados. Outros encontrei de malas prontas e pude usufruir um pouquinho suas presenças físicas. Alguns, lamentavelmente, não alcancei abraçar antes da partida e lastimo não ter feito maior esforço para visitá-los antes que o trem partisse, como os bons amigos Érico da Silva e o Jamil Snege.

Perguntei por esse e aquele: já não vivem mais em Curitiba. Onde? Não sei, sei, mas não tenho o endereço. E descobri também que Curitiba já não é a cidade semiprovinciana dos anos 60, onde (quase) todo mundo se conhecia, existia número reduzido de locais para se frequentar e a Rua XV era o grande ponto de encontro. Hoje, ao passar por lá, de vez em quando reconheço algumas faces antigas, camufladas pela geada do tempo, mas há uma multidão de caras novas totalmente irreconhecíveis. É a Curitiba cosmopolita, metida a cidade grande, de centro renovado e, até certo ponto, degradado.

Mas volto às amizades, que é o que interessa. Na lista dos amigos debandados estava o arquiteto Sérgio Todeschini Alves, dedicado durante década e meia ao patrimônio histórico do Paraná. Frequentávamos, nos Anos de Ouro, as exposições, os recitais de música e as eventuais tertúlias intelectuais. No meu primeiro êxodo, em direção a Londrina, Sérgio foi muito importante para a realização de um projeto meu na Universidade de Londrina – onde eu dirigia o setor cultural, no reitorado de Oscar Alves – e que objetivava tombar a antiga estação rodoviária no patrimônio histórico, antes que algum desvairado alcaide utilizasse apenas a primeira acepção do verbo ambíguo. O edifício, projetado pelo arquiteto paranaense João Batista Vilanova Artigas, iniciado a construir em 1949 e inaugurado em 1952, havia cumprido sua missão e o local já não conseguia receber a catadupa de ônibus bem mais crescidinhos que as antigas jardineiras dos anos 40. José Richa, prefeito empossado em 72, havia encomendado a Oscar Niemeyer um projeto de uma nova e maior rodoviária.
Aliás, quando inaugurada, a antiga rodoviária londrinense já estava ungida como patrimônio histórico, pois foi o primeiro edifício público do Paraná projetado dentro dos cânones da arquitetura moderna do Século XX. E aproveito para fazer um reparo a alguns historiadores pouco informados: o tombamento não se deu graças a iniciativa da Secretaria de Cultura do Paraná e sim por proposição da UEL, como já registrei anteriormente. Mesmo porque, naquele ano de 1975, quando se deu o tombamento, nem havia a referida secretaria, criada apenas na última gestão de Ney Braga, em 1979. O Patrimôniuo Histórico do Estado estava ligado ao Departamento de Cultura da Secretaria de Educação. Para comprovar, transcrevo o texto publicado por Sérgio Todeschini Alves em seu blog Todesca, lá em Itu, após o milagre da reaproximação eletrônica  promovido pela Internet.

A internet continua a me surpreender! Numa navegação descobri o blog do Cleto de Assis – Banco da Poesia. Lembro em 1976, eu estava Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná, e fui convocado pelo Cleto, então Diretor da Área Cultural da
Universidade de Londrina, para fazer o tombamento da Estação Rodoviária de Londrina, projeto do arquiteto Vilanova Artigas. A estação representava o progresso da região e tinha valor histórico, porque a maioria das pessoas que habitavam aquela pujante cidade, haviam chegado por aquele porto. Não tive dúvidas, convocado pelo Cleto, fiz uma pequena consulta a alguns membros do Conselho, e iniciamos o processo de tombamento. No dia do tombamento estava presente o  arquiteto Vilanova Artigas, o prefeito de Londrina José Richa, o reitor da Universidade de Londrina Oscar Alves, e inúmeras personalidades. Vilanova Artigas, que havia perdido a sua cátedra por perseguições políticas, fez um violento discurso contra a ditadura, o que, convenhamos, na época era coragem extrema. Tudo isso eu conto, porque me veio de relance à memória, e por ter descoberto o blog do Cleto, que fala de poesia.” Avante Cleto, o mundo precisa de poesia!

Em foto da década de 70, Vilanova Artigas na rodoviária de Londrina, provavelmente na ocasião de seu tombamento

A rodoviária de Londrina na década de 50, foto enviada por Carlos Verçosa, da Bahia

E lá veio, do interior paulista, mais uma velha amizade recuperada. Que me dá ensejo de contar as historinhas adjacentes, como a da rodoviária de Vilanova Artigas.

Após seu tombamento, a rodoviária ainda continuou a ser utilizda como terminal de transporte, até 1988, quando foi desativada em razão da inauguração da nova estação. E então, é preciso dizer, quase teve o mesmo destino dos prédios cadastrados no patrimônio histórico e artístico. Ficou abandonada por algum tempo, até ser restaurada, em 1992, pela Associação dos Funcionários da Viação Garcia e ressurgir para um nobre destino, ao ser transformada no Museu de Arte de Londrina, em 1993, segundo projeto de adaptação elaborado pelo arquiteto Antonio Carlos Zani. Uma obra de arte com ventre recheado de outras.

O atual Museu de Arte de Londrina

Não bastasse esse prodígio, a nova e boa rede de comunicação me trouxe de volta também outro velho e bom amigo, Carlos Alberto Verçosa da Silva, poeta, jornalista e publicitário que conheci em Londrina, raptado, há muitos e muitos anos, pela Bahia, que o vestiu até com o sotaque daquele país nordestino. E novamente a rodoviária vem à baila, na coleção de fotos antigas de Londrina que Verçosa me envia lá de Salvador.

Em novembro de 2009 Sérgio veio a Curitiba, com sua Silvana,  para festejar mais um ano de sua turma de arquitetura da UFPR. Telefonou-me e pudemos nos encontrar por algumas horas, primeiro na inauguração do Museu Guido Viaro e, em seguida, na sempre boa mesa do Ile de France, do restaurateur Jean Paul Roland Deckoc.

Sérgio e Silvana, 11 de novembro, chuvosa noite do apagão, no Ile de France

Estas reminiscências são feitas para, principalmente, ressaltar o valor das boas amizades e foram ainda mais provocadas pela surpresa de um poema enviado ao Banco da Poesia por outro amigo, o médico Oscar Alves. Além de amigo, fratello del cuore, como dizem os italianos Apesar disso, eu desconhecia as suas aptidões poéticas. E ele escolheu exatamente o tema Amizade para registrar seus versos (ver abaixo).

Como eu mesmo escrevi, em um poema dedicado ao reencontro com Manoel de Andrade, ter amigos é a melhor coisa que existe. (C. de A.)

A amizade dissecada pelo médico Oscar Alves

Para contar quem é Oscar Alves eu precisaria de um blog inteiro. Seu dinamismo vital é enorme e sua história de realizações imensa. Conhecemo-nos durante o entusiasmo da política estudantil, na década de 60. Ele era presidente do Centro Acadêmico Jackson de Figueiredo, da Faculdade de Filosofia da Universidade Católica (antes de decidir estudar Medicina) e eu epresidente do Diretório Acadêmico da Escola de Música e Belas Artes. Na época, apoiávamos o presidente da União Paranaense de Estudantes, José Richa, que teria uma brilhante carreira política nos anos posteriores. Eram os últimos anos das atividades de política estudantil, antes do governo militar de 64.

Reencontrei Oscar, anos mais tarde, em Londrina, onde ele exercia a Medicina e, em seguida, foi eleito reitor da Universidade local. Eu tinha planos de retornar a Curitiba, mas ele me convenceu do contrário, convidando-me para exercer a função de cordenador de assuntos culturais da UEL, no começo de sua gestão. Ali pude realizar, com seu sempre efetivo apoio, muitas ações em benefício da instituição e da própria cidade. E praticamente não nos separamos mais, mesmo com idas e vindas de um e de outro para outras paragens. Trabalhamos juntos no segundo governo de Ney Braga, quando ele foi Secretário da Saúde. Em seguida, pude acompanhar seu mandato como Deputado Federal, em Brasília, para onde eu havia me transferido, após meu trabalho na UEL.

Oscar me levou novamente a Londrina, onde fiquei por dois anos, durante a sua gestão como reitor da Unopar. Hoje ele ocupa a função de membro do Conselho Estadual de Educação e continua suas atividades médicas,  em sua especialidade de Ginecologia.

Como seu amigo, sei muito de sua vida e me orgulha a sua amizade. Só não conhecia a sua veia poética, que estava lá, escondidinha e que o Banco da Poesia tem o prazer de revelar. Em sua homenagem, vai a foto de quatro amigos, reunidos na última exposição de Juarez Machado em Curitiba, em outuibro de 2009. Bem vindo ao clube, Oscar!

Oscar Alves, Manoel de Andrade, Juarez Machado e Cleto de Assis, em foto de Neiva de Andrade

Amizade

A sua amizade é como a brisa que acaricia
xxxxxxxxxxxas flores do meu jardim.
A sua amizade é como o vento que açoita
xxxxxxxxxxxas folhas da árvore da minha vida.
A sua amizade é como o sol que ilumina
xxxxxxxxxxxo meu caminho.
A sua amizade é como o mar que banha
xxxxxxxxxxxa minha alma.
A sua amizade é como o fogo que faz arder
xxxxxxxxxxxo meu entusiasmo por viver.
A sua amizade é como o bálsamo que alivia
xxxxxxxxxxxa minha angústia.
A sua amizade é como as estrelas que embelezam
xxxxxxxxxxxas minhas noites.

Oscar Alves -20/07/2005