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Nova correntista: Cláudia Regina Telles

claudia-regina-telles-1Cláudia Regina Telles, que se considera multiartista, é natural de Luis Alves, SC, e reside em Itajaí há quatro anos. Diz ela: “Sou canceriana regida pela Lua, a mesma Lua que me inspira nos devaneios e nos humores e me faz transpirar na busca dos segredos do conhecimento e da vida. Tive a vivência de menina do interior: descalça, brincadeiras nos pastos, comer fruta do pé, tarefas coletivas de fazer biju e cuscuz, doce de goiaba,  chás e benzeduras de avós, sarau de vô violeiro, cantorias nas festas de família, o engenho de farinha, ritos de fé, cirandas e bolas de gude, cabanas no meio do mato”.

Também informa que sua escritura é marcada e construída pelas histórias da menina e pelos poemas da adolescente. Graduada em Letras (UNIVALI), onde participou de varais literários e saraus, a mulher adulta foi levada pelos ventos das suas escolhas e dedicou tempo e energia a conhecer, atender as demandas de sua curiosidade, experiências com múltiplas linguagens das artes, amor pelo cinema e a música, sempre recordando as raízes na cultura popular.

Sua multiartisticidade produz performances poéticas, com mistura de canto, dança, artes visuais, construção de figurinos artesanais, além de utilizar sua experiência em arte-educação, como contadora de histórias, linguagens de teatro e educação popular. Desenvolve também seu trabalho em uma rádio comunitária de Itajaí, com o programa semanal Contando e Cantando Histórias. Seu lado de ativista cultural integrou-a, desde 2008, à Câmara Setorial de Literatura de Itajaí, que coordena, e representa o setor de Literatura no Conselho Municipal de Cultura. É membro e secretária da AAPI (Ass. de Artes Plásticas de Itajaí) e da Frente de Defesa da Cultura Catarinense.

E ainda sobra tempo para escrever e poetar, como veremos abaixo. Aliás, atividade que está em primeiro lugar, segundo ela: “Antes de tudo, sou um ser que ama a poesia,  uma ‘desassossegada’ diante do mundo e, acima de tudo, uma pessoa em eterno aprendizado e busca. Porque ‘saber não ocupa espaço’, como diz a sabedoria popular.”

Nossas boas vindas à nova correntista do Banco da Poesia!

Receita de poesia


Capturar a imagem de alguma insignificância que voa,
um vento que passa,
um corpo que brinca de alegria,
uma agonia de dor, lamentos de amantes,
saudades, solidão.
Caso você não tenha estes ingredimentes à sua disposição,
imagine-os, que é a mesma coisa.
Coloque tudo e vá adicionando e  misturando palavras.
Cuidado com o exagero.
Servir quente ou fria, tanto faz,
excelente para todas as ocasiões,
sempre que sentir vontade
ou doer o ferimento ou a cicatriz.

Lenço lilás

Lenço lilás
Lânguida leveza
Levada ao vento
Lembra pétala azulada
Lançada liberta
Ligeira
Veloz
Vais a longes luzes
Ametista no ar…

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Ilustrações: C. de A.

Renascimento de Deborah

Depois de alguns meses de confesso exílio criativo, Deborah O’Lins de Barros, a-moça-deitada-na-grama,  envia, lá de Itajaí, mais um miniconto. Bem vindo seu novo depósito, Deborah!

Era uma vez


…e o mal venceu. O braço direito do vilão perguntou:
– oh, líder, como viveremos agora?
Foram felizes para sempre.

Deborah O’Lins de Barros
07/02/2010

Deborah O’Lins de Barros deposita dois poemas autobiográficos

deborahDeborah O’ Lins de Barros é uma catarinense de Itajaí, nascida no Rio de Janeiro, que mantém o blog Moça deitada na grama.

Ela diz em seu blog, à guisa de resumo biográfico: “Sou a encarnação de Álvares de Azevedo. Sou a personagem da crônica do Drummond (Moça deitada na grama). Sou a amante de Edgar Allan Poe. Sou a irmã mais nova de Pagu. I am Lucy in the grass with diamonds, words and melodies.

Abaixo, dois poemas de Deborah,  juntos porque fazem parte de uma mesma série: Autobiografia. Ela explica: “Poesia pode falar de qualquer coisa. Essas, no caso, falam de mim. São meus sentimentos sem metáforas, são crônicas em verso. Confissões, declarações. Como diria Fred Krueger, bem-vindo ao meu mundo!”.

Bastidores de mim

máscaras
Sinto saudade
Do silêncio de luz
Atrás do palco;
Do breu de palavras
Nas cochias;
Dos contra-regras,
Cenários antigos,
pedaços de figurinos usados,
Espalhados.

Sinto saudade
De odiar o cheiro
Do gelo seco;
E de amar a recepção
Nos camarins.
Olhares parabenizando,
Olhares agradecendo…
Mas eu não nasci para o teatro
E o teatro não nasceu para mim.

…………………..

Não, eu não sou uma atriz… embora ame essa atmosfera, sou egoísta demais para escolher um personagem apenas: a vantagem de escrever é que posso tê-los todos para mim!!

Reminiscência


xxxxxxEm meados de 2007 fiz um curso no SESC
xxxxxxcom a poetisa gaúchaTelma Scherer
xxxxxx(http://www.telmascherer.blogspot.com/).
xxxxxxLi e conheci bastante coisa diferente e, claro,
xxxxxxfui influenciada por essas novas formas.
xxxxxxE que fique para o futuro, para quem um dia
xxxxxxquiser montar uma biografia minha (hehe),
xxxxxxque Telma Scherer foi um divisor de águas
xxxxxxna minha produção em verso. E esse poema
xxxxxxmarca a nova fase. “Reminiscência” me
xxxxxxexorcisou do romantismo da adolescência.
xxxxxxCom ele “adulteci”.

OCorvo-1
Às vezes tenho certeza
quase absolutamente,
de que sou meio louca,
verdadeiramente.
Pois não tenho necessidade
de ácido licérgico
e nem de lítio.
Mas quando vêm reminiscências
de determinados fatos
há muito ocorridos,
me vem uma vontade insana
de ausência.
Ausência de pensamentos,
mas não de sentimentos.
Há uma necessidade
de estar só.
Inclusive a minha própria presença
me incomoda,
quando essas reminiscências
me recordam que
I miss the comfort in being sad.

Acho que relembrar
as mazelas do ontem
é como folhear
um álbum de fotos onde
a trilha sonora escolhida
é a responsável por virar as páginas.
E agora resta a dúvida:
será que remexer lembranças
é como lembrar da dívida
que tenho comigo mesma?
Isso, na verdade,
não importa.
Pois se o Corvo diz Nunca Mais,
não há portas
que abram para eu voltar.
E, pensando bem, parece hilário
pois forjar tristeza
se tornou, nada mais
que recurso literário.
A saudade existe para provar
que o passado não mata
e as reminiscências são só um mote
para entender que o que não mata
nos torna mais fortes.