Olhar materno
A menina dos seus olhos
envelheceu
sem ru(s)gas
Vá, idade
dobra os joelhos
doma o orgulho
aceita os conselhos
do espelho
Às vezes acho que te amo, mas logo passa
Tremulo, umedeço,
emulo terra no cio.
Choro.
Quando estio, te evaporo
Às vezes acho que te amo.
É quando acordo e rebooto.
Reinstalo saberes, sabores,
deleito lembranças,
reluto deletar-te.
Salvo-temporariamen-te
Quando rio, diluo,
deságuo em teus braços afluente,
fluo,
esqueço que sou
somente um riacho.
Às vezes acho que te amo…
Sonho, extasio,
fixo o olhar no vazio
da saudade.
Mas tem sempre
um maldito mosquito
que voa de repente,
trazendo-me de volta
à realidade.
_________________
Ilustrações: C. de A.