Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente…
Tristeza esparsa… remorso vão…
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
Confesso que ainda sou um andarilho na arte poética de Manuel Bandeira. Conhecia poesias menores que nunca me entusiasmaram, a partir das traduções comecei um novo olhar sobre seus versos líricos, aí sim, reside a grandeza do poeta pernambucano. Este poema é um deles, não por que sejam rimados, mas é de uma beleza encantadora. Parabéns pelo blog e obrigado pelos envios que me alertam, me insinuam a participar de uma leitura cotidiana dos grandes poetas do Brasil. Abraços fraternos.
Incrível a tomada de ideia dentro do poema de Bandeira. Ele foi o primeiro poeta que conheci e certamente o mais lembrado. Dizer-se fazedor de versos como quem morre é subir degraus além do que a escadaria permite.