Quando Poesia e Árvores se encontram
O Dia da Árvore, no Brasil, é comemorado no dia 21 de setembro, que coincide com o início da Primavera no hemisfério Sul. Mas há também um Dia Internacional da Árvore, comemorado hoje, 21 de março, dois dias após o início do nosso Outono. Esse dia também é conhecido como Dia das Florestas, a imensa reunião de árvores que,pouco a pouco, a humanidade tem devastado, sob a desculpa da conquista cultural.
Coincidentemente, também hoje se comemora o Dia Internacional da Poesia, criado na XXX Conferência Geral da UNESCO, em 16 de novembro de 1999. O objetivo era (e é) o incentivo à leitura, à escrita, publicação, divulgação e ensino da poesia através do mundo. escrita, publicação e ensino da poesia através do mundo. Acrescento o desenvolvimento, principalmente nas crianças, dos poderes da criatividade, capazes de levar a mente humana além da matéria e da vida real, sem perder o objetivo de melhor conhecer a realidade e compreender os mistérios da vida.
Para comemorar os dois eventos, reunidos em um só dia, escolhi um poema de Fernando Namora, poeta português, que fala em poesia e árvore.
Fernando Gonçalves Namora, médico e escritor português, foi autor de extensa obra, das mais divulgadas e traduzidas nos anos 70 e 80. Nasceu em Condeixa-a-Nova, em 15 de Abril de 1919, e morreu em Lisboa, a 31 de Janeiro de 1989.
Estudou Medicina na Universidade de Coimbra, mas era ligado a um grupoo literário conhecido como Geração de 40, que reuniu personalidades como Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado e João José Cochofel. Exerceu a profissão de médio em várias cidades do interior de Portugal, até se instalar em Lisboa, como médico assistente do Instituto Português de Oncologia.
O seu volume de estreia foi Relevos (1937), livro de poesia, sob a influência de Afonso Duarte e do grupo da Presença. Mas já havia publicado, em conjunto com Carlos de Oliveira e Artur Varela, um singelo livro de contos denominado Cabeças de Barro. Em 1938 surge o seu primeiro romance As Sete Partidas do Mundo ,que viria a ser galardoado com o Prêmio Almeida Garrett, no mesmo ano em que recebeu o Prêmio Mestre Antônio Augusto Gonçalves, de artes plásticas – na categoria de pintura. Ainda estudante e com outros companheiros de geração funda a revista Altitude e envolve-se ativamente no projeto do Novo Cancioneiro (1941), coleção poética de 10 volumes que se inicia com o seu livro-poema Terra, assinalando o advento do neorrealismo. Na mesma linha estética, embora em ficção, é lançada a coleção dos Novos Prosadores (1943), pela Coimbra Editora, reunindo os romances Fogo na Noite Escura, do próprio Namora, Casa na Duna, de Carlos de Oliveira, Onde Tudo Foi Morrendo, de Vergílio Ferreira, Nevoeiro, de Mário Braga ou O Dia Cinzento, de Mário Dionísio, entre outros.
Coisas, Pequenas Coisas
Fazer das coisas fracas um poema.
Uma árvore está quieta,
murcha, desprezada.
Mas se o poeta a levanta pelos cabelos
e lhe sopra os dedos,
ela volta a empertigar-se, renovada.
E tu, que não sabias o segredo,
perdes a vaidade.
Fora de ti há o mundo
e nele há tudo
que em ti não cabe.
Homem, até o barro tem poesia!
Olha as coisas com humildade.
Fernando Namora, em “Mar de Sargaços”