Vera Lúcia Carmona, ou Vera Lúcia Kalahari, dona do blog Infinito, editado em Portugal, é uma das mais assíduas correntistas do Banco da Poesia. Jornalista e escritora, além de sensível poeta, ela vive ora em Portugal, ora em Angola ou em suas rotas africanas, continente no qual nasceu e por onde perambula com suas esperanças por um mundo melhor. Como sua conta corrente não foi ampliada nos últimos meses (mais por culpa do gerente do Banco), fui a seu blog e emprestei, segundo as regras bancárias, um lindo poema seu, que vai abaixo. Saudades, Vera Lúcia!
Cântico dos cânticos
Queria ter confiança na eternidade
e na terra da verdade…
Queria nunca m’esquecer
que volta sempre a primavera
qu’entre pedras faz nascer rosas…
Queria deixar de ser este mar morto
mar sem ondas e sem portos…
Queria deixar de mendigar
no silêncio das noites escuras
caminhando por ermas estradas
sem saber pra onde vou.
Queria saber quem me roubou minha coroa de rainha
quem pisou minhas ilusões desfolhadas…
Queria ser a manhã qu’apaga estrelas
e encontrar amor em todas elas…
Queria ser a perdida, a que não s’encontra
aquela que ninguém conhece,
a rutilante luz dum impossível…
Queria deixar de segurar nas mãos
o bem que nunca é meu
e encontrar no caminho o meu bordão d’estrelas…
Queria encontrar a água que procuro e de que estou sedenta…
Queria não pensar nos que andam descalços pela vida…
Nos que choram em insanas guerras…
Nos que mentiram e nos que mentem…
Não ter pena dos que em má hora nasceram…
Queria ter asas para voar e ser na fé
na agonia dum moribundo…
Queria ser tudo…e não sou nada.
Vera Lucia
Ilustração: C. de A,