Arquivo do dia: 3 de junho de 2010

A campanha continua

Erly Welton cicunloquial

Periférico

Erly Welton Ricci



não voa a alma naquilo que digo
ela já está
isso que você vê como névoa de cores insondáveis
espalhada em todos os campos
é a expansão intermitente e começou desde sempre
está na pedra, na placa e na praga
na areia, na água e na águia
na letra, na lente e na pele da palavra

por isso minha alma não é passional
nem minha
o verbo também
espalhado por todos os campos
amém

_____

Ilustração: C. de A.

Mais um clique de Lina Faria

Prometi, há algum tempo, a reprodução, no Banco da Poesia, de algumas das admiráveis fotos de Lina Faria, acrescentando uma pitada de poesia nas imagens que dela já são feitas. Hoje publico mais uma, retirada de seu blog Não Lugar.

Janela quebrada

Lina Faria + Cleto de Assis

Quem matou essa janela?
Foi o tempo, foi o tempo
e a pontaria de pedras
a criar buracos negros.
Quem reviveu a janela?
Foi a Lina, foi a Lina,
sua lente curiosa
e visão miraculosa
feito creme de mulher
que promete juventude
a pele já ressequida
e também à própria vida.
E o que mostra a janela?
A ruína, a ruína
a gastura da cidade
e mais três vidros intatos
tornados mágico espelho
a refletir bem no meio
a artesã de retratos.

Iriene em luz e somba

Umbra

Iriene Borges


Não me ocupes
Vago em luminescências
e rotaciono aluada

Para manter a linha
da mediatriz até o complexo
da cerviz até o sexo
fui sitiada
pelo remorso de existir

No entanto, irrompes a rir
e eu singular e asceta
projeto uma sombra completa
que me intercepta o senso
bem aqui na minha rua
quando alcanço a calçada
sob o primeiro poste
à esquerda

A persigo, e não me desgoste,
não por isso, que ela é tudo
tem o talhe do teu desejo
Pisa o asfalto como meu hálito
roça teus lábios sem beijar
Tem um contorno movediço
que me traga no molejo
e danço
entre o pudor e o vestido
feito pipa no ar.

Nos amamos em teu nome
em cada canto da vila
e inventamos a saudade
de conluio com cada esquina
só assim ela me arrasta pra casa
em êxtase
e some no clarão da porta
que amanhã tem volta
e reprise.

Não me ocupes
para a distância do sorriso
se vago em luminescências
rotaciono aluada

e só me sei sitiada