Um escritor, um poeta, escreve para todos. Semeia palavras, conta histórias, distribui partículas de sua sensibilidade que alcançam a alma de seus leitores. Os escritores, os poetas, os artistas todos, deveriam ser homenageados com o retorno dessa distribuição de felicidade. Deveriam poder partir em paz, anjos que foram ou são em vida, antíteses da maldade e da violência.
Mas a semana começa com uma notícia triste. Wilson Bueno, um desses arcanjos da literatura, foi morto por um covarde ato de violência. E morreu só, vítima da maldade humana, talvez saída de um deconhecido que nunca leu seus versos ou uma linha sequer de seus contos.
Nós, os que ficamos para depois, temos que fazer nossa homenagem pensando em sua recompensa em encontrar gasosa e amorosa nuvem, a receber seu pleno ser, engrandecido em vida por meio de sua obra já imortal.
O Banco da Poesia está abrindo, hoje, uma página especial para Wilson Bueno, que ficará à dispoisção dos leitores e de seus amigos que quiserem ampliá-la com comentários e novos aportes de sua obra.
Que podemos dizer mais? Somente muito obrigado, Wilson Bueno, por tudo de bom que soube construir na sua bela vida literária.
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Amor, sim:
Porque tudo é belo —
A romã, o lábio, a fala, a cisterna.
Amor de amar
A casta flor do chão
E as reentrâncias do muro,
A manhã, a lua, a tarde.
Amor, sim:
Porque a cor do antúrio
Conta uma história serena
E amar o calmo confirma
O ânimo, os deuses que riem
À sombra das árvores
Do jardim de Parmênides.
Amor, sim:
Porque, amorosa, até a nuvem,
Ainda que gasosa acolherá
Meus todos, meus plenos, teus inteiros.
Do livro “35” (poemas de amor)
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Ilustrações: C. de A.
Homenagem de Solda: http://cartunistasolda.blogspot.com/
Sempre que um poeta morre, o mundo fica mais pobre…
Solidarizo-me com todos vocês, meus irmãos brasileiros, pela dor que neste momento vive todo o mundo cultural, pela perda de Wilson Bueno. Se a morte é sempre difícil de aceitar, muito mais nos repugna essa mesma morte, pela brutalidade dum crime hediondo.
A violência que é hoje a tónica da vida, alastra de tal forma, que nem aqueles que se batem pela paz e por um mundo melhor, estão a salvo.
As minhas condolências a todos vocês que tiveram a sorte de terem conhecido pessoalmente o Wilson Bueno. Dele ficarão os seus escritos. E estes nunca serão apagados como foi o seu autor, com a facilidade com que se apaga uma vela: um simples sopro, provando mais uma vez como vivemos num mundo que está a deixá-lo de ser, sem valores de espécie alguma.
Um abraço a todos.
Vera Lucia
Tudo é belo.
Nem a morte apaga a beleza do poema.
Tudo é belo.
Wilson Bueno sabia a beleza
e o risco de ficar ao lado dela.
Sabia o risco de viver.
Valeu a pena a vida
Valeu morrer por ela.
Iremar Marinho
Cleto,
bela e justa homenagem a um devoto do belo.
Um anjo. Uma energia vital que só mesmo sucumbiu ao inesperado golpe da ignorância.
Ele continuara entre nós pela palavra, pela poesia.
Wilson, que deus ilumine seus canhinhos! Obrigada por tudo.