Bilhete encontrado em um buquê de rosas
L. Rafael Nolli
Se eu não te amasse, te mataria com prazer.
Te esqueceria numa cova rasa, em beira de estrada,
para que cães pudessem lhe desenterrar —
arrastá-la pelo asfalto em pedaços repletos de vermes
xxxxxxe de moscas.
Se eu não te amasse, te jogaria da ponte –
como se lê todos os dias nos jornais –
só para vê-la voar desesperada, sujar o chão
e menstruar a cara de merda dos passantes
xxxxxxe suas blusas impecáveis.
Se eu não te amasse, te sufocaria com o travesseiro
(seria perigoso dormir comigo). Te picaria
com a faca cega da cozinha. Pela noite,
prepararia uma travessa de yakisoba
xxxxxxe me tornaria canibal.
Se eu não te amasse, te atormentaria amiúde.
Faria com que Hitchcock dirigisse os teus
pesadelos. Te acordaria com sussurros de so-
cos no ouvido — se eu não te amasse,
xxxxxxseria isso que eu faria.
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Ilustração: Cleto de Assis
que violência, caro rafael. e que pujança!
às vezes, a poesia precisa servir-se cruel.
[a sombra].
grande abraço
jorge