Arquivo do dia: 26 de março de 2010

Nova correntista: Cláudia Regina Telles

claudia-regina-telles-1Cláudia Regina Telles, que se considera multiartista, é natural de Luis Alves, SC, e reside em Itajaí há quatro anos. Diz ela: “Sou canceriana regida pela Lua, a mesma Lua que me inspira nos devaneios e nos humores e me faz transpirar na busca dos segredos do conhecimento e da vida. Tive a vivência de menina do interior: descalça, brincadeiras nos pastos, comer fruta do pé, tarefas coletivas de fazer biju e cuscuz, doce de goiaba,  chás e benzeduras de avós, sarau de vô violeiro, cantorias nas festas de família, o engenho de farinha, ritos de fé, cirandas e bolas de gude, cabanas no meio do mato”.

Também informa que sua escritura é marcada e construída pelas histórias da menina e pelos poemas da adolescente. Graduada em Letras (UNIVALI), onde participou de varais literários e saraus, a mulher adulta foi levada pelos ventos das suas escolhas e dedicou tempo e energia a conhecer, atender as demandas de sua curiosidade, experiências com múltiplas linguagens das artes, amor pelo cinema e a música, sempre recordando as raízes na cultura popular.

Sua multiartisticidade produz performances poéticas, com mistura de canto, dança, artes visuais, construção de figurinos artesanais, além de utilizar sua experiência em arte-educação, como contadora de histórias, linguagens de teatro e educação popular. Desenvolve também seu trabalho em uma rádio comunitária de Itajaí, com o programa semanal Contando e Cantando Histórias. Seu lado de ativista cultural integrou-a, desde 2008, à Câmara Setorial de Literatura de Itajaí, que coordena, e representa o setor de Literatura no Conselho Municipal de Cultura. É membro e secretária da AAPI (Ass. de Artes Plásticas de Itajaí) e da Frente de Defesa da Cultura Catarinense.

E ainda sobra tempo para escrever e poetar, como veremos abaixo. Aliás, atividade que está em primeiro lugar, segundo ela: “Antes de tudo, sou um ser que ama a poesia,  uma ‘desassossegada’ diante do mundo e, acima de tudo, uma pessoa em eterno aprendizado e busca. Porque ‘saber não ocupa espaço’, como diz a sabedoria popular.”

Nossas boas vindas à nova correntista do Banco da Poesia!

Receita de poesia


Capturar a imagem de alguma insignificância que voa,
um vento que passa,
um corpo que brinca de alegria,
uma agonia de dor, lamentos de amantes,
saudades, solidão.
Caso você não tenha estes ingredimentes à sua disposição,
imagine-os, que é a mesma coisa.
Coloque tudo e vá adicionando e  misturando palavras.
Cuidado com o exagero.
Servir quente ou fria, tanto faz,
excelente para todas as ocasiões,
sempre que sentir vontade
ou doer o ferimento ou a cicatriz.

Lenço lilás

Lenço lilás
Lânguida leveza
Levada ao vento
Lembra pétala azulada
Lançada liberta
Ligeira
Veloz
Vais a longes luzes
Ametista no ar…

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Ilustrações: C. de A.

Iriene Borges mitológica

Musas, medéias, medusas

Iriene Borges


Sacerdotisa do estranhamento,
a admiração suscita o zelo de procurar
a sombra do teu titereteiro
embora áspera a urdidura dos indícios
e fios soltos desvelem tua vileza

Cavalgadura da vilania,
dor é louro com que a musa me coroa,
mordaças reabastecem meu tinteiro
e dos ardis em que me enleias
teço a estopa que mantém a idéia acesa

Anjo obtuso do aniquilamento,
a perspicácia é o avesso da tua malícia.
Ainda é dádiva do artista a visão perspícua
e saber tanto abençoa quanto perturba

Mensageira da minha alforria
provar da tua sordícia é ordem da musa
para que nada escape à pena oblíqua
e seu legado grafe-se em tinta rubra

Iriene Borges da Silva, março de 2010