Depois do Dia Mundial da Poesia, vem o Dia da Água, outra substância indispensável para a sobrevivência humana. Produto da união de dois gases – um altamente inflamável e outro acelerador da combustão – a água tem a paradoxal capacidade de apagar o fogo e, em estado sólido, reduz drasticamente as temperaturas. Como imaginamos que esta sagrada siubstância jamais acabará, não somos exatamente os melhores guardiões da água, por este mundo afora. Desperdiçamos água, contaminamos e secamos nascentes, poluimos os mares e as grandes reservas de água potável. Daqui a 15 anos, segundo a ONU, mais da metade da população mundial, ou seja, perto de 3 bilhões de pessoas, sofrerá escassez de água. A organização também informa que hoje, a cada ano, morrem cerca de 1 milhão e 600 mil pessoas por dificuldades de acesso a água e falta de saneamento básico.
Como afirmou o escritor João Guimarães Rosa:
A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade:
só tem valor quando acaba.
xxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxx
Água não é poesia, mas pode ser fonte inesgotável de inspiração poética. Por isso fomos pedir água a alguns poetas para comemorar o seu dia. E, no final do post, anexamos dois pequenos filmes que nos mostram o mundo maravilhoso da água, em sua origem e como fonte permanente de vida. Afinal, sempre é bom recordar que somos formados primordialmente de água: chegamos a conter até 80% do precioso líquido (até os dois anos de idade). Depois essa proporção decresce, com o passar dos anos. O que significa que, ao envelhecermos, simplesmente desidratamos. E, em um belo (ou feio) dia, vaporizamos literalmente.
Enquanto isso não ocorre, louvemos a água, nossa inseparável companheira. C. de A.
_____________________________________________________________
É uma lei da natureza: os homens se congregam onde as águas convergem.
Jacques Yves Cousteau (1914-1997) naturalista francês
_____________________________________________________________
Nossa sabedoria
Carlos Nejar
Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir. Ir com os rios,
onda a onda.
Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.
E nos moveremos,
rio dentro do rio,
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Luís Carlos Verzoni Nejar, (Porto Alegre, 11 de janeiro de 1939), é um poeta, ficcionista, tradutor e crítico brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras.
_____________________________________________________________
Trucidaram o rio
Manuel Bandeira
Prendei o rio
Maltratai o rio
Trucidai o rio
A água não morre
A água que é feita
de gotas inermes
Que um dia serão
Maiores que o rio
Grandes como o oceano
Fortes como os gelos
Os gelos polares
Que tudo arrebentam.
De Estrela da Manhã
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho, poeta brasileiro (Recife, 19 de abril de 1886 – Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968)
_____________________________________________________________
Água
Francisco Joaquim Bingre
O líquido delgado e transparente
Com que o barro amassou o Autor sob’rano,
Da insigne construção do corpo humano,
Que temperas do home o fogo ardente!
Quando a chama se ateia em continente
Tu corres a sustar o nosso dano:
Tu desabafo és do mal tirano,
Que ataca o coração, soltando a enchente.
Quando tu pelos poros és filtrada,
Água que o fogo aquece, a calma fica
Da máquina acendida, refrescada.
Porém, quando o suor gela na bica,
Quando o frio te torna condensada,
Nossa queda final se verifica.
De Sonetos
Francisco Joaquim Bingre, poeta arcádico e pré-romântico português (9 de Julho de 1763 – 26 de Março de 1865).
_____________________________________________________________
Lição sobre a Água
António Gedeão
Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, base e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.
De Poesiascompletas
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
António Gedeão, pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (Lisboa, 24 de Novembro de 1906 – 19 de Fevereiro de 1997), foi um afamado poeta, professor e historiador da ciência portuguesa.
_____________________________________________________________
Água
André Carneiro
Água, feita de volubilidade
mãe das nuvens e do barro.
posso senti-la discreta
transparente inevitável.
Prisioneira gelada
dos refrigeradores,
vago itinerário dos peixes,
húmido túmulo dos detritos
que os homens repudiaram.
Feita de angústia,
saíste dos olhos
para a estrada áspera
das rugas.
Ergues tua bandeira vermelha
no peito dos apunhalados.
Água,
hei-de beber-te comovido
na inodora volúpia
da tua acomodada transparência.
Embebes de esquecimento
os suicidas.
Tuas mãos rudes
agarram os continentes,
dissolvem os náufragos,
projectam no céu
os velames e as quilhas.
Bojo surdo e verde
cofre de algas e flibusteiros,
bactérias e diamantes.
Quero-te agora
inerte de presságios,
mera adolescente
nascida na terra,
filha perdida do azul.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
André Carneiro (Atibaia, 9 de maio de 1922) é um poeta, escritor, cineasta e artista plástico brasileiro.
_____________________________________________________________
No alto mar
Sophia de Mello Breyner Andresen
No alto mar
A luz escorre
Lisa sobre a água.
Planície infinita
Que ninguém habita.
O Sol brilha enorme
Sem que ninguém forme
Gestos na sua luz.
Livre e verde a água ondula
Graça que não modula
O sonho de ninguém.
São claros e vastos os espaços
Onde baloiça o vento
E ninguém nunca de delícia ou de tormento
Abre neles os seus braços.
De Poesia (1944)
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004) foi uma das mais importantes poetas portuguesas do século XX.
_____________________________________________________________
O rio
Gilberto Mendes Teles
O que me agrada no rio,
o que melhor me convém
nas suas águas de cio
e de tristeza também
é a cantiga de quem
viaja por desfastio,
sem saber que o mar além
seja distante ou vazio.
O rio não perde o fio
de tempo que vai e vem
entre a nascente e o ciicio
da foz qeu sempre contém
o que se quer como um bem
que, sendo embora tardio,
é sombra de peixe e tem
seu melhor tempo no rio.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Gilberto Mendonça Teles (Bela Vista de Goiás, 30 de junho de 1931) é escritor, professor e poeta brasileiro. Visite sua página no Banco da Poesia.
_____________________________________________________________
![]()
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta. Vai carregar água na peneira a vida toda.
Manoel Wenceslau Leite de Barros, poeta matogrossense, (Cuiabá, MT, 19 de dezembro de 1916). Atualmente mora em Campo Grande, MS.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
Estou à procura de um poema sobre água de Jose Antonio Gatti. Se tiver por favor me envie.
olhei as poesias todas sao otimas os videos tambem entao voces sao bastante talentosos
essas poesias são maravilhosas me ajudaram muito na escola em casa ficar amoroso com meus maravilhosos pais me ajudaram em muitas coisas obrigado quem compós essas maravilhosas poesias
assi: manoel victor
eu gostei de tudo os videos muito bom eu amei gostei muito
essa poesia e maravilhosa me ajudou muito na escola
Água nossa de cada dia
Água fonte de vida
Água esperança
Água que mata a sede
Água que molha a planta.
Água que brota da terra
Água que sai do chão
Água que molha o trigo
Trigo que faz o pão.
Água que sangra das pedras
Água que vem da natureza
Água que nos dá alegria
Água que revigora a beleza.
Água que rola da serra
Água que jorra do chão
Água que enche rios
Água que transborda ribeirões.
Água que enche lagos
Água que enche lagoas
Água que corre para o mar
Água que corre á toa.
Água que move moinhos
Água que faz girar
Água que não descansa
Água que faz navegar.
Água nossa de cada dia
Água que nos dá energia
Água que nos dá calor
Água que nos procria.
Água de cada dia
Água da nascente
Água que cria a gente
Água que nos faz respirar
Água que sai da terra
Água que sai do ventre das matas
Que cai das cascatas.
Água fonte de vida
Água que brota dos córregos
Água que jamais voltará
Água nossa de cada dia.
Show!!!!!
Essas frasses são munto lindas.
Eu gostei!
Preciso de um para fazer um trabalho de escola, mas não sei qual escolher. Todos lindoss.
Nossa que poesia legal mesmo em !!!!!!!
Mônica Tavares,
Eu sei que já tem muito tempo que este seu comentário foi postado e eu nem sei ao certo se você vai ver isso, mas, vou colocar o “poema sobre a água” do José Antônio Gatti aqui, caso você ainda não tenha achado.
Sou do Rio de Janeiro e, recentemente, esta poesia foi objeto de uma propagando veiculada pelo Metrô-RJ e que ficou no ar durante um tempo, em todas as estações. Procurando alguam referência no google, encontrei um vídeo e copiei o texto.
Espero que ajude.
Abraços, Rafael.
————————————
Poesia Sobre a Água – José Antonio Gatti
Amar é…
A maré.
É remar
sem cessar
Bem falar
Meu pensar
Se rolar
Deixa estar
Se ficar
Deixa entrar
Se tocar
Vai voltar
Como a maré
Amar é.
Amar é…
A maré.
————————————-
eu a dorei esses poemas muito obrigado!!!
Tambem preciso para faser um trabalho de escola… So que ta dificil de escolher todas tao bonitas…!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
LORRAYNE, ADOREI MUITO SUA POESIA SOBRE A ÁGUA. VOCÊ ESTÁ DE PARABÉNS.
gostei muito……….. das poesias eu tambem tenho que fazer trabalho na escola so que me lasquei porque na verdade e pra mim cria uma poesia sobre agua e agora me ajude rsrsrs………
Li as poesias e gostei da seleção. Gostaria de participar recordando dois poemas de autores que também admiro: Miguel Torga e Alberto Caeiro.
Água, de Miguel Torga
Água a correr na fonte.
Uma quimera líquida que sai
Das entranhas do monte
A saber ao mistério que lá vai…
Pura,
Branca, inodora e fria,
Cai numa pedra dura
E desfaz o mistério em melodia…
Grerês, 26 de Agosto de 1942.
Diário II, 1943
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêm em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele só está ao pé dele.
Poemas de Alberto Caeiro, Fernando Pessoa
otimo
Perfeito encontrei uma poesia linda para um trabalho da escola
tenho que fazer um trabalho nem sei o que escolher…
Parabéns aos seletores dos poemas! A diversidade de poetas, os textos de qualidade, sem mutilação, tão comum na internet, mostram a seriedade de vocês!
Uma dúvida: esses dias busquei no Google “poemas sobre ‘água'” e não apareceu o endereço de vocês! Por quê será? É um pena, pois o material é muito bom!
(Mas pode ser que eu não tenha esgotado as possibilidades!😔)