Robert Doisneau, um poeta da fotografia

Em outubro de 2009 o Centro Cultural Fiesp, de São Paulo, exibiu uma exposição de de Robert Doisneau, famoso artista da câmera fotográfica nascido na França. O texto abaixo foi publicado no momento da mostra.
Duas décadas antes de fotografar o beijo mais famoso das ruas de Paris, Robert Doisneau (1912-1994) trabalhava na fábrica da Renault. Usava câmera sem obturador – uma boina fazia o serviço – para registrar a vida na linha de montagem e, de quebra, uns ensaios publicitários para a marca de carros.

Ficou provado mais tarde que O Beijo do Hotel de Ville, fotografia que fez em 1950, não foi um flagrante em frente à prefeitura, e sim uma cena posada com modelos. Do mesmo jeito que na fábrica da Renault arranjava e rearranjava os melhores operários em linha, mexia nas máquinas e fazia brilhar a carroceria dos carros para seus instantes, senão decisivos, calculados.

Toda a mise-en-scène em torno da indústria automobilística francesa aparece nas mais de cem fotografias reunidas agora no Centro Cultural Fiesp. Também surge nessas imagens traços formais da obra do fotógrafo que ganhariam expressão máxima só décadas depois.

“Ele tinha uma visão muito humanista, otimista”, afirma a curadora Ann Hindry. “Queria um mundo mais humano.”

Nesse ponto, seus retratos de gente comum se aproximam do estilo de Walker Evans. Mas enquanto o norte-americano esquadrinhava a miséria, Doisneau buscava certa leveza. “Suas imagens são mais cinematográficas”, diz Hindry. “Há uma agilidade, flexibilidade.”

É quando desengessa seus registros, então livres dos vícios formais que aprendeu com os modernistas, que Doisneau atinge essa espontaneidade. Retrata uma vitrine da Renault na Champs-Elysées com uma multidão se espremendo do lado de fora para observar os carros -contraponto entre o mundo real e o luxo lá dentro.

Mas faz isso sem qualquer panfletarismo. Ele enxerga o próprio colarinho branco e se recusa a fotografar as greves que abalaram a periferia parisiense. Depois registra belas donzelas com os automóveis: curvas de carne para vender curvas metálicas sobre rodas. (Silas Martí, da Folha de São Paulo)

Meu amigo Carlos Verçosa, poeta e novo baiano, me enviou, lá de Salvador, a apresentação abaixo. São notáveis poemas fotográficos. Clique no título abaixo para ver as fotos. (Necessário ter o programa Windows PowerPoint instalado em seu computador)

Robert Doisneau

2 Respostas para “Robert Doisneau, um poeta da fotografia

  1. Caro Cleto,
    Tomo como uma gentileza, como fotógrafa, esse teu post falando de Doisneau.
    Essa mostra da qual você fala esteve aqui em Curitiba na Andrade Murici, trazida pela Renaut.
    Realmente ele é um grande fotógrafo humanista.
    Nada dismitifica seu olhar.
    Nem o fato dele ter interagido com o casal, na tal fotografia.
    Não era um fato “plantado”.
    Eles estavam ali e a sensação que o fotógrafo quis passar,
    e me parece verdadeira, é que a cidade voltara a ser uma festa. Desnecessária a polêmica extemporânea.
    Enfim…

    Também quero aqui, em defesa de Walker Evans, dizer que as situações geopolitica dos dois eram muito distintas, então.
    Evans documentou, junto a um grupo de notáveis fotográfo, como Dorothea Lang e outros, a depressão americana, o aparthaid, a miséria dos campos após a quebra da bolsa.
    Foi um trabalho encomendado pela Farm Scurity, ministério da agricultura do Roosevelt, e é um dos documentos mais consistentes da fotografia antropológica.
    Mas Walker Evans tem também belas imagens urbanas.
    Claro, o glamour e romantismo latino é sempre mais suave.
    Desculpe me estender, Cleto.
    Mas me senti provocada em falar sobre Evans e a FSA. , beijo!
    lina

  2. Bom comentário, Lina! E ele só pode render um desafio: que tal preparar uma seleção de fotos de Walker Evans, com um resumo de sua vida e obra, para publicarmos aqui?

    Ninguém melhor que você, também uma excelente fotógrafa, para mostrar Evans aos nossos leitores.

    Bjs do Cleto

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