L. Rafael Nolli, de Araxá, adverte: antes que…

Balada homicida

Francisco de Goya — O 3 de maio, 1808. 1814. Óleo sobre tela. 266 x 345cm. Museu do Prado, Madri

É preciso matar o vizinho com um tiro de fuzil,
antes que ele compreenda os textos sagrados
e venha, como irmão, a seu lar,
comer do seu pão e beber do seu vinho.

É preciso degolar os amigos,
ou enforcá-los em seus cadarços
(eles não usam gravatas),
antes que eles entendam Marx,
decretem o fim da era dos desiguais
e venham exigir que você participe do combate,
deixando para trás sua coleção de tampinhas
de refrigerantes
xxxxxxxxxxxe de caixinhas de Malrboro.

É preciso matar os homens
– contrariando Drummond –
antes que eles entendam a poesia que há nas coisas
e comecem a distribuí-la em seus gestos diários.
Assassiná-los antes que liguem para a sua casa
e convidem-no para ver a lua
ou um mosquito de Proust,
retirando você de seu conforto militar, remediado.

É preciso se matar, sobretudo se matar,
antes que a vida se refaça no interior dos lares
e a alegria volte a corar a face dos homens:
antes que eles se compreendam, venham à sua porta
e a derrubem, por acreditarem-na obsoleta.

Uma resposta para “L. Rafael Nolli, de Araxá, adverte: antes que…

  1. Cleto, meu camarada! Que bom encontrar mais um poema meu por aqui! Agradeço pelo espaço e o privilégio! Continuo divulgando entre os meus esse espaço! Aquele abraço!

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