Emily Dickinson nasceu em Amherst, Massachusetts, nos Estados Unidos da América do Norte, a 10 de Dezembro de 1830. Foi a segunda filha de Edward e Emily Norcross Dickinson.
Emily teve uma ótima formação escolar e chegou a cursar, durante um ano, o South Hadley Female Seminary. Abandonou o seminário após se recusar, publicamente, a declarar sua fé. Quando findou os estudos, Emily retornou à casa dos pais para deles cuidar, juntamente com a irmã Lavínia que, como ela, nunca se casou.
Em torno de Emily, construiu-se o mito acerca de sua personalidade solitária. Tanto que a denominavam de a “Grande Reclusa”. É importante que se diga que o comportamento de Emily era próprio do modelo feminino que imperava naquela parte dos EUA, à época. Emily deixou sua vida reclusa em raras vezes. Em toda sua vida, apenas fez viagens para a Filadélfia, para tratar de problemas de visão, outras duas para Washington e Boston. Foi numa destas viagens que Emily conheceu Charles Wadsworth e Thomas Wentworth Higginson, que teriam marcada influência em sua vida e inspiração poética.
Charles Wadsworth, um clérigo de 41 anos, conheceu Emily quando ela viajou à Filadélfia. Alguns críticos dizem que grande parte dos poemas de amor escritos por Emily dirigiam-se a ele. Mas quase tudo que se sabe sobre sua vida tem como fonte as correspondências que ela manteve com algumas pessoas, como Susan Dickinson, sua cunhada e vizinha. Colegas de escola, familiares e alguns intelectuais, como Samuel Bowles, o Dr. e a Sra. J. G. Holland, T. W. Higginson e Helen Hunt Jackson, também se corresponderam com ela. Nestas cartas, além de tecer comentários sobre a sua vida, também costumava remeter alguns poemas.
Por volta de 1858, Emily começou a confeccionar seus livros manuscritos e encadernados à mão, que ela chamava de fascículos. De1860 a 1870 sua produção foi intensa e chegou a compor centenas de poemas a cada ano. Em 1862, remeteu quatro poemas ao crítico Thomas Higginson que, por não compreender inteiramente sua poesia, aconselhou-a a não publicá-los.
A partir de 1864, já com problemas de visão, diminuiu um pouco o ritmo de seu trabalho literário. E, apesar de sua prolífica obra, Emily Dickinson, autora de cerca de 1800 poemas e quase 1000 cartas, não chegou a a ver publicado nenhum livro , enquanto viveu. Há apenas registros de algumas publicações anônimas de alguns poemas. Toda a sua obra foi editada após sua morte, ocorrida em 15 de maio de 1886, na mesma cidade em que nasceu.
A edição crítica completa, , com 1775 poemas, foi organizada por Thomas H. Johnson e ocorreu somente em 1955, após a transferência de seu acervo para a Universidade de Harvard. Posteriormente acrescida de outros poemas, em 1999. Outra edição, feita em 1999, com 1769 poemas, foi organizada por R. W. Franklin.
A casa onde ela nasceu e viveu, construída por seus avós Samuel Fowler e Lucretia Gunn Dickinson , que ficou conhecida como “The Homestead” (A Casa Rural) permanece aberta para visitação, no período de março a dezembro.
Segundo Augusto de Campos, um de seus tradutores para a língua portuguesa, a poesia de Emily Dickinson se aproxima, de certa forma, ao Hai-Kai: “Emily é muito sintética, seus poemas são, em geral, muito breves, e ela é capaz de captar um momento insubstituível de observação ou de reflexão poética com um mínimo de palavras. ‘Um romance num suspiro’, como disse Schoenberg a propósito de Webern. Seus poemas são pequenas ‘iluminações’. Mas não são poemas circunstanciais. São muito elaborados e ao mesmo tempo surpreendentes”.
Obras
- Poems by Emily Dickinson – Organização de Mabel Loomis Todd & T. W. Higginson. Boston: Robert Brothers, 1890.
- The poems of Emily Dickinson, 3 volumes. Organização de Thomas H. Johnson. Cambridge: The Belknap Press, Harvard University Press, 1955.
- The letters of Emily Dickinson, 3 volumes. Organização de Thomas H. Johnson & Theodora Ward. Cambridge: The Belknap Press, Harvard University, 1958.
- The complete poems of Emily Dickinson. Organização de Thomas H. Johnson. Boston e Toronto: Little, Brown and Company, 1960.
- The manuscript books of Emily Dickinson, 2 volumes. Organização de R. W. Franklin. Cambridge e Londres: The Belknap Press, Harvard University Press, 1981.
- The masters letters of Emily Dickinson. Organização de R. W. Franklin. Amherst: Amherst College Press, 1986.
- The poems of Emily Dickinson. Organização de R. W. Franklin. Cambridge e Londres: The Belknap Press, Harvard University Press, 1999.
Alguns livros editados no Brasil
- Poemas Escolhidos – Trad. Ivo Cláudio Bender. L&PM Editores.
- Um Livro de Horas – Trad. Ângela Lago. Editora Scipione.
- Não Sou Ninguém – Trad. Augusto de Campos. Editora Unicamp.
- Alguns Poemas – Trad. José Lira. Editora Iluminuras.
Alguns Poemas de Emily Dickinson
Tradução de João Ferreira Duarte, em “LEITURAS, poemas do inglês”, Relógio de Água, 1993
I
It was not Death, for I stood up,
And all the Dead, lie down —
It was not Night, for all the Bells
Put out their Tongues, for Noon.
It was not Frost, for on my Flesh
I felt Siroccos —rawl —
Nor Fire — for just my Marble feet
Could keep a Chancel, cool —
And yet, it tasted, like them all,
The Figures I have seen
Set orderly, for Burial,
Reminded me, of mine —
As if my life were shaven,
And fitted to a frame,
And could not breathe without a key,
And ‘twas like Midnight, some —
When everything that ticked — has stopped —
And Space stares all around —
Or Grisly frosts — first Autumn morns,
Repeal the Beating Ground —
But, most, like Chaos — Stopless — cool —
Without a Change, or Spar —
Or even a Report of Land —
To justify — Despair.
Não era a Morte, pois eu estava de pé
E todos os Mortos estão deitados —
Não era a Noite, pois todos os Sinos,
De Língua ao vento, tocavam ao Meio-Dia.
Não era a Geada, pois na minha Carne
Sentia Sirocos – rastejarem —
Nem Fogo — pois só por si os meus pés de Mármore
Podiam manter frio um Presbitério —
E contudo sabia a tudo isso ao mesmo tempo;
As Figuras que eu vi,
Preparadas para o Funeral,
Faziam-me lembrar a minha –
Como se me tivessem cortado a vida
E feito à medida de moldura,
E eu não pudesse respirar sem chave,
E foi um pouco como a Meia-Noite —
Quando todos os relógios — pararam —
E o Espaço olha à volta —
Ou Terríveis geadas — nas primeiras manhãs de Outono,
Revogam o Palpitante Solo —
Mas foi sobretudo com o Caos — frio — Sem-Fim —
Sem Ensejo nem Mastro —
Nem mesmo Novas de Terra —
A justificar — o Desespero.
II
Bloom — is Result — to meet a Flower
And casually glance
Would scarcely cause one to suspect
The minor Circumstance
Assisting in the Bright Affair
So intricately done
Then offered as a Butterfly
To the Meridian —
To pack the Bud — oppose the Worm —
Obtain its right of Dew —
Adjust the Heat — elude the Wind —
Escape the prowling Bee
Great Nature not to disappoint
Awaiting Her that Day —
To be a Flower, is profound
Responsibility —
Florescer — é Resultar — quem encontra uma flor
E a olha descuidadamente
Mal pode imaginar
O pequeno Pormenor
Que ajudou ao Incidente
Brilhante e complicado,
E depois oferecido, tal Borboleta,
Ao Meridiano —
Encher o Botão — opor-se ao Verme —
Obter o que de Orvalho tem direito —
Regular o Calor — escapar ao Vento —
Evitar a abelha que anda à espreita,
Não decepcionar a Grande Natureza
Que A espera nesse Dia —
Ser Flor é uma profunda
Responsabilidade —
III
I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — Too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d advertise — you know!
How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June* —
To an admiring Bog!
Eu sou Ninguém! E tu quem és?
Também tu és — Ninguém?
Então somos dois? Não digas nada!
Haviam de apregoar — sabes!
Como é aborrecido — ser — Alguém!
Como é público — qual rã —
Dizer-se o nome — Junho fora* —
A um Charco admirador!
* Com todo respeito ao tradutor, a frase assinalada parece soar melhor com outra versão, mais apropriada ao termo utilizado pela autora: “the livelong June”, ou seja, “o interminável Junho” (C. de A.)
_____________
Pingback: Saber Literário