Ainda não fui ver a Mostra Cinema e Direitos Humanos (ver post abaixo). Vou à noite. Mas para amanhã se anuncia uma produção premiada, que vale a pena ver. Refiro-me a Pro dia nascer feliz, de João Jardim (2006, 88 min). Transcrevo abaixo uma crítica bastante positiva, colhida no blog A Voz do Cidadão e publico o trailer do filme. Aproveitem.
Sinopse
As adversas situações que o adolescente brasileiro enfrenta dentro da escola.
Meninos e meninos, ricos e pobres em situações que revelam precariedade, preconceito, violência e esperança. Em três estados brasileiros, em classes sociais distintas, adolescentes falam da vida na escola, seus projetos e inquietações numa fase crucial de sua formação. Professores também expõem seu cotidiano profissional, ajudando a pintar um quadro complexo das desigualdades e da violência no país a partir da realidade escolar. Prêmio Especial do Júri no Festival de Gramado, 2006. No mesmo festival: Prêmios da Crítica e do Juri Popular, além do prêmio de MelhorTrilha Sonora. Melhor Documentário na 29ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (escolhido pelo Juri Oficial e pelo Juri Popular). Melhor Fotografia de Documentário, concedido pela Associação Brasileria de Cinematografia. Prêmio Especial do Juri do 10º Cine PE, Recife.
Pro dia nascer feliz
Documentário de João JardimUm dos mais impressionantes documentários sobre a realidade nacional. No caso, um rico, vasto e sensível painel do estado da educação no Brasil através de depoimentos emocionantes de jovens do ensino médio e de professores de três diferentes regiões brasileiras. Da menina Valéria que recitava poesias no longínquo sertão nordestino, lutando contra toda sorte de adversidade social, mas com um sentido de criação que chega a nos enrubescer.
Pois o que temos de reclamar por não realizar um projeto sem condições objetivas diante de tanta escassez de tudo? É emocionante o depoimento de Valéria, que afirma que ninguém na escola acreditava que era mesmo ela quem compunha seus poemas.
No extremo oposto da esquizofrênica pirâmide social brasileira, o diretor colhe, com admirável sensibilidade, as angústias dos jovens de classe média alta dos tradicionais colégios confessionais do Rio de Janeiro e São Paulo, superexigidos por pais, professores e amigos. Um painel de recursos
tecnológico-educacionais abundantes, muita expectativa de competição e muito pouco afeto.
Mas em meio a estas extremidades, o diretor João Jardim nos surpreende com a realidade mundo-cão das escolas das favelas das periferias do Rio e São Paulo. Escolas dantescas largadas à incúria das autoridades públicas, dentro do tradicional quadro de irresponsabilidade política e de ausência de
cidadania característico de nossa cultura de impunidade e de pastiche. Professores que fingem ensinar e alunos que fingem aprender, aqueles cativos do terror de alunos delinquentes e estes do narcotráfico que coabita muro a muro com a escola e alicia os jovens para o ilusório mundo das conquistas fáceis, alimentadas pela alienação consumista da mídia.
Os depoimentos que se seguem são de cortar o coração de qualquer cidadão que tenha um filho em idade escolar. Os jovens favelados, menores de idade, afirmam com escárnio que não tem lá muito problema roubar alguém ou até mesmo matar se for para livrar a cara, pois o máximo que vão pegar é três anos na Febem. Além do que sai na televisão todo o dia, que os políticos roubam muito mais e não são presos, o que justifica a criminalidade geral da sociedade, são justamente seus políticos.Basta ligar a televisão e está lá: o crime no Brasil compensa!
Grande e dura aula de cidadania brasileira para tomarmos ciência o quanto antes que, se a educação e as instituições jurídico-políticas estão sucateadas no Brasil, só sobra mesmo a mídia para salvar o país da barbárie. Até por que o círculo vicioso da violação legal e da violência social não interessa mais a ninguém, sobretudo aos mais abastados que falam tanto dos entraves e gargalos da economia e se omitem do dever de dar o exemplo da iniciativa e da participação política.
Trata-se, pois, de um documentário imperdível para os cidadãos verem e recomendarem!
O trailer