Arquivo do dia: 20 de outubro de 2009

Mais um achado arqueológico de Lina Faria

Em seu blog Não lugar,  Lina Faria postou uma foto incomum, quase sem perspectiva. Ela informa que se trata de um trabalho “da série de cicatrizes de casas que já se foram, mas mantiveram sua silhueta impregnada na parede do lado. Prova de que a forma supera a utilidade das coisas”.

Roubei a foto de lá (deixando a original, é claro) e pago com um comentário poematizado. Como prometi que faria (sem trocadilho) sobre fotos de Lina.

Fatia do Passado

Cleto de Assis, sobre foto de Lina Faria

ParedeFatia

A velha casa se foi
transformada em cacos,
talvez em restos de depósito de demolição,
talvez em entulho de construção
talvez em saudade de alguém que lá viveu.

A velha casa partiu
e logo, logo nem restará
a fatia impressa na parede lateral que virou muro
e alguém recolherá as esmolas nela encostadas,
a ex-porta, a ex-janela, a ex-parede de madeira
a centena de tijolos desgastados
e quem sabe os ladrilhos brancos do ex-banheiro.

A ordem e o progresso urbanos retirarão de cena
o quadro mondriânico amarelo-branco-preto
dividido em áurea proporção
onde alguém grafitou um homem deitado
e um (talvez) rabo de galo.

Ainda bem que Lina passou por ali
e seu olho mágico tornou imortais os restos mortais da velha casa.

Quer escrever minicontos? José Marins diz como é

O poeta e escritor José Marins, colaborador do Banco da Poesia, convida para um evento sob sua orientação, que se realizará na Biblioteca Pública do Paraná, em Curitiba. Veja abaixo os detalhes.

Curiosity

O F I C I N A   D E   M I N I C O N T O S

na

Biblioteca Pública do Paraná

Rua Cândido Lopes, 133 – Centro

Auditório Paul Garfunkel

de 26 a 29 de outubro (de segunda a quinta-feira)

das 14 às 17 horas


Vera Lúcia em busca de notícias

Minha busca vã

Iluustração: C. de A.

Ilustração: C. de A.

Ao rouxinol que canta
Na noite que vai caindo
Marcado de triste dor,
Às nuvens que vão subindo
Em matizes d’esplendor,
Eu peço notícias de ti.
Ao vento que vai passando
À brisa que vem chegando,
Ao odor do mar e da flor,
Ao canto das praias varridas
Pelas ondas irritadas,
Eu peço notícias de ti.
Às gaivotas que vão deixando
Pelo ar, um risco branco,
Ao rumor leve dos búzios,
Às mil e uma coisas da terra,
Eu peço notícias de ti.
Aos homens que vem chegando,
Aos barcos, às fontes, aos rios,
Às estrelas que vão brilhando
Em risos, em frio desdém,
Eu peço notícias de ti.
Ninguém mas dá…
Só a chuva, sobre mim em pranto se cerra…
Há silêncio em toda a terra
Silêncio seco e ruim
De ventos vergando ramos
Como se dentro de mim
O mesmo silêncio se vaze.
Não há notícias de ti…
E neste anseio cansado
Nesta pergunta tão vã,
Apenas queria, vê lá,
Ser nuvem, ser ave, ter asas,
Ter algo mais do que sonhos,
Do que cantos, do que versos,
P’ra que pudesse voar
E poder assim saber,
Algo de ti, meu amor.

Vera Lúcia