Os deuses não falam com pedras e flores
Artur Alonso Novelhe
Nós comemos carnes vermelhas
enquanto a rapariga de fome morre
e o mármore é praça,
o centro um círculo para comemorar
as velhas batalhas.
Em seu inicio fora pedra cerimonial
Comemos carne
para que o ventre das mães
não fique sem alimento
dado os medíocres serem insaciáveis
e os deveis, por descuido, ausentes.
Os deuses nos falam no Livro das Homenagens
Enquanto o sol avança pelo meio das pedras altas
E ridos ficam os braços com frio
de aqueles que arriscaram conquistar
um túmulo dormido no mármore
e precisamos todavia dum refúgio certo ao alcance,
na penúltima coluna, no penúltimo lugar sacro,
por onde a luz no solstício penetra
desde as primeiras madrugadas
daí que quando precisemos certezas
inventemos, oculto, um ninho sem ramos
mas os Deuses não precisam de cores imaginarias
nem reparam no sentido, das ramas entrelaçadas
sobre os peitos das musas
que amaram a espécie humana
Nós bebemos seu cálice
sonhamos seu sonho realizarem
e depois ao despertar tão só resta do mesmo o orvalho
Eles não apaziguam nossa dor
nem precisam sacrifícios ordinários,
no altar o cordeiro e na vida a reta palavra.
Pode a escolha errar, mas nunca é inevitável,
apesar de no seu nome se acumulem os cadáveres