Arquivo do dia: 11 de outubro de 2009

Nobel de Literatura 2009

Herta_Muller

Herta Müller nasceu em Niţchidorf, filha de agricultores da Suábia. Ela estudou Literatura alemã e romênia na Universidade de Timişoara. Sua família era parte da minoria alemã da Romênia e sua mãe foi deportada para um campo de trabalho na União Soviética, depois da Segunda Guerra Mundial.  Em 1976, Müller começou a trabalhar como tradutora para uma empresa de engenharia, mas foi demitida em 1979 por sua recusa em cooperar com a Securitate, polícia secreta do regime comunista de Nicolae Ceauşescu. Inicialmente, ela ganhava a vida como professora de um jardim de infância e com aulas particulares de alemão. Seu primeiro livro foi publicado na Romênia (em alemão) em 1982, e apareceu apenas em uma versão censurada, como ocorria com a maioria das publicações da época.

Em 1987, Müller foi para a Alemanha com o marido, o escritor Richard Wagner. Nos anos seguintes, ela atuou como lente em universidades da Alemanha e do exterior. Vive atualmente em Berlim. Müller foi recebida pela Academia Alemã de Literatura e Poesia, em 1995, e ganhou outros seguidos galardões. Em 1997, ela retirou-se do Pen Club da Alemanha, em protesto contra a fusão com a sua antiga filial da República Democrática Alemã.

Em julho de 2008, Müller enviou uma carta aberta à crítica Horia-Roman Patapievici, presidente do Instituto Cultural Romeno, em protesto ao apoio dado pela entidade a uma escola de verão romeno-alemã, que envolvia dois ex-informantes da Securitate.

A Fundação Nobel atribuiu o Prêmio Nobel da Literatura para Müller, “que, com a concentração da poesia e a franqueza da prosa, retrata a paisagem dos despossuídos”.

OCompromissoA escritora é praticamente desconhecida na língua portuguesa. Seu único livro publicado no Brasil é Heute wär ich mir lieber nicht begegnet, traduzido em inglês como The Appointment e aqui como O compromisso (Editora Globo, tradução Lya Luft). Este título ganhou o European Literature Prize. Em Portugal, foi publicado A Terra das Ameixas Verdes, pela editora Difel, e a editora Cotovia anuncia que colocará à venda, nos próximos dias, O Homem é um Grande Faisão sobre a Terra.

Bibliografia

(Os títulos foram vertidos livremente, uma vez que a maioria ainda não foi traduzida para o Português)

  • Niederungen, contos, versão censurada publicado em Bucareste, 1982.  Versão sem censura publicada na Alemanha, 1984. Publicado em Inglês como Nadirs (Nadires), em 1999.
  • Drückender Tango (Tango Opressivo), contos, Bucareste, 1984.
  • Der Mensch ist ein großer Fasan auf der Welt (O Homem é um enorme Faisão sobre o Mundo), Berlin 1986. Publicado em Inglês como The Passport, 1989.Publicado em Portugal como O Homem é um Grande Faisão sobre a Terra.
  • Barfüßiger Februar (Barefoot February, Fevereiro Descalço), Berlim, 1987
  • Reisende auf einem Bein (Viajando sobre uma Perna), Berlim 1989. Publicado em Inglês como Traveling on one Leg, 1992.
  • Wie Wahrnehmung sich erfindet (How Perception Invents Itself, Como a Percepção Inventa a si Mesma), 1990.
  • Der Teufel sitzt im Spiegel (The Devil is Sitting in the Mirror, O Diabo está sentado no Espelho), Berlin, 1991.
  • Der Fuchs war damals schon der Jäger (Even Back Then, the Fox Was the Hunter, A Raposa que Outrora foi o Caçador), Hamburgo, 1992.
  • Eine warme Kartoffel ist ein warmes Bett (A Warm Potato Is a Warm Bed, Uma Batata Quente é uma Cama Quente)), Hamburgo, 1992.
  • Der Wächter nimmt seinen Kamm (The Guard Takes His Comb, O Guarda Toma seu Pente), Hamburgo, 1993.
  • Angekommen wie nicht da (Arrived As If Not There, Chegar como Não Aqui), Lichtenfels, 1994.
  • Herztier (Coração Animal), Hamburgo, 1994. Publicado em Inglês como The Land of Green Plums, Nova Iorque, 1996. Editado em Portugal como A Terra das Ameixas Verdes.
  • Hunger und Seide (Hunger and Silk, Fome e Seda), ensaios, Hamburgo, 1995.
  • In der Falle (In a Trap, Em uma Armadilha), Göttingen, 1996.
  • Heute wär ich mir lieber nicht begegnet (Hoje, eu prefiro não me encontrar), Hamburgo, 1997. Publicado em Inglês como The Appointment; publicado em Português como  O Compromisso, Nova Iorque/Londres, 2001.
  • Der fremde Blick oder das Leben ist ein Furz in der Laterne (The Foreign View, or Life Is a Fart in a Lantern, A Visão Estrangeira ou a Vida é um Peido em uma Lanterna), Göttingen, 1999.
  • Im Haarknoten wohnt eine Dame (A Lady Lives in the Hair Knot, Em uma cabeleira mora uma dama), poesia, Hamburgo, 2000.
  • Heimat ist das, was gesprochen wird (Home Is What Is Spoken There, O lar é o que é falado ali), Blieskastel, 2001.
  • Der König verneigt sich und tötet (“The King Bows and Kills, O rei se Inclina e Mata), ensaios, Munique (e outros locais), 2003.
  • Die blassen Herren mit den Mokkatassen (The Pale Gentlemen with their Espresso Cups, O Homem Pálido com suas Xícaras de Café), Munique (e outros locais), 2005.

De deuses, flores e cores mesclados a carnes

Os deuses não falam com pedras e flores

Artur Alonso Novelhe

olympian

Nós comemos carnes vermelhas
enquanto a rapariga de fome morre

e o mármore é praça,
o centro um círculo para comemorar
as velhas batalhas.
Em seu inicio fora pedra cerimonial

Comemos carne
para que o ventre das mães
não fique sem alimento
dado os medíocres serem insaciáveis

e os deveis, por descuido, ausentes.

Os deuses nos falam no Livro das Homenagens

Enquanto o sol avança pelo meio das pedras altas
E ridos ficam os braços com frio
de aqueles que arriscaram conquistar
um túmulo dormido no mármore

e precisamos todavia dum refúgio certo ao alcance,
na penúltima coluna, no penúltimo lugar sacro,
por onde a luz no solstício penetra
desde as primeiras madrugadas

daí que quando precisemos certezas
inventemos, oculto, um ninho sem ramos

mas os Deuses não precisam de cores imaginarias
nem reparam no sentido, das ramas entrelaçadas
sobre os peitos das musas
que amaram a espécie humana

Nós bebemos seu cálice
sonhamos seu sonho realizarem
e depois ao despertar tão só resta do mesmo o orvalho
Eles não apaziguam nossa dor
nem precisam sacrifícios ordinários,
no altar o cordeiro e na vida a reta palavra.

Pode a escolha errar, mas nunca é inevitável,
apesar de no seu nome se acumulem os cadáveres