Arquivo do dia: 25 de agosto de 2009

Paraná na final do Prêmio Jabuti de Poesia

PremioJabutiFoi divulgada a relação dos finalistas do Prêmio Jabuti 2009, concedido pela Câmara Brasileira do Livro. Os vencedores serão conhecidos apenas em setembro. Mas chegar à final já é consagração. Os três vencedores de cada categoria serão anunciados no dia 29 de setembro, exceto os ganhadores das categorias Livro do Ano Ficção e Livro do Ano Não-Ficção, que serão revelados na cerimônia de premiação, no dia 4 de novembro, na Sala São Paulo.

O Paraná está honrosamente representado por Alice Ruiz, que concorre com seu livro Dois em Um, editado pela Iluminuras. Se ela vencer, será o seu segundo Jabuti, pois já foi premiada em 1989, com seu livro Vice Versos.

São estes os livros finalistas do Jabuti 2009:

Dois em Um (Iluminuras), Alice Ruiz (Paraná)
Chocolate Amargo (Brasiliense), Renata Pallotini (São Paulo)
Antigos e Soltos: Poemas e Prosas da Pasta Rosa (Instituto Moreira Salles), Instituto Moreira Salles (Rio de Janeiro)
Cinemateca (Schwarcz), de Eucanaã Ferraz (Rio de Janeiro)
A Letra da Ley (Annablume), Glauco Mattoso (São Paulo)
Homem Ao Termo – Poesia Reunida [1949-2005] (Editora UFMG),  Affonso Ávila (Minas Gerais)
Outros Barulhos (Reynaldo Bessa), Reynaldo Bessa (Rio Grande do Norte)
Geometria da Paixão (Anome Livros), Dagmar de Oliveira Braga (Minas Gerais)
Os Corpos e Os Dias (Editora de Cultura), Laura Erber (Rio de Janeiro)
Ferreira Gullar: Poesia Completa, Teatro e Prosa (Nova Fronteira), Ferreira Gullar (Maranhão)
Réquiem (Contra Capa), Lêdo Ivo (Alagoas)
Uma Hora Por Dia (7letras), Maria Helena Azevedo (Rio de Janeiro)

Dois em Um
Alice Ruiz nasceu em Curitiba, PR, em 22 de janeiro de 1946. Começou a escrever contos com 9 anos de idade, e versos aos 16. Foi “poeta de gaveta” até os 26 anos, quando publicou, em revistas e jornais culturais, alguns
poemas. Mas só lançou seu primeiro livro aos 34 anos.

Aos 22 anos casou com Paulo Leminski e, pela primeira vez, mostrou a alguém o que escrevia. Surpreso, Leminski comentou que ela escrevia haikais, termo que até então Alice não conhecia. Mas encantou-se com a forma poética japonesa, passando então estudar com profundidade o haikai e seus poetas, tendo traduzido quatro livros de autores e autoras japonesas, nos anos 1980.

Teve três filhos com o poeta: Miguel Ângelo Leminski, Áurea Alice Leminski e Estrela Ruiz Leminski. Estrela também é uma grande poeta: acabou de lançar um livro, junto com o Yuuka de Alice: Cupido: Cuspido e Escarrado (pela Editora AMEOP, de Porto Alegre) – provando que, filha de duas feras, essa Estrela tem luz própria.

Alice publicou, até agora, 15 livros, entre poesia, traduções e uma história infantil, que você pode conhecer clicando em Bibliografia [no site da autora].

Compõe letras desde os 26 anos – a primeira parceria foi uma brincadeira com Leminski, que se chamou “Nóis Fumo” e só foi gravada em 2004, por Mário Gallera. A poeta tem mais de 50 músicas gravadas por parceiros e intérpretes. Está lançando, em 2005, seu primeiro CD, o Paralelas, em parceria com Alzira Espíndola, pela Duncan Discos, com as participações especialíssimas de Zélia Duncan e Arnaldo Antunes. Para conhecer
essas gravações e os parceiros da poeta, dê uma olhadinha em Discografia [também no site da autora].

Antes da publicação de seu primeiro livro, Navalhanaliga, em dezembro de 1980, já havia escrito textos feministas, no início dos anos 1970 e editado algumas revistas, além de textos publicitários e roteiros de histórias em quadrinhos.

Alguns de seus primeiros poemas foram publicados somente em 1984, quando lançou Pelos Pêlos pela Brasiliense. Já ganhou vários prêmios, incluindo o Jabuti de Poesia, de 1989, pelo livro Vice Versos.

Já participou do projeto Arte Postal, pela Arte Pau Brasil; da Exposição Transcriar – Poemas em Vídeo Texto, no III Encontro de Semiótica, em 1985, SP; do Poesia em Out-Door, Arte na Rua II, SP, em 1984; Poesia em
Out-Door, 100 anos da Av. Paulista, em 1991; da XVII Bienal, arte em Vídeo Texto e também integrou o júri de oito encontros nacionais de haikai, em São Paulo.

As aulas de haikai são uma experiência única para quem já fez – Alice convence a gente que no fundo de cada um existe um poeta louco pra despertar, e descobrimos surpresos que sim, é possível!

Quer saber mais sobre Alice Ruiz? Então passeie pelas páginas do [seu] site – e depois não se esqueça de escrever pra ela, contando o que você descobriu aqui! Carô Murgel – Historiadora (s.d.)

Chico de Assis, uma estréia no Banco e na rede

Conheci Chico de Assis recentemente. Fui apresentado a ele por uma amiga que o conhece há mais tempo. Pelo que entendi, ambos tiveram um namorico na juventude e nunca mais deixaram de ser amigos. Chamou-me a atenção o seu nome, pois pensei logo em um possível parentesco. Mas ele me informou que foi batizado como Francisco de Assis Xavier. O sobrenome era do pai, que resolveu fazer uma homenagem a dois dos santos de sua devoção.

Na escola, ainda pequeno, muitos caçoavam, como informou, de seu nome,
chamando-o de São Francisco de Assis Xavier, ou simplesmente São Francisco Xavier. Mais tarde, para livrar-se das brincadeiras patronímicas, retirou o apelido paterno e passou a usar apenas Francisco de Assis. Emenda pior que o soneto, só mudou de santo. Como sempre foi uma pessoa simples, sem vaidades físicas, e costumava usar sandálias mais confortáveis que apertados sapatos – e, durante algum tempo de sua juventude contestatória, uma barba à cubana –  as semelhanças com o frade italiano eram ainda mais evidentes. Daí decidiu reduzir para Chico de Assis. Contou-me que só usa o nome verdadeiro em documentos e na conta bancária, quando sobra algum para depositar.

Minha amiga falou de suas qualidades de poeta e ele rapidamente emendou:
“De vez em quando…”, denotando certa timidez em falar de suas virtudes.
Mas, após uns três bons copos de vinho, destramelou a língua e nos brindou com alguns trabalhos seus, os que sabia de cor.

Ao final da conversa, depois de muita insistência minha, pediu meu e-mail para enviar alguns textos. Revelou que sempre se manteve longe da divulgação eletrônica de seus versos. Primeiro, porque nunca considerou seus poemas acabados, definitivos. “A cada passo que damos na vida, sempre há o que acrescentar”, falou, filosófico. Segundo, porque, no fundo, não se julgava um verdadeiro poeta, digno de espalhar suas palavras por aí. Jamais quis publicar livros e o máximo a que chegou foi à distribuição de trabalhos xerocados a amigos muito íntimos.

Como faço sempre com os novos colaboradores do Banco da Poesia, pedi a ele que enviasse, junto com os poemas, um resumo biográfico e uma foto. Aí ele reagiu e, quase seco, disse-me que os poemas já eram enorme concessão que fazia, em consideração à amiga comum. Mas biografia e foto, de jeito nenhum.

Mas por quê? — saiu-me a pergunta instintivamente. Ele simplesmente pegou um guardanapo de papel e escreveu, em um só lance, e, em seguida, entregou-me o produto, com o esclarecimento de que a primeira quadra é de Machado de Assis:

xxxxx“Ante as sandálias furadas
xxxxxQue entre cascalhos gastei,
xxxxxNão culpo o chão das estradas,
xxxxxCulpo os maus passos que dei.”

xxxxxNão tenho biografia
xxxxxSó poeira recolhida
xxxxxEm cada dura porfia.
xxxxxResumo assim minha vida.

xxxxxJá a foto reclamada
xxxxxnão a tenho, nem desejo
xxxxxter a cara publicada.
xxxxxEvito assim o gracejo

xxxxxQue me zangava de fato
xxxxxdesde os tempos de baixinho:
xxxxxquando viam meu retrato
xxxxxfalavam que era “santinho”…

Justifica-se, portanto, o quase anonimato. Dias depois, recebi sua mensagem, enviada de uma lan house. Ele havia dito que, como gosta muito de viajar, não tem computador. Sempre que precisa, estaciona em uma loja de Internet e escreve seus versos, ou transcreve os já rabiscados em uma caderneta. A máxima aproximação com o mundo eletrônico de exclusiva propriedade é um pen drive doado por um amigo, que levou tempo para aceitar; foi incluído em sua parca bagagem material porque não ocuparia lugar de nenhum par de meias – informou também o seu sempre presente bom humor.

Publico um primeiro poema, agradecendo a Chico de Assis, com as boas vindas do Banco da Poesia ao poeta estreante na rede eletrônica.

Promessa

Oferta

Não, não: não quero encontrar o amor dentro de uma receita de bolo.
Esta virá depois, metaforicamente, como requer a poesia.
Mas agora, neste momento mágico,
quando eu já pensava que tinha perdido as conexões cardíacas
tão próprias de almas mais jovens e aventureiras,
deixe-me entregue às metáforas e às imaginações.

Quando eu fizer perguntas, deixe-me navegar no mar das dúvidas
que só se apaziguará com o tempo.
Talvez nós dois, juntos, o levaremos à bonança
sem usar palavras, só com atos de ternura.

Por isso, quando ainda a sinto arredia,
atenta a atos e palavras com científico rigor,
juro, solene, junto ao altar do deus Amor:
preencherei sua alma com flores e poesia.

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Ilustração: Tratamento gráfico de imagem recolhida na Internet, sem indicação de autor