Há cristãos e não cristãos. Há católicos e não católicos. Há evangélicos, há protestantes, budistas, espíritas, existem os que se dizem ateus, há os agnósticos. Há o islamismo e o judaísmo.
Mas há também a Poesia, uma espécie de religião universal que desvenda segredos da vida, depura sensações, faz da palavra magia. Por isso, neste feriado, onde os católicos se reunem para lembrar a última ceia de Cristo, recolhi em Asamblea de Palabras o poema Corpus Christi – escrito pelos irmãos Antonio e Carlos Murciano, nascidos em Arcos de la Frontera, Cádiz, Espanha, en 1931 e 1929, respectivamente – e publicado no livro Poemas para orar (Biblioteca de autores cristianos, Madrí, 2004, ed. de Miguel Combarros). É poesia, merece a leitura por todos de todas as crenças. C. de A.
Antonio e Carlos Murciano
Corpus Christi
Todo fue así: tu voz, tu dulce aliento
sobre un trozo de pan que bendijiste
que en humildad partiste y repartiste
haciendo despedida y testamento.
“Así mi cuerpo os doy como alimento…”
¡Qué prodigio de amor! Porque quisiste,
diste tu carne al pan y te nos diste,
Dios, en el trigo para el sacramento.
Y te quedaste aquí, patena viva;
virgen alondra que le nace al alba
de vuelo siempre y sin cesar cautiva.
Hostia de nieve, nube, nardo, fuente;
gota de luna que ilumina y salva.
Y todo ocurrió así, sencillamente.
Sencillamente, como el ave cuando
inaugura, de un vuelo, la mañana;
sencillamente, como la fontana
canta en la roca, agua de luz manando:
sencillamente, como cuando ando,
como cuando Tú andabas la besana,
cuando calmabas sed samaritana
cuando te nos morías perdonando.
Sencillamente. Hora de paz. ¡Qué leves
tus manos para el pan, para el amigo!
Cena de doce y Dios. Noche de Jueves.
Y era en Jerusalén la primavera.
Y era blanco milagro ya aquel trigo.
Sencillamente: “Éste es mi cuerpo”. Y era.
Corpus Christi
Tudo foi assim: tua voz, teu doce alento
sobre um naco de pão que bendissestes
que em humildade partistes e repartistes
fazendo despedida e testamento.
“Assim meu corpo vos dou como alimento…”
Que prodígio de amor! Porque quisestes,
destes tua carne ao pão e ela nos destes,
Deus, dentro do trigo para o sacramento.
E aquí permanecestes, pátena viva;
virgem cotovia que aparece à alva
sempre do voo e sem cessar cativa.
Hóstia de neve, nuvem albescente,
gota de lua que ilumina e salva.
E tudo ocorreu assim, tão simplesmente.
Simples assim, como a ave quando
inaugura, com um voo, a aurora;
simplesmente, como a canora
água na pedra, vida e luz manando.
Simplesmente, como quando ando,
como quando Tu andavas na abesana,
quando pedias água à samaritana
quando agonizavas, já nos perdoando.
Simplesmente. Hora de paz. São teus
o pão, o vinho, o gesto doce e amigo.
Quinta à noite. Ceia de doze e Deus.
E era em Jerusalém a primavera.
E era alvo milagre já aquele trigo.
Simplesmente: “Este é meu corpo”. E era.
Tudo foi assim: tua voz, teu doce alento
sobre um naco de pão que bendissestes
que em humildade partistes e repartistes
fazendo despedida e testamento.
“Assim meu corpo vos dou como alimento…”
Que prodígio de amor! Porque quisestes,
destes tua carne ao pão e ela nos destes,
Deus, dentro do trigo para o sacramento.
E aquí permanecestes, patena viva;
virgem cotovia que aparece à alva
sempre do voo e sem cessar cativa.
Hóstia de neve, nuvem albescente,
gota de lua que ilumina e salva.
E tudo ocorreu assim, tão simplesmente.
Simples assim, como a ave quando
inaugura, com um voo, a aurora;
simplesmente, como a canora
água na pedra, vida e luz manando:
simplesmente, como quando ando,
como quando Tu andavas na abesana,
quando acalmavas sede samaritana
quando agonizavas, nos perdoando.
Simplesmente. Hora de paz. São teus
o pão, o vinho, o gesto doce e amigo.
Quinta à noite. Ceia de doze e Deus.
E era em Jerusalem a primavera.
E era alvo milagre já aquele trigo.
Simplesmente: “Este é meu corpo”. E era.
Que belo poema. Que ritmo, que lirismo, que sonoridade. O cristianismo pela essência da poesia. É o poema que eu gostaria de ter escrito.
Parabéns Cleto, pela postagem e pela tradução.
Parabéns, sobretudo, pela magia gráfica das imagens, pela luz e pela sombra, pelo cálice em oferenda, pelo pão(?) e pelo vinho.