Artur Alonso Novelhe, poeta e escritor, nasceu na Cidade do México em 1964. Ele mesmo informa: “Filho de galegos, galego pois, e mexicano porque os primeiros aromas, os primeiros passos sobre a relva, o sonho persistente de lua como parte da vida, o corpo deitado da mulher desnuda, essa figura de vulcão que dorme e escuta o latir da cidade, do vale na profundeza no silêncio… ficam para sempre inseridos na alma». Artur acrescenta que também fazem parte da sua identidade “o exílio e a forçada migração… dos seres que vivem divididos em dois…”. Membro da AGLP (Academia Galega da Língua Portuguesa) e do Clube dos Poetas Vivos, uma associação poética que mistura musica, pintura com poesia e textos literários. Participa nas redes sociais da cultura galega, “para levar a poesia a rua e campo, a natureza… de onde surgiu”.
Tem dois livros publicados : Entre os teus Olhos (Difusora, 2003) e Umha Meixela Depois a Outra* (AGAL, 2005), além de poemas soltos na revista Agália, colaborando também com a revista Outras Vozes e o periódico Novas da Galiza. Primeiro prêmio no XVIII Certame Poético Feliciano Rolán (Guarda – Baixo Minho). Tem participado em livros coletivos, várias colaborações em revistas e jornais, assim como na Web e jornais digitais. Nossas boas vindas ao mais recente amigo do Banco da Poesia.(Informações do próprio poeta e do site Clube dos Poetas Vivos – http://poetas.agal-gz.org )
Houve um tempo
Foto:Philippe Tarbouriech - Galeria Flickr
Houve um tempo em que o mar de fogo
não ardia meu peito preso da história vital
que cada homem percorre no fio do seu cutelo
e eu tinha companheiros no dia para dançar
almoçando até o pôr de sol fazer inveja
de sonhar toda a noite, serem nossa, num branco para o luar
assim como quem abre entre as asas de duas pombas
uma bandeira branca encaixada na linha do ar,
para ansiar dele mesmo ser vento
eu crescia na ideia de tudo dar porque a vida era infinita
porque houve um tempo em que a humildade
e a casa e a pobreza não tinham importância
e tu e companheiro igual significado
como amigo e alento
mas também houve um tempo
em que a luz do nosso interior era cinzas na crueldade a vir
dos homens que se aferram, com medo,
a impor desejos, no sangue de quem caiu
porque também houve um tempo
para irrigar brêtema** densa nos olhos dos filhos
e morte nas veias
e mães que perseguem eternamente um porquê
nas janelas retidas da sua memória, que nunca se abrem
e esse era o tempo para eu perder a inocência.
E esse era o tempo para enfrentar-me com Deuses falsos,
sentir e comprovar que eram gigantes de Pedra
e junto a toda sua mentira minha alma velha falecer.
Porque houve esse tempo doloroso
preciso para renascer na Aurora da Vida
bebendo de seus lábios o néctar da verdade
para eu dos sonhos acordar.
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NOTAS(*) Unha meixela depois a outra: Uma bochecha depois a outra (do latim maxillam, passando pelo castelhano mejilla)
(**) Brêtema s. f. Termo usado na Galícia: (1) Névoa úmida. Variações: Brêtima, brêtoma. (2) Chuva forte. (3) Chuva forte com vento. (4) Nuvens que passam sem produzir chuva.
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