Arquivo do dia: 30 de maio de 2009

Em julho, grande exposição de Paul Garfunkel

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Recebemos comentário de Luca Rischbieter, neto de Paul Garfunkel, no qual, junto ao agradecimento pela homenagem feita pelo Banco a seu avô (https://cdeassis.wordpress.com/2009/05/13/maio-mes-de-paul-garfunkel/), ele nos comunica que:

  • Está em preparação uma grande exposição  de  Garfunkel, a começar em 14 de julho desse ano, no Museu Oscar Niemeyer.
  • O vídeo dos músicos, publicado naquele post, é de autoria de  Mauricio Runno, escritor argentino reponsável pela organização e catalogação de milhares de aquarelas do PG, adormecidas em pastas que ficaram com a família.

Nós é que agradecemos, Luca.

António Gedeão revela os simples mistérios da Pedra Filosofal

antonio_gedeãoAntónio Gedeão , poeta, professor e historiador da ciência portuguesa, é pseudônimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, nascido em Lisboa em 1906 e falecido em 1998. Concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a atividade docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, ao colaborar em revistas da especialidade e organizar obras no campo da história das ciências e das instituições, como a Atividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou, ainda, outros estudos, como a História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Foi diretor da Sociedade Portuguesa de Química e Física (1957), da qual foi eleito presidente honorário em 1988. Integrou a direção da revista Gazeta de Física (1946), a redação da Palestra (1958), co-dirigiu o Boletim do Ensino Secundário (1973) e foi diretor do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa (1990).

O poeta António Gedeão revela-se em Movimento Perpétuo (1956), onde consta um dos poemas que a versão musicada popularizou, Pedra Filosofal, no final dos anos 60.A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogêneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.

Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). No seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional e condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant’iago de Espada.

O Banco da Poesia faz uma homenagem ao poeta com a publicação de seu poema mais famoso, em letra e música. No vídeo, quem canta é Manuel Freire. A título de curiosidade, publicamos também o autógrafo de Pedra Filosofal.

Agradecimento especial a Manoel de Andrade, que indicou e avalisou este depósito póstumo. E  também a Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, que, com sua Caravela, deu uma mãozinha na ilustração.

Pedra Filosofal

Sonho

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e ouro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxDe Movimento Perpétuo, 1956

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