Arquivo do dia: 13 de maio de 2009

13 de maio

Lei_Áurea

Documento da Lei Áurea, assinado pela Princesa Isabel, Regente do Brasil, em 1888

No dia em que completamos 111 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravatura no Brasil, é bom lembrar o ímpeto de Antonio Frederico de CASTRO ALVES, que morreu jovem, em 1871, sem ver um de seus belos sonhos realizados. Sua obra deixou muitas páginas de gritos fragorosos em favor da liberdade dos escravos. Um de seus livros foi inteiramente dedicado a eles, além de poemas esparsos que faziam a denúncia desta página infame de nossa história.

Ao romperD'alva

Ao lembrar o dia 13 de maio, neste início de século e de milênio, não quero partilhar o ferro da vingança, como ilustrou o poeta baiano em um de seus poemas. Cresci em um ambiente de liberdade social, convivendo, desde os primeiros anos de escola, com colegas brancos, negros, pobres e ricos. Aprendi, desde cedo, que o Brasil, por seu notável caldeamento étnico (não racial, pois só existe uma raça humana), era um país de oportunidades para todos. Mais tarde, também aprendi que as oportunidades não eram tão bem repartidas, mas estavam ao alcance de todos os que a procuravam, principalmente por meio da educação.

Lamentavelmente, estamos vivendo um regresso a sentimentos mesquinhos, que têm ranço de uma nova – e errada – mentalidade  racista e, o que é pior, uma “democracia” que tentam construir somente em favor das chamadas minorias. O que temos que construir, na verdade, é uma nação cada vez mais solidária, que se educa com os erros do passado fazendo acontecer um presente digno para todas as pessoas. Jamais evocá-los para cobrar faltas a quem não as cometeu ou aproveitá-las para justificar certas facilidades sociais que premiam apenas alguns poucos, em desfavor de um grande número de brasileiros que também merece crescer.

Queremos um Brasil justo para todos os brasileiros, como sonhava o cantor da Cachoeira de Paulo Afonso. (C. de A.)

AO ROMPER D’ALVA

Castro Alvescastroalves
Página feia, que ao futuro narra
Dos homens de hoje, a lassidão, a história
Com o pranto escrita, com suor selada
Dos párias misérrimos do mundo!…
Página feia, que eu não possa altivo
Romper, pisar-te, recalcar, punir-te…
xxxxxxxxxxxxxxxxxPedro Calasans



xxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxx

Sigo só caminhando serra acima,
E meu cavalo a galopar se anima
xxxAos bafos da manhã
A alvorada se eleva do levante,
E, ao mirar na lagoa seu semblante,
xxxJulga ver sua irmã.

As estrelas fugindo aos nenúfares,
Mandam rútilas pérolas dos ares
xxxDe um desfeito colar.
No horizonte desvendam-se as colinas,
Sacode o véu de sonhos de neblinas
xxxA terra ao despertar.

Tudo é luz, tudo aroma e murmúrio.
A barba branca da cascata o rio
xxxFaz orando tremer.
No descampado o cedro curva a frente,
Folhas e prece aos pés do Onipotente
xxxManda a lufada erguer.

Terra de Santa Cruz, sublime verso
Da epopéia gigante do universo,
xxxDa imensa criação.
Com tuas matas, ciclopes de verdura,
Onde o jaguar, que passa na espessura,
xxxRoja as folhas no chão;

Como és bela, soberba, livre, ousada!
Em tuas cordilheiras assentada
xxxA liberdade está.
A púrpura da bruma, a ventania
Rasga, espedaça o cetro que s’erguia
xxxDo rijo piquiá.

Livre o tropeiro toca o lote e canta
A lânguida cantiga com que espanta
xxxA saudade, a aflição.
Solto o ponche, o cigarro fumegando
Lembra a serrana bela, que chorando
xxxDeixou lá no sertão.

Livre, como o tufão, corre o vaqueiro
Pelos morros e várzea e tabuleiro
xxxDo intrincado cipó.
Que importa’os dedos da jurema aduncos?
A anta, ao vê-los, oculta-se nos juncos,
xxxVoa a nuvem de pó.

Dentre a flor amarela das encostas
Mostra a testa luzida, as largas costas
xxxNo rio o jacaré.
Catadupas sem freios, vastas, grandes,
Sois a palavra livre desses Andes
xxxQue além surgem de pé.

Mas o que vejo? É um sonho!… A barbaria
Erguer-se neste sécl’o, à luz do dia.
xxxSem pejo se ostentar.
E a escravidão – nojento crocodilo
Da onda turva expulso lá do Nilo –
xxxVir aqui se abrigar!…

Oh! Deus! não ouves dentre a imensa orquestra
Que a natureza virgem manda em festa
xxxSoberba, senhoril,
Um grito que soluça aflito, vivo,
O retinir dos ferros do cativo,
xxxUm som discorde e vil?

Senhor, não deixes que se manche a tela
Onde traçaste a criação mais bela
xxxDe tua inspiração.
O sol de tua glória foi toldado…
Teu poema da América manchado,
xxxManchou-o a escravidão.

Prantos de sangue – vagas escarlates –
Toldam teus rios – lúbricos Eufrates –
xxxDos servos de Sião.
E as palmeiras se torcem torturadas,
Quando escutam dos morros nas quebradas
xxxO grito de aflição.

Oh! ver não posso este labéu maldito!
Quando dos livres ouvirei o grito?
xxxSim… talvez amanhã.
Galopa, meu cavalo, serra acima!
Arranca-me a este solo. Eia! te anima
xxxAos bafos da manhã!

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxRecife, 18 de julho de 1865

Maio, mês de Paul Garfunkel

AutoRetratoPG_oleo_1945_45x31cmMaio é o mês de Paul Garfunkel, querido amigo com quem convivi, na década de 60, nos bons tempos da Escola de Belas Artes e da Galeria Cocaco. O mestre Garfunkel descia quase diariamente a rua XV, nos fins de tarde, desde seu ateliê, nas imediações da Universidade Federal, e se reunia com os jovens artistas da época, numa convivência pacífica e produtiva, em que as faixas etárias eram ignoradas e todos respiravam o pouco de arte da Curitiba de então. Discreto sempre, nunca deixou de comparecer a exposições e eventos culturais, sempre acompanhado da criativa e palpitante Madame Garfunkel.

Nascido em Fontainebleau, a 60 km de Paris, França, em 9 de maio de 1900, ele veio para o Brasil em 1927, um ano após ter casado com Helène Fanny Ginvert, mais conhecida, em sua vida paranaense, como Madame Garfunkel, responsável pela dinamização da Aliança Francesa, uma referência cultural em Curitiba por várias décadas.  Em suas primeiras andanças por São Paulo (onde nasceria, em 1929, sua filha Françoise-Marie, a Franchette, omo era carinhosamente chamada por todos) , colocou à disposição sua formação de engenheiro industrial, mas acabou vindo para o Paraná, estado que o captou definitivamente como artista visual. Em meados dos anos 60, editamos, Philomena Gebran e eu, um singelo álbum de reproduções de aquarelas de animais feiotas por Paul Garfunkel, por ocasião de uma daquelas famosas feiras agropecuárias do Parque Canguiri.

Depois, já por conta de minhas caminhadas fora de Curitiba, tive nova aproxcimação com sua obra ao proteger, em Brasília, no ano de 1984, uma coleção de 30 aquarelas em poder de um esperto metido a experto em artes, que ameaçava destruir as obras do artista, só porque suas ofertas de venda do acervo a órgãos públicos e empresários não obtiveram êxito. Coincidentemente, eu ocupava interinamente a presidência do Conselho Nacional de Direito Autoral e, ao notar que a ameaça do vândalo se constituía em crime previsto em lei, decidi tomar providências para evitar a morte anunciada das aquarelas. Mas houve demora na ação preventiva, pois o CNDA teve que requerer uma medida cautelar à Justiça, cuja liminar foi concedida somente duas horas após a realização do happening destrutivo, em um hotel de Brasília. Ainda tentei, por telefone, comunicar-me com o tresloucado “colecionador”, mas ele tinha chamado a atenção da imprensa e não desistiu de seu intento. Sempre espertalhão, ele não destruiu completamente as aquarelas, mas retalhou-as cuidadosamente com uma tesoura, em quatro partes cada uma, por certo prevendo uma possível restauração. Isso facilitou nossa próxima ação, já por meio do Ministério Público Federal, para requerer à Justiça a apreensão e guarda das aquarelas mutiladas, todas encontradas, no dia seguinte, na casa do iconoclasta tupiniquim, para onde me dirigi, em companhia do oficial de justiça, para recolher os despojos.

Como, na época, eu trabalhava no Ministério da Justiça, que tinha instalado recentemente um bem aparelhado laboratório de restauração de livros e documentos, consegui o apoio do estão ministro Ibrahim Abi Ackel para que as obras fossem ali restauradas. O fim da história? Ainda não chegou. Segundo soube recentemente, a ação sobre a apreensão das obras ainda corre na Justiça de Brasília, apesar dos 15 anos decorridos. Coisas do meu Brasil brasileiro.
largo-da-ordem-paul-garfunkel-1957
Mas voltemos a Garfunkel, cuja obra já pertence à história da arte parananese e brasileira. Aliás, sua longa permanência na vida artística do Paraná, desde o pós-impressionismo (onde muitos o situam), à reação ao abstracionismo e a renovação das artes plásticas, depois de 60, o tornou partícipe de vários eventos importantes de nossa cultura.

Como registrei no início, maio é seu mês. Nasceu num 9 de maio (outra coincidência: eu também) e morreu no dia 11 de maio de 1981, exatamente há 18 anos. No livro Paul Garfunkel: um Francês no Brasil, seu genro Karlos Rischbieter conta: “Ele registrava tudo em cadernos, blocos, folhas soltas. Tudo: pessoas, animais, casas, paisagens, tudo o que lhe aparecia à frente. E era um registro de ‘repórter’, no bom e original sentido da palavra. Com traços poucos e leves, uma espécie de sumi-ê ocidental, ele captava o seu assunto como se tivesse o poder de uma máquina fotográfica que, por uma capacidade extraordinária, sé enxergava e reproduzia o essencial.”

A crítica de arte Adalice Araújo escreveu, em 1974: “O que mais nos emociona em sua vasta produção são os croquis e manchas rápidas, em que nos transmite a impressão primeira das coisas. Como os impressionistas, é sobretudo um artista de instantâneos, em cujos toques nervosos de grande vibração mágica, capta a crônica da vida cotidiana…”

Mas é dele a palavra final: “Não entendo por que se criam tantos tabus em relação à arte. Ela é em essencial tão simples! Está nas ruas, na gente que passa; é apenas uma questão de sensibilidade, de transmissão de sentimentos, de diálogo de amor“.

A Paul Garfunkel, nosso abraço saudoso. E nossa homenagem, com o vídeo seguinte, que mostra o seu assíduo comparecimento aos recitais de música, sempre anotando tudo.

____________

Ilustrações (de Paul Garfunkel)
Auto-retrato (1945)
Óleo s/ tela 45x31cm 

Largo da Ordem (1957)
Óleo s/ tela
demais informações não localizadas

Marilda Confortin convida

Nesta sexta-feira, 15 de maio de 2009 depois das 19 horas,esqueça a casa e o trabalho e venha dar o seu grito de liberdade no Bar Do Mato.      http://www.domato.com.br/
Entre músicos, poetas, contadores de histórias e causos, estaremos celebrando (bebericando) nossa Lei Áurea Inconfidente: Prazer, Poesia e Liberdade.
Em anexo, estamos enviando  o convite, endereço e a bandeira de nossa causa mui justa.
Sua presença será comemorada com um Grito.
Pre-requisito: Cantar nosso samba- manifesto, etnicamente correto: o Samba do Afrodescendente Doido.
CONVITE DO MATO jpg
Samba do Afrodescendente doido

(Samba do Crioulo Doido)

Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

Imperatriz Leopoldina - 01Foi em Diamantina
Onde nasceu JK
Que a Princesa Leopoldina
Arresolveu se casá
Mas Chica da Silva
Tinha outros pretendentes
E obrigou a princesa
A se casar com Tiradentes

Lá iá lá iá lá ia
O bode que deu vou te contar
Lá iá lá iá lá iá
O bode que deu vou te contar

Joaquim José
Que também é
Da Silva Xavier
Queria ser dono do mundo
E se elegeu Pedro II
Das estradas de Minas
Seguiu pra São Paulo
E falou com Anchieta
O vigário dos índios
Aliou-se a Dom Pedro
E acabou com a falseta

Da união deles dois
Ficou resolvida a questão
E foi proclamada a escravidão
E foi proclamada a escravidão
Assim se conta essa história
Que é dos dois a maior glória
Da. Leopoldina virou trem
E D. Pedro é uma estação também

O, ô , ô, ô, ô, ô
O trem tá atrasado ou já passou

Marilda Confortin

http://iscapoetica.blogspot.com/

__________________

Ilustração: Imperatriz Leopoldina Teresa Francisca Carolina Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon. Aquela que virou trem
(C. de A.)