Augusto dos Anjos, ecologista e futurólogo

O último dia 20 de abril marcou o 115º aniversário de nascimento de Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914). Um dos mais críticos poetas de seu tempo, é  conhecido como simbolista ou parnasiano, embora alguns críticos o considerem pré-modernista.

Em homenagem a seu aniversário, publicamos dois sonetos. O primeiro, mostra a preocupação romântica do poeta com a proteção das árvores, numa época em que as matas orientais brasileiras ainda eram avantajadas. É apropriado, também, para o Dia da Terra, hoje comemorado.

O segundo soneto é um curioso elogio ao aeroplano. Note-se que Augusto dos Anjos, falecido em 1914, testemunhou apenas os primeiros passos da aviação. Na época de sua morte, preparava-se o uso do avião para a I Grande Guerra, que, segundo a história, tanto desgosto teria causado em Santos Dumont. Ambos nem sequer imaginavam que as aeronaves, já na metade do Séc. XX, se elevassem bem mais alto, “em busca do infinito”.

A Árvorte da Serra

arvore

– As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho…
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

– Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros… no junquilho…
Esta árvore, meu pai, possui minha alma!…

– Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

A Aeronave

foguete1

Cindindo a vastidão do Azul profundo,
Sulcando o espaço, devassando a terra,
A Aeronave que um mistério encerra
Vai pelo espaço acompanhando o mundo.

E na esteira sem fim da azúlea esfera
Ei-la embalada na amplidão dos ares,
Fitando o abismo sepulcral dos mares
Vencendo o azul que ante si erguera.

Voa, se eleva em busca do Infinito,
É como um despertar de estranho mito,
Auroreando a humana consciência.

Cheia da luz do cintilar de um astro,
Deixa ver na fulgência do seu rastro
A trajetória augusta da Ciência.

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