Arquivo do dia: 14 de abril de 2009

Cinco Haikais de Erly Welton

Erly Welton Ricci nasceu em 1955, em Londrina, PR. Graduado em Psicologia (UFES/ES)  e Letras (UEM/PR). Jornalista, atuou em jornais (Folha de São Paulo, Jornal do Brasil, Correio Brasiliense, Folha de Londrina) e revistas (Planeta, Isto É e Em Tempo – como editor). Foi correspondente da Agência Folha na África do Sul, Bósnia e Afeganistão, na década de 80. Desde os 14 anos, dedica-se à poesia, com publicação em diversas revistas e jornais literários, e na produção de documentários sobre cultura e ciência. Tem dois livros publicados: Poeisi Y Auteridade e Imagética In Fine, e dois inéditos, Mitofobia, uma série de cem poemas para serem lidos em voz grave, e Zona Desconhecida (aliteração dos signos).  Atualmente trabalha como assessor de comunicação da Prefeitura de Antonina, onde reside desde 2002.

Os haikais que publicamos foram classificados em concurso de poesia do Japão (2007). Compostos originalmente em inglês, dentro dos padrões exigidos pelo concurso com as temáticas próprias dos haikais – referência a uma estação do ano, natureza e com três versos de 5,7 e 5 sílabas. Segundo o autor, foi feita “uma tradução praticamente literal preservando a métrica, mas não soam tão caligráficos como o pretendido originalmente”.

haikais em cinco estações


1.

primaveraprimavera só
enquanto cor o dia
arco-íris tem flor

xxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxx

2.

outonominha calma vai
folha que voa livre
no azul céu outonal

xxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxx

3.

temposolo tempo é sol
presente em só quatro
estações sentimentais

xxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxx

4.

icecristalcobre o mundo
branco sobre o prado
neve de cristal

xxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxx

5.

colibribeija-flor bebe
doce orvalho branco
fina flor de luz

xxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxx

_____________________

Ilustrações: C. de A.

Hoje, os Poemas para a Liberdade

Hoje, 15 de abril,  a partir das 20 horas, no Espaço Cultural Alberto Massuda (Rua Trajano Reis, 453 – Centro Histórico de Curitiba), Manoel de Andrade lança a edição bilingue de seu livro Poemas para a Liberdade.

Publicamos, abaixo, um dos poemas do livro, em suas duas versões. A primeira, no idioma espanhol, como foi publicado originalmente.

mensagem

Mensaje

Vosotros que aguardáis la vida en el vientre de los siglos,
que sois la gestación de la nueva raza todavía por venir
hoy es para vosotros que yo canto
hoy que vivimos en un tiempo de mártires
granadas floreciendo veloces
mil panteras hambrientas rondando nuestro vientre
puñales azuzados en todos los puños.

Hombres del futuro
es para vosotros mi esperanza mi certeza ardiente
las rosas rojas de mis labios; vosotros que sois las uvas
y el pan de la justicia en nuestros sueños calci¬nados
vosotros que vendréis para justificar nuestra san¬gre
y nuestro dolor.

Va mi verso, va…
porque hoy es triste cantar en las tinieblas
cantar con el hambre de mi pueblo
con el murmullo de los oprimidos;
y con mi hablar hecho de llantos,
hecho de pájaros torturados,
cantar el destino demente de mi patria,
cantar con los cuerpos de los que caen,
y sentir que muero tantas veces
y saber que tantos ya murieron
para que vosotros piséis un día
el suelo de la libertad.

Va velero, va…
mis versos transformados en un solitario barco
a buscaros más allá de muchas lunas.
Me voy de aquí
para no ver mi canción marchitando.
Me voy de aquí
porque el poeta tiene que mendigar por una rosa infinita
por un suburbio qualquiera de la eternidad.

Generaciones futuras,
es para vosotros que hoy canto
para un tiempo de hermanos y camaradas.
Me voy de aquí
a morar con vosotros en la eternidad de la vida.

Va velero, va…
y no encalles la poesía en las aguas bajas de estos años
porque aquí los poetas ya no son oídos.
Navega en busca de los que aún vendrán,
lleva mi sueño por el inmenso mar del tiempo,
llévame bien lejos de mis lágrimas.

Mensagem

Vós que aguardais a vida no ventre dos  séculos,
vós que sois a gestação da grande raça ainda por vir,
gerações futuras,
hoje é para vós que eu canto
porque hoje nós vivemos num tempo de mártires
granadas desabrochando  velozes
mil panteras famintas rondando nosso ventre
punhais atiçados em todos os punhos.

Homens do  futuro
é para vós minha esperança
minha certeza ardente
as rosas rubras dos meus lábios.
Vós que sois as  uvas
e o pão da justiça em nossos sonhos calcinados.
Vós que vireis para justificar o nosso  sangue
e a nossa dor.

Vai meu verso, vai…
porque hoje é triste demais cantar nas trevas
cantar com os gritos do meu povo
com o murmúrio dos oprimidos…
e com minha fala feita em prantos,
feita de pássaros torturados,
cantar com os corpos dos que tombam,
e sentir que morro tantas vezes
e saber que tantos já morreram
para que vós  piseis um dia  o chão da liberdade.

Vai veleiro, vai…
meus versos transformados num solitário barco
a vos buscar além de muitas luas.
Vou-me daqui
para não ver minha canção murchando.
Vou-me daqui
porque o  poeta tem que mendigar por uma rosa infinita
por um subúrbio qualquer da eternidade.

Gerações futuras
hoje é para vós que eu canto
para um tempo de irmãos e camaradas.
Vou-me daqui
para morar convosco na imortalidade da vida.

Vai veleiro, vai…
e não encalhes a poesia nas águas rasas destes anos
porque aqui os poetas já não são ouvidos.
Navega em busca dos que virão ainda,
leva meu sonho pelo imenso mar do tempo,
leva-me para bem longe das minhas lágrimas.

xxxxxxxxxxxxxxxCuritiba, novembro de 1968
______________________
Ilustração: montagem de C. de A.