Conta nova para Erly Welton Ricci

Nosso Medo

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Não usa sapatos novos
Nem assoma na janela
O uivo de sete paredes
Nosso medo

Ruas mal-iluminadas
Pedra assentada no ombro
O que espreita na lida
O nosso medo

Signo de nenhuma estrela
Crucificada no erro
Em vestes corruptíveis
Nosso medo

Fala pelos cotovelos
Entre ossos e lama e aço
Cerra olhos e punhos
Nosso medo

Não tem a morte no rosto
Não oferece a outra face
Ferro e fogo do verso
O nosso medo

Cálice de vinho e veneno
Inverno de mitos sangrentos
Desperta mil vezes em cena
O nosso medo

É uma montanha de pedra
Ciência e deuses no Olimpo
Rosário de cal e areia
Nosso medo

Punhado de sal na têmpora
O dia que ainda não veio
Barco na névoa espessa
Nosso medo

Cova rasa do julgamento
A linha de qual horizonte
Minúcias de cal e areia
Nosso medo

São farpas e ferpas na unha
Estrada longa e estreita
Reza pra todos os santos
O nosso medo

Ferrugem no pó e nos pelos
O sangue de metal e fungos
A certeza de não sabermos
O nosso medo

Em doze motes de cera
Ferro de muros e cercas
Arame em torno do punho
O nosso medo

Erly Welton Ricci
________________________
Ilustração:
A Tempestade (1893), de Edward Munch (1863-1944)
Óleo sobre tela
91,5 x 131 cm
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

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