Arquivo do dia: 13 de abril de 2009

Conta nova para Erly Welton Ricci

Nosso Medo

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Não usa sapatos novos
Nem assoma na janela
O uivo de sete paredes
Nosso medo

Ruas mal-iluminadas
Pedra assentada no ombro
O que espreita na lida
O nosso medo

Signo de nenhuma estrela
Crucificada no erro
Em vestes corruptíveis
Nosso medo

Fala pelos cotovelos
Entre ossos e lama e aço
Cerra olhos e punhos
Nosso medo

Não tem a morte no rosto
Não oferece a outra face
Ferro e fogo do verso
O nosso medo

Cálice de vinho e veneno
Inverno de mitos sangrentos
Desperta mil vezes em cena
O nosso medo

É uma montanha de pedra
Ciência e deuses no Olimpo
Rosário de cal e areia
Nosso medo

Punhado de sal na têmpora
O dia que ainda não veio
Barco na névoa espessa
Nosso medo

Cova rasa do julgamento
A linha de qual horizonte
Minúcias de cal e areia
Nosso medo

São farpas e ferpas na unha
Estrada longa e estreita
Reza pra todos os santos
O nosso medo

Ferrugem no pó e nos pelos
O sangue de metal e fungos
A certeza de não sabermos
O nosso medo

Em doze motes de cera
Ferro de muros e cercas
Arame em torno do punho
O nosso medo

Erly Welton Ricci
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Ilustração:
A Tempestade (1893), de Edward Munch (1863-1944)
Óleo sobre tela
91,5 x 131 cm
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque

Mais um percurso curitibano de Marilda Confortin

Curitibar

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Gosto muito dos bares
às terças e quintas.
Nesses dias,
todos os pares são ímpares.

Aos sábados,
Todos os gatos são pardos
E as gatas, persas.
Si, siamo tutti perduti, gracia Dio!

Segunda é dia de amantes.
Diamantes… até os falsos, são brilhantes.

As quartas são todas de cinzas.
Curitibanos ranzinzas.

Sexta é extensão de expediente.
Gente barulhenta,
fingindo que está se divertindo.

Das feiras da semana
gosto mesmo das de domingo:
Feira de artesanato,
feira de frutos do mar,
feira de livros,
feira livre
pra ficar dormindo.

Marilda Confortin

__________________

Ilustração:
Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901)
No Moulin Rouge, 1893-95
Óleo sobre tela, 123 x 141 cm
Acervo do Instiituto de Arte de Chicago, EUA

Poema de João Batista do Lago

A concha e sua imensidão

Ilustração: C. de A.

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Da imensidão da concha
Recrio-me da pequenez
Invado minha floresta
À cata do rio mais limpo
Para garimpar a perola negra
A mais sublime pedra
Gerada pela concha
Que só revela seus segredos
À sua imensa floresta

No interior da floresta
Guardada pelas águas dum rio livre
A concha jamais aborta suas pérolas
Ela recria-se com tanta imensidão
Deixa de ser pequena habitação
Para se tornar palácio de todas as pérolas
E ser o ventre de toda natureza
No movimento mais sublime da criação
Do molusco perfeito que se arrasta pelo chão

Assim é a imensidão da minha concha
Quando se lha tem guardada pela floresta e pelo rio
Não há nada mais sublime; e nem divino
Nada maior existe que sua própria dimensão
Pérola e molusco vagam a mesma floresta
E navegam no mesmo rio de águas livres
Rompendo rochedos; furando pedras
Abrindo caminhos com a força do furacão
Rasgando a imensidão da terra para nova habitação

João Batista do Lago

Banco da Poesia repercute na Espanha

Pouco a pouco, vamos nos tornando conhecidos. O blog Asamblea de Palabras, editado pelo poeta Francisco Cenamor, publicou uma nota na coluna em que analisa os sites mais destacados.

Banco da Poesia es un blog que aún tiene poco recorrido pero cuyo objetivo comienza a ser visible en sus entradas: dar a conocer poetas en lengua portuguesa y española y servir de encuentro entre ambas culturas poéticas. Desde luego, un encomiable esfuerzo. Poco a poco va creando también su índice de categorías, lo que será de mucha ayuda a quienes se internen en esta interesante página. Es de agradecer que entre los primeros poetas elegidos para esta colección de poesía hayan incluido a nuestro editor.”