Charles Baudelaire e Édouard Manet foram contemporâneos e amigos. O poeta foi um dos grandes defensores do pintor, considerado mesmo seu protetor. Em um texto de 1862, disse que suas obras reuniam “a um gosto firme pela realidade, a realidade moderna – o que já é um bom sintoma –, essa imaginação viva e ampla, sensível, audaciosa, sem a qual, é preciso dizer claramente, as melhores faculdades são apenas escravos sem mestre, servidores sem governo”.
Em um de seus quadros, La Musique aux Tuileries, Manet retratou pessoas conhecidas, inclusive ele mesmo, seu irmão e Charles Baudelaire.
Como estamos em pleno Outono, vamos homenagear a estação com um soneto de Baudelaire e uma pintura de Manet, ambas obras com o mesmo tema.
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Sonnet d’Automne
Ils me disente, tes yeux, clairs comme le cristal:
“Pour toi, bizarre amant, quel est don me mérite?”
– Sois charmante et tais-toi! Mon couer, que tout irrite,
Excepté la candeur de l’antique animal,
Ne veut pas te montrer son secret infernal.
Berceuse dont la main aus longs sommeils m’invite,
Ni sa noire légende avec la flamme écrite.
Je hais la passion et l’esprit me fai mal!
Aimons-nous doucement. L’Amour dans sa guérite,
Tenebreux, embusqué, bande son arc fatal.
Je connais les engins de son viel arsenal:
Crime, horreur est folie! – Ô pâle marguerite!
Comme moi n’est-tu pas un soleil automnal,
Ô ma si blanche, ô ma si froide Marguerite?
Soneto de Outono
Teus olhos me dizem, claros como cristal:
“Para ti, bizarro amante, que mérito me habita?”
– Sê encantadora e cala-te! Meu coração, que tudo irrita,
Exceto o candor do antigo animal,
Não quer mostrar-te seu segredo infernal,
Acalanto em que mão de longos sonhos me invita,
Nem sua negra legenda com a chama escrita.
Odeio a paixão e o espírito me faz mal!
Amemo-nos docemente. O Amor em sua guarita,
tenebroso, emboscado, estende o arco fatal,
Conheço as armas de seu velho arsenal:
Crime, horror e loucura! Ó, pálida margarida!
Como eu não eres um sol outonal,
Ó, minha tão branca e tão fria Margarida?
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Notas
Fotos de Baudelaire e Manet – por Félix Nadar (mais conhecido simplesmente por Nadar), pseudônimo de Gaspard-Félix Tournachon (Paris, 1820 – 1910), fotógrafo, caricaturista e jornalista francês. Pintura de Édouard Manet OutonoÓleo sobre tela, 1882
73 x 51 cm
Museu de Belas Artes, Nancy Soneto de Outono Versão em Português por Cleto de Assis
Um poeta e um pintor. Que binômio invejável para dar a luz a uma amizade.
(Mas esta inveja nós não temos, não é amigo Cleto).
Que belíssima matéria. Como disse o poeta grego Simónides de Ceos: “A poesia é uma pintura que fala”.
Teu site está crescendo muito rápido. Como um menino prodígio. Como já comentei: não vai sobrar pra mais ninguém.
Não exagere, Manoel. Quantos mais sites (bons) de poesia, melhor para a arte.
c.